Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
22/12/2006 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
138 minuto(s) |
Nancy Meyers é uma diretora medíocre e uma escritora sem talento. Assim, não é surpresa alguma que, ao tentar criar um personagem que é justamente um roteirista premiado, ela obrigue o sujeito a dizer que gostou de um diálogo patético (“Quero um pouco de baranguice na minha vida.”), a advogar o uso de convenções como o “Meet Cute” (primeiros encontros engraçadinhos) e a defender simplificações como “há apenas dois tipos de mulheres”. É o mesmo que um cantor desafinado ser escalado para interpretar Elvis Presley no Cinema: sua aparência pode até ser convincente, mas a magia será destruída assim que ele abrir a boca.
Contando com um elenco de grandes nomes, O Amor Não Tira Férias traz Cameron Diaz como Amanda, dona de uma produtora de trailers que, apesar de rica e bem-sucedida, é emocionalmente constipada (literalmente, já que ela não consegue chorar). Enquanto isso, Kate Winslet encarna Íris, colunista social de um jornal londrino que mantém um romance frustrado com o escritor Jasper (Sewell), que anuncia seu casamento com outra mulher poucos minutos depois de receber de Íris um belo presente: a primeira edição de um livro qualquer (presente-clichê de filmes do gênero). Deprimidas, Amanda e Íris se conhecem através de um site que promove a troca de casas entre pessoas interessadas em viajar e, assim, a primeira se acomoda no pequeno chalé da britânica enquanto esta se refestela na mansão da outra. Em pouco tempo, Amanda já está aos beijos com Graham (Law), irmão de Íris, ao passo que a inglesa se vê às voltas com o compositor Miles (Black).
Depois de comandar os fracos Do Que as Mulheres Gostam e Alguém Tem Que Ceder, Nancy Meyers procura solidificar sua posição como diretora de “filmes para mulheres” com mais uma produção água-com-açúcar que deveria ser encarada como verdadeira afronta pelo público feminino, cujos interesses e predileções são tratados de maneira reducionista e caricatural: de acordo com a cineasta, todas as mulheres são poços de frustrações e neuroses, precisando desesperadamente de algum homem que possa torná-las novamente “equilibradas” – uma tese, vale lembrar, que ela já havia defendido em seus trabalhos anteriores. Incapaz de criar personagens complexos, Meyers estabelece cada figura de O Amor Não Tira Férias através de uma ou duas características predominantes, como a incapacidade de chorar de Amanda e a submissão de Íris. Além disso, a diretora-roteirista não consegue sequer manter a coerência interna de sua narrativa, empregando uma narração em off na introdução do filme (algo idiota sobre como “tudo o que já foi escrito sobre o amor” ser verdadeiro) que é solenemente ignorada no restante da projeção.
O mais irônico é que, incapaz de reconhecer a própria falta de talento, Meyers decide criticar o Cinema contemporâneo (algo que não exige muita coragem) e homenagear os clássicos – mas a lista de filmes citados pela cineasta parece indicar um conhecimento apenas básico da História da Sétima Arte, já que ela se limita aos títulos mais óbvios (o único que surpreende por ser um pouco menos conhecido é As Três Máscaras de Eva, que, diga-se de passagem, é totalmente inadequado ao contexto em que é utilizado, já que, além de medíocre, traz uma personagem feminina inegavelmente fragilizada – o oposto da descrição feita pelo roteirista vivido por Eli Wallach. Isto me leva a acreditar que ou Nancy Meyers não viu o filme ou não o compreendeu.). Aliás, ao utilizar o compositor Miles para homenagear grandes trilhas do passado, a diretora também se atém ao básico dos básicos – e a cena só funciona graças ao carisma e à energia de Jack Black (o roteiro aproveita este momento para fazer uma piada interna boba ao elogiar a trilha de Conduzindo Miss Daisy, composta por Hans Zimmer, responsável também pela música de O Amor Não Tira Férias).
(Parênteses para apontar que Nancy Meyers tampouco parece compreender a indústria responsável pela produção de trailers: em primeiro lugar, ela demonstra desconhecer a diferença entre um trailer e um spot para TV. Quando vemos a peça criada para divulgar um filme “estrelado” por Lindsay Lohan e James Franco, descobrimos que o tal longa será lançado “no Natal”, que ocorrerá dali a duas semanas – e o trailer de uma superprodução jamais seria produzido tão em cima da hora. Além disso, uma produtora tão requisitada como a de Amanda não funcionaria com apenas três funcionários; e ela tampouco teria a palavra final com relação à aprovação de uma peça – algo que caberia a um executivo de alto escalão ligado ao filme em questão ou ao próprio diretor, dependendo de seu grau de influência. Finalmente, ao dizer que o fim de ano é a época mais conturbada em seu ramo de trabalho, a moça comete o pior dos erros, já que os maiores lançamentos são reservados ao verão norte-americano (maio a julho), o que implicaria em uma época de “fechamento” em fevereiro ou março. São detalhes que certamente não incomodarão a maior parte dos espectadores de O Amor Não Tira Férias, mas que servem para ilustrar a preguiça da roteirista.)
Mas é como diretora que Meyers compromete seu filme de vez: demonstrando insegurança já ao definir o tom da narrativa, ela oscila descontroladamente entre a comédia, a sátira, o drama e até mesmo a fábula. Em certo momento, a cineasta tenta reproduzir a graça histérica do choro de Diane Keaton
Como se não bastassem todos estes problemas, o longa também é prejudicado por se concentrar principalmente na personagem de Cameron Diaz – e, em um elenco de primeiro escalão, esta indubitavelmente representa o elo fraco da corrente. Obcecada em fazer rir, Diaz compõe um tipo, não uma personagem: Amanda está sempre falando sozinha, comenta tudo o que faz (vê-la navegar na Internet é um martírio; cada clique gera uma observação em voz alta) e não hesita em pontuar cada diálogo com uma caretinha engraçadinha. Este comportamento, aliás, serve para diferenciar uma atriz de uma “estrela”: enquanto Diaz se encaixa nesta última categoria, Kate Winslet transforma Íris em uma mulher infinitamente mais real graças à sua caracterização sóbria. Quando Amanda dá um pulo, está tentando fazer rir; quando Íris faz o mesmo, está manifestando a própria alegria. Já o elenco masculino, ainda mais limitado pelo roteiro, tem poucas chances de brilhar: Jude Law exibe charme, mas seu personagem é retratado como um indivíduo praticamente sem falhas e é, portanto, absurdo; Jack Black se sai melhor justamente quando pode ser... Jack Black; e o veterano Eli Wallach consegue comover com sua fragilidade física, sendo prontamente descartado quando seu personagem cumpre a função de provocar lágrimas.
O Amor Não Tira Férias não é o pior dos filmes, mas está longe de ser satisfatório. Seu esforço para alcançar o equilíbrio entre comédia e drama tão bem ilustrado pelo excepcional Simplesmente Amor é visível, mas é preciso algo mais do que suor para se ter sucesso em uma tarefa tão difícil: é necessário ter talento. E isso é algo que Nancy Meyers jamais demonstrou possuir.
21 de Dezembro de 2006
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