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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
20/02/2004 25/04/2003 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
97 minuto(s)

Confidence - O Golpe Perfeito
Confidence

Dirigido por James Foley. Com: Edward Burns, Paul Giamatti, Rachel Weisz, Andy Garcia, Robert Forster, Louis Lombardi, Brian Van Holt, Donal Logue, Luis Guzmán, Franky G, John Carroll Lynch, Leland Orser, Morris Chestnut e Dustin Hoffman.

Eu já disse isso antes, em outros artigos, e repito: não há nada melhor do que assistir a um filme habitado por personagens inteligentes. Aliás, isso talvez ajude a explicar o sucesso de boa parte dos longas protagonizados por golpistas profissionais, que dedicam suas vidas à arte de enganar quem cruza seus caminhos. Em alguns momentos, Confidence – O Golpe Perfeito parece ser mais um bom exemplar do gênero, mas, lamentavelmente, o roteirista Doug Jung acaba cometendo um erro fatal: aposta todas as suas fichas na elaboração de uma trama repleta de reviravoltas e se esquece de criar bons personagens. A conseqüência é que podemos até admirar a engenhosidade do tal `golpe perfeito`, mas não nos importamos muito com seus resultados.

Liderada pelo competente Jake Vig, a quadrilha vista em Confidence tem um modo particular de evitar que seus alvos procurem a polícia: depois que o golpe é dado, os trapaceiros simulam um confronto sangrento que assusta a vítima de tal forma que esta se preocupa mais em fugir do que em tentar compreender o que realmente aconteceu. No entanto, tudo se complica depois que os golpistas roubam uma fortuna que pertencia a um cruel gânsgter conhecido como King, que, como punição, mata um deles. Para evitar que todos sejam exterminados, Vig faz um acordo com King e se propõe a aplicar um golpe em uma pessoa escolhida por este – e o novo `alvo` é um poderoso banqueiro que tem ligações com a máfia.

King é, diga-se de passagem, a figura mais interessante de Confidence: interpretado pelo pequeno (1,66m) Dustin Hoffman, o vilão pode parecer inofensivo à primeira vista, mas o ator, dono de um talento inversamente proporcional à sua estatura, logo se encarrega de mostrar a falta de caráter do sujeito através de sua fala apressada e de seu sorriso nada amistoso. E mais: ao acrescentar uma sutil insinuação de bissexualidade ao personagem, Hoffman torna-o ainda mais fascinante, criando uma curiosa dinâmica entre King e Vig (que passa a se sentir ameaçado não apenas fisicamente, mas sexualmente). É uma pena, portanto, que King apareça tão pouco, já que suas cenas são as de maior energia no filme.

Já os `heróis` da história se mostram apagados, e, quando um deles é morto a mando do vilão (logo no primeiro ato), o espectador simplesmente não se importa com o ocorrido, já que não o conhecia de fato. Infelizmente, o mesmo se aplica aos demais integrantes da quadrilha, cujos destinos realmente não interessam a ninguém (inicialmente, eu iria citar Gordo, vivido por Paul Giamatti, como única exceção – até que percebi que minha simpatia não era devotada ao personagem, mas ao seu intérprete, por quem tenho grande admiração). Aliás, é triste perceber como o diretor James Foley, que demonstrou tanto talento em O Sucesso a Qualquer Preço (1992), não conseguiu manter aquele nível de qualidade, já que aqui desperdiça um elenco formidável, que inclui Luis Guzmán, Andy Garcia, Daniel Logue, Rachel Weisz e Robert Forster.

Porém, a maior decepção refere-se a Edward Burns, que transforma Vig em um protagonista absolutamente chato e sem carisma, sumindo diante de seus comparsas - que, como eu já disse, nem são tão interessantes assim. Demonstrando grande falta de tato ao hostilizar King logo em seu primeiro encontro, Vig não possui o menor senso de humor, limitando-se a criticar todos com quem divide a cena. Além disso, o ator não estabelece química alguma com Rachel Weisz, o que compromete a (dispensável) subtrama envolvendo o relacionamento dos dois personagens. Como se não bastasse, o roteiro ainda adiciona um traço supersticioso ao temperamento de Vig, como se isto fosse fazer alguma diferença no desenrolar da narrativa (não faz).

Apesar de tudo, Confidence possui alguns bons momentos, como ao ilustrar um curioso golpe aplicado em uma joalheria e ao enfocar a dinâmica dos trapaceiros durante um jantar no qual estão tentando enganar um desavisado executivo de banco. Esta última cena, aliás, resume com perfeição o tipo de interação que aqueles personagens deveriam apresentar, já que, teoricamente, formam um grupo `afiado`, onde cada integrante é capaz de antecipar as ações um do outro.

Já o `golpe perfeito` anunciado pelo título brasileiro representa outra imensa decepção, já que, em sua maior parte, resume-se a manobras envolvendo a burocracia de um banco ao liberar investimentos, o que não funciona muito bem em um filme como este. Além disso, várias das `reviravoltas` concebidas por Jung são percebidas com antecedência pelo público, o que também é bastante frustrante.

Em outras palavras: Confidence – O Golpe Perfeito pode até não representar um `golpe` no espectador que gastou um bom dinheiro com seu ingresso, mas também está longe de ser perfeito.
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5 de Janeiro de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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