Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
07/11/2008 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
106 minuto(s) |
Dirigido por Marc Forster. Com: Daniel Craig, Mathieu Amalric, Olga Kurylenko, Judi Dench, Giancarlo Giannini, Gemma Arterton, Jeffrey Wright, David Harbour, Jesper Christensen, Joaquín Cosio.
Um dos melhores exemplares da série protagonizada pelo espião britânico James Bond, Cassino Royale surpreendeu os fãs ao adotar uma abordagem mais realista e adulta, abandonando o ar fantasioso e artificial dos dois últimos filmes estrelados por Pierce Brosnan a fim de se adequar à evolução do gênero representada pelas aventuras de Jason Bourne. A boa notícia é que 007 – Quantum of Solace mantém os aspectos mais brutais do caráter deste novo Bond, que permanece um sujeito instável e violento; a má é que, ambientado em seis países, ele segue a tradição estabelecida por 007- Contra o Foguete da Morte ao apresentar um roteiro que tem muitas locações para pouca história.
Com uma das seqüências pré-créditos mais fracas de toda a série, Quantum of Solace é uma continuação direta da trama de Cassino Royale, retomando a dor de 007 pela perda de Vésper Lynd e seus esforços para vingar a morte da garota. Depois de capturar o Mr. White (Christensen) visto no capítulo anterior, o herói é surpreendido pela revelação da existência de uma organização que, de tão poderosa, jamais foi detectada pela CIA ou pelo MI6 embora tivesse agentes infiltrados em ambas. Denominada “Quantum” (ou seria “Q.U.A.N.T.U.M.”? Esperemos pelo próximo filme...), a organização agora pretende promover um golpe de Estado na Bolívia, levando um ex-ditador de volta ao poder em troca de um grande trecho do deserto do país.
Substituindo Martin Campbell na direção, o diretor alemão Marc Forster se revela uma escolha inadequada para o projeto: responsável por obras tão diferentes entre si quanto A Última Ceia, Em Busca da Terra do Nunca, A Passagem, Mais Estranho que a Ficção e O Caçador de Pipas, Forster até poderia surpreender no gênero espionagem, mas, infelizmente, sua compreensão sobre cenas de ação parece ser mínima, já que ele cria seqüências confusas que, investindo em cortes rápidos, closes, planos-detalhe, saltos no eixo e intensos movimentos de câmera, impedem que o espectador compreenda melhor o que está ocorrendo na tela – como fica claro na perseguição pré-créditos e naquela envolvendo barcos (e parte da responsabilidade cabe, é claro, ao diretor de segunda unidade Dan Bradley, que parece ter esquecido tudo o que aprendeu nos dois últimos filmes da trilogia Bourne). Por outro lado, as cenas que trazem confrontos físicos e perseguições a pé se apresentam bem mais eficazes, indicando, talvez, que Forster se sente mais à vontade quando tem menos elementos que possam distraí-lo na concepção da ação.
E se a montagem paralela envolvendo um tiroteio e a apresentação da ópera Tosca fracassa em sua ambição, Quantum of Solace ao menos é beneficiado pela bela fotografia de Roberto Schaefer, colaborador habitual do diretor e que não só explora bem as locações como confere uma atmosfera elegante ao filme sem, com isso, sacrificar o realismo e a brutalidade da narrativa. Da mesma forma, a suntuosidade da sede do MI6 presente nos longas antigos da série é substituída de vez por um ar de asséptico profissionalismo, descartando os carpetes, os acabamentos de madeira e os quadros e adotando corredores amplos, painéis de vidro e o onipresente branco – o que combina com a alta tecnologia do órgão de espionagem e suas telas de computador gigantescas e as mesas com touch-screen. E até mesmo as diferentes fontes usadas nos letreiros que identificam as locações servem como um toque de sofisticação neste sentido.
Enquanto isso, a reputação internacional em queda dos Estados Unidos (obra de Bushinho e sua corja) continua a se fazer presente numa subtrama que envolve os interesses econômicos da superpotência na América Latina, o que a leva a apoiar o golpe de Estado promovido pela Quantum – não que isto seja uma prática inédita dos norte-americanos, claro. Igualmente revelador é perceber que a S.P.E.C.T.R.E., organização criminosa apresentada no início da série e que lidava com espionagem e terrorismo, agora é substituída por outra com propósitos puramente comerciais, já que as grandes corporações vêm se estabelecendo, como já apontei em várias críticas, como os vilões favoritos do Cinema contemporâneo.
Mais uma vez eficaz como James Bond, o ator Daniel Craig continua a retratar com talento a evolução do herói que, movido pela raiva, muitas vezes age impulsivamente, chegando a matar várias possíveis fontes de informação. Pragmático e frio, 007 não hesita em abandonar o corpo de um colega numa caçamba de lixo (embora claramente lamente sua morte) e nem perde tempo com disfarces inúteis, como ao optar por um hotel de luxo e indicar, para sua inexperiente companheira, a futilidade da fachada inocente que ela tentara adotar. Sempre agindo com extrema agilidade mental e física, Bond é também um homem cruel – e a frieza de seu olhar indica o pouco valor que dá às vidas de seus oponentes. Em contrapartida, a “M” de Judi Dench vem sendo cada vez mais humanizada pela série, que mais uma vez inclui uma cena em sua residência e que aqui é vista se preparando para o banho e passando creme no rosto (além disso, ela tem que prestar contas ao seu superior, o que é relativamente raro – mas não inédito – na franquia). E se Olga Kurylenko surge como uma bondgirl relativamente desinteressante mesmo com seus traumas do passado, a jovem Gemma Arterton se sai bem melhor com seu pouco tempo de tela ao remeter às bondgirls clássicas (especialmente – e por motivos óbvios – à inesquecível Jill Masterson de 007 Contra Goldfinger). Finalmente, o talentoso Mathieu Amalric (O Escafandro e a Borboleta) faz o que pode com o fraco vilão criado pelos roteiristas Robert Wade, Neal Purvis e Paul Haggis, mas dificilmente entrará para a galeria dos mais memoráveis da série.
Prejudicado pela forma expositiva e patética com que tenta retratar o sofrimento de Bond pela morte de Vésper (“Perdoe você mesmo”; “Sua prisão é sua mente”, etc), Quantum of Solace decepciona também ao amarrar suas pontas soltas através de um diálogo artificial de “M” nos momentos finais, quando Judi Dench recebe a tarefa ingrata de relatar a Bond (e ao espectador) o que aconteceu com vários personagens. Com isso, o filme fica vários degraus abaixo de seu antecessor, embora seja um esforço bem mais satisfatório do que aqueles estrelados por Pierce Brosnan. Esperemos apenas que a próxima aventura de 007 possa contar com um roteiro mais elaborado e complexo.
Observação: Transferir a “assinatura” da série (o tiro em direção à câmera) para o final é uma tentativa boba de inovar, já que não faz diferença alguma.
Observação 2: A recepcionista do hotel localizado no meio do deserto, no terceiro ato do filme, é vivida por Oona Chaplin, neta de Charles e que estreou no Cinema em 2008.