Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
30/04/2010 | 01/01/1970 | 3 / 5 | 2 / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por Jon Favreau. Com: Robert Downey Jr., Mickey Rourke, Sam Rockwell, Gwyneth Paltrow, Scarlett Johansson, Don Cheadle, Garry Shandling, Jon Favreau, Samuel L. Jackson, Clark Gregg, John Slattery, Kate Mara e voz de Paul Bettany.
Tony Stark é um personagem curioso: ao contrário do sombrio Bruce Wayne, que se faz passar por playboy fútil e arrogante a fim de se distanciar de Batman, o bilionário no interior da armadura de Homem de Ferro é, de fato, um sujeito profundamente apaixonado por si mesmo e que mal consegue ocultar o prazer que sente por ser tão idolatrado por seus fãs. Aliás, foi justamente esta leveza de Stark que transformou o filme original em uma experiência tão divertida, já que, diferente da solenidade presente em tantas produções atuais do gênero, Homem de Ferro conseguia transitar com eficiência entre a ação e o humor sem, com isso, descambar para o ridículo de obras como Superman 3 ou Batman & Robin, que se perderam irremediavelmente justamente ao flertarem com a comédia. Assim, é um pouco frustrante que o roteiro de Justin Theroux sinta a necessidade de tornar o protagonista um pouco mais atormentado nesta continuação, já que o filme realmente ganha vida quando o sujeito se entrega ao narcisismo, à irreverência e ao sarcasmo.
Iniciando imediatamente após o fim do primeiro, Homem de Ferro 2 traz, como vilão, o russo Ivan Vanko (Rourke), que decide punir Stark pela forma com que seu próprio pai foi tratado pelo pai do herói há várias décadas. Enquanto Vanko (que se transformará no Chicote Negro) desenvolve suas armas, o protagonista enfrenta seus próprios problemas: contaminado pelo paládio que usa no peito (“O mesmo elemento que está salvando sua vida está te matando”, o virtual Jarvis nos informa, num diálogo constrangedoramente expositivo), Stark precisa encontrar outro elemento químico que possa utilizar como “fonte de energia” ao mesmo tempo em que enfrenta a pressão do governo norte-americano para entregar sua armadura.
Basicamente uma criança crescida (ao ver a atraente personagem de Johansson, ele diz: “Quero uma!”), Tony Stark é vivido por Robert Downey Jr. com um grau de excentricidade perfeito: germófobo – ou apenas levemente avesso ao toque humano? -, o sujeito parece se preocupar com a própria diversão acima de tudo, dando a clara impressão de que ser um “super-herói” é algo que faz apenas por apreciar o status decorrente da atividade. Assim, é interessante que um de seus antagonistas aqui seja retratado com similar grau de infantilidade por Sam Rockwell, que surge chupando pirulitos de morango, exibindo imensos guardanapos pendurados no pescoço e se comportando como uma criança mimada ao ser contrariado (Rockwell também poderia ter se revelado um excelente Tony Stark). Por outro lado, Gwyneth Paltrow pouco pode fazer a não ser se comportar como uma adulta/babá, ao passo que Scarlett Johansson, belíssima, ao menos ganha a oportunidade de executar algumas coreografias de luta divertidas.
Enquanto isso, a continuação promove uma inexplicável troca de atores ao trazer Don Cheadle no papel que antes pertenceu ao bom Terrence Howard – uma mudança que o diretor Jon Favreau reconhece ao introduzir o personagem num plano que o acompanha pelas costas por um bom tempo até revelar seu rosto. Talvez se sentindo limitado e/ou constrangido por assumir uma figura originalmente interpretada por um colega (eles atuaram em Crash, vale lembrar), Cheadle se mostra pouco à vontade em cena, jamais conseguindo trazer vida ou energia ao papel e transformando-o em pouco mais do que um coadjuvante de luxo. Em contrapartida, Mickey Rourke, recém-saído do sucesso de O Lutador, devora todas as suas cenas ao encarnar um personagem absurdo que já surge no filme soltando um grito animal enquanto revela uma boca repleta de metais – e é uma pena, portanto, que sua despedida do filme seja tão decepcionante. Fechando o elenco, o divertido Garry Shandling explora ao máximo a faceta cômica de seu antipático senador enquanto Stan Lee surge em sua já tradicional ponta encarnando, desta vez, o entrevistador Larry King (uma sacada inspirada do filme, diga-se de passagem).
Mas é o diretor Jon Favreau (que, bom comediante, também se mostra engraçado como o guarda-costas de Stark) quem realmente merece destaque em Homem de Ferro 2, já que prova inquestionavelmente seu talento no comando de longas de ação. Imprimindo energia a seqüências como aquela em Mônaco, quando vemos o primeiro confronto entre Chicote Negro e Homem de Ferro, o cineasta demonstra bom senso ao usar a câmera lenta com parcimônia, apenas para criar um máximo efeito em momentos-chave, ao mesmo tempo em que confere um bem-vindo senso de humor à narrativa. Além disso, Favreau exibe um bom olhar ao compor vários quadros elegantes, como, por exemplo, aquele em que o herói se encontra caído em meio a uma sala destruída e banhada de reflexos azuis. Ainda assim, o fato de ter que se limitar a uma censura leve imposta pelo estúdio acaba comprometendo a eficácia da narrativa, já que, por mais explosões e tiroteios que surjam ao longo da projeção, ninguém jamais parece se machucar de fato, o que diminui a sensação de tensão que os planos dos vilões deveriam provocar.
Aliás, se Homem de Ferro 2 acaba se mostrando inferior ao original, isso se deve também ao roteiro mediano de Theroux, que, mais preocupado em incluir referências ao universo Marvel (como o escudo do Capitão América) do que em contar uma boa história, acaba criando uma trama frouxa que se estende bem mais do que deveria – e que, além disso, contém besteiras como o fato do protagonista constantemente checar o nível crescente de toxina no sangue (aparentemente, ele só morrerá ao atingir 100%, já que 53% de toxinas – como vemos em certo instante – é algo que nosso organismo obviamente consegue absorver sem qualquer problema). Da mesma maneira, não deixa de ser tolo que, embora usando armaduras indestrutíveis e repletas de armas, mocinhos e vilões constantemente tentem resolver suas questões na base do soco – algo tão ilógico quanto duas fogueiras tentando se apagar através do toque.
Ainda assim, esta continuação é suficientemente divertida para manter viva a promessa de uma franquia eficiente. E desde que os realizadores não cometam o mesmo erro de Sam Raimi e Joel Schumacher, lotando a parte 3 de vilões e subtramas dispensáveis, é apenas justo supor que Tony Stark ainda renderá bons momentos nas telonas – desde que, claro, ele volte a se divertir tanto quanto os espectadores e deixe a filosofia emo para seu colega de Gotham City.
Observação: Há uma cena adicional após os créditos finais.
01 de Maio de 2010
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