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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
16/03/2007 01/01/1970 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
96 minuto(s)

Direção

Woody Allen

Elenco

Scarlett Johansson , Woody Allen , Hugh Jackman , Ian McShane , Romola Garai , Julian Glover , Charles Dance

Roteiro

Woody Allen

Produção

Letty Aronson

Fotografia

Remi Adefarasin

Montagem

Alisa Lepselter

Design de Produção

Maria Djurkovic

Figurino

Jill Taylor

Direção de Arte

Nick Palmer

Scoop - O Grande Furo
Scoop

Dirigido por Woody Allen. Com: Scarlett Johansson, Hugh Jackman, Woody Allen, Ian McShane, Romola Garai, Julian Glover, Charles Dance.

Mesmo quando não protagoniza os projetos que dirige, Woody Allen geralmente é hábil ao transformar seus atores em claras versões de si mesmo – e, até hoje, ninguém conseguiu superar John Cusack e Kenneth Branagh na perfeição com que estes assumiram os trejeitos e o ritmo da fala do cineasta (o primeiro, no excelente Tiros na Broadway; o segundo, no fraquíssimo Celebridades). Infelizmente, em Scoop – O Grande Furo, Allen fracassa terrivelmente ao tentar uma nova versão de um velho truque: criar um alter-ego feminino. Scarlett Johansson até se esforça, mas, como Woody Allen de saias, ela é um embaraço completo.

Desta vez, o diretor-roteirista conta a história de Sondra Pransky (Johansson), uma insegura estudante de jornalismo que, em visita a Londres, vai assistir ao espetáculo do mágico Splendini (Allen) e é convidada a subir no palco para ajudá-lo em um truque de desaparecimento. Dentro da caixa, porém, ela encontra o fantasma do jornalista Joe Strombel (McShane), que, ao ser transportado pela Morte em um barco, foge a nado pelo rio que percorrem (o Styx?) depois de conversar com uma colega defunta e descobrir que o perigoso “assassino do Tarô” talvez seja um rico aristocrata, Peter Lyman (Jackman). Sem querer perder o último furo jornalístico de sua vid... morte, ele passa a informação para Sondra, que decide se envolver com Peter para investigá-lo – sendo auxiliada na tarefa por um contrariado Splendini.

Embora descrita em resumo a trama pareça interessante, o roteiro de Allen falha ao não desenvolvê-la com o cuidado merecido: assim como apontei em meu texto sobre Igual a Tudo na Vida, o cineasta vem demonstrando uma tendência preocupante de rodar seus filmes antes que estes estejam prontos para isto, ainda que, vez por outra, ele acabe criando uma obra-prima como Match Point (o que, nos últimos anos, vem sendo a exceção, não a regra). Aqui, Allen parece simplesmente combinar as tramas do péssimo O Escorpião de Jade e do divertidíssimo Um Misterioso Assassinato em Manhattan, criando um roteiro frágil que, além de depender excessivamente de coincidências para funcionar (uma preguiça nada típica do diretor), ainda exibe falhas flagrantes de construção: em certo instante, por exemplo, Splendini diz que o fantasma de Strombel lhe passou a senha de um cofre, mas, na cena em que a informação é transmitida, o jornalista apenas transmite os números, sem jamais explicitar o propósito destes. Já em outro momento, o mágico é convidado a participar de um jogo de pôquer e, depois de mostrar seu talento para a prestidigitação, desperta a preocupação de seus anfitriões, que perguntam se podem confiar nele – e quando esperávamos uma tirada (verbal ou visual) que arrematasse a piada, a cena simplesmente chega ao fim de maneira brusca e frustrante.

É fácil acreditar que, caso Scoop se concentrasse no espírito de Joe Strombel, os resultados talvez fossem melhores, já que os minutos iniciais do filme, que se dedicam exclusivamente ao personagem, são os mais eficazes da projeção. Em vez disso, Allen cria uma desculpa pouco convincente para manter o mágico Splendini na trama, já que, na realidade, não haveria a menor necessidade de que este acompanhasse Sondra em suas investigações – e se no passado a persona cinematográfica de Woody Allen garantiu boas risadas (até mesmo em sua última aparição diante das câmeras, em Igual a Tudo na Vida), desta vez ele transforma seu personagem em um indivíduo insuportavelmente chato. É claro que, aqui e ali, o diretor solta algumas tiradas inspiradas (“Ela tem um problema de promiscuidade” e “Fui criado na religião hebraica, mas me converti ao narcisismo” são dois exemplos que me vêm à mente), mas, de modo geral, Splendini apenas irrita com sua tagarelice.

Aliás, ele não está sozinho em sua (não-intencional) tarefa de levar o público à loucura com sua chatice: a dinâmica que Allen tenta estabelecer com Scarlett Johansson é igualmente aborrecida, já que a atriz, longe de possuir o timing cômico e a naturalidade das antigas parceiras de tela do cineasta (especialmente Diane Keaton e Mia Farrow), surge pavorosamente ruim como Sondra – especialmente ao tentar imitar Woody Allen com sua gesticulação, seu discurso atrapalhado e repleto de hesitações e sua insegurança. É claro que esta foi uma orientação do diretor, que concebeu a personagem como uma judia neurótica e de óculos obviamente inspirada nele próprio, mas Johansson deveria ter demonstrado bom senso e reconhecido sua inadequação para o papel (é embaraçoso vê-la tentando arrancar risadas com falas como “Minhas vias nasais se tornam congestionadas quando fico triste” – uma piadinha que, mesmo fraca, Keaton e Farrow tirariam de letra).

Como se não bastasse, Scoop ainda oferece munição para aqueles que sempre se mostraram interessados em atacar o cineasta por seu envolvimento com a enteada, já que, em certo momento, Splendini diz, em tom de brincadeira, ser o pai adotivo de Sondra – e a fascinação de Allen por Johansson é óbvia, como podemos constatar por sua tentativa de transformá-la em sua nova “musa” (mas quem pode culpá-lo por isso?). Porém, moralismos idiotas à parte, Scoop – O Grande Furo é mais uma grande decepção no currículo de um diretor que ainda pode se orgulhar de sua capacidade de criar obras admiráveis. Sempre há a possibilidade de que o próximo trabalho de Woody Allen seja um Match Point, um Desconstruindo Harry ou um Todos Dizem Eu Te Amo. O problema é que também há boas chances de que seja um novo Scoop.

13 de Março de 2007

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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