Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
05/05/2002 | 10/09/2003 | 1 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
80 minuto(s) |
Dirigido por Isa Albuquerque. Com: Juan Alba, Camilo Beviláqua, Jonas Bloch, Ciça Guimarães, Walmor Chagas, Eliane Giardini, Fernanda Maiorano, Maria Lúcia Dahl, Joana Medeiros, Breno Moroni, Alice Borges.
Ao longo destes quase dez anos em que atuo profissionalmente como crítico, desenvolvi alguns hábitos que, apesar de me auxiliarem em meu trabalho, acabaram por me aprisionar: entre outras coisas, sempre faço anotações enquanto assisto a alguma produção sobre a qual irei escrever – e sinto-me pouco à vontade quando sou obrigado a redigir uma análise sem estes `lembretes`. Infelizmente, enquanto assistia a uma pré-estréia de Histórias do Olhar, dirigido por Isa Albuquerque, cheguei à conclusão de que o filme dificilmente seria lançado nos cinemas, já que, em minha opinião, ele simplesmente não tinha condições de ser apresentado ao público. Assim, fechei meu bloco de anotações e esperei pacientemente que a projeção chegasse ao fim, livrando-me daquele tormento.
Porém, eu estava enganado: Histórias do Olhar conseguiu um distribuidor e, com isso, será libertado de sua jaula e poderá atacar o espectador desavisado – o que me obriga a vencer minhas inibições sobre escrever sem poder consultar minhas anotações. Aliás, vou recorrer, também, ao que escrevi há cerca de 20 dias, na seção Conversa de Cinéfilo:
Qualquer pessoa que pretenda encarar o Cinema como algo mais do que um passatempo descartável, mas também como uma Arte a ser estudada e discutida, tem o dever de ler os trabalhos de Paulo Emílio Salles Gomes. Porém, mesmo quem nunca ouviu falar deste brilhante teórico provavelmente conhece uma de suas frases mais polêmicas: `O pior filme brasileiro é melhor do que o melhor filme estrangeiro`. É claro que Paulo Emílio não estava fazendo uma afirmação literal, mas sim um desabafo-defesa-propaganda do nosso Cinema, que merece ser mais conhecido (e, se não me engano, esta frase surgiu no auge do Cinema Novo, o que também oferece um contexto importante para sua lógica).
Pois bem: mesmo que não quisesse ser compreendido no sentido literal, creio que Paulo Emílio pensaria duas vezes antes de defender sua afirmação caso tivesse assistido a Histórias do Olhar – indubitavelmente, o pior filme brasileiro que assisti nos últimos anos. Dirigido com uma incompetência ímpar pela estreante Isa Albuquerque, o longa conta com um roteiro mal-estruturado, com péssimos diálogos e tramas ridículas. Exibindo claras pretensões de se equiparar aos textos de Nelson Rodrigues, Histórias do Olhar consegue apenas arrancar risadas involuntárias dos espectadores incrédulos com a péssima qualidade do que estão assistindo.
Escrito (e uso este termo por falta de palavra melhor) por Ana Lúcia Andrade, Isa Albuquerque e Duba Elia, o filme (e uso este termo por falta de palavra melhor) conta quatro histórias que giram em torno de sentimentos como inveja, medo e amor. A primeira (e pior) enfoca uma mulher que, depois de passar por uma mastectomia, passa a perturbar uma jovem garota. Já a segunda (e a pior) segue uma psicanalista que decide se vingar do homem que a humilhou no passado, enquanto o terceiro episódio (e o pior) acompanha o drama de uma jovem adolescente que é assediada sexualmente pelo namorado da mãe. Finalmente, a quarta (e - por que não dizer? – pior) história aborda a busca de um homem pela escultura que retrata as belas formas de uma antiga amante.
Para que se tenha uma idéia da falta de cuidado com que o roteiro foi escrito, durante o segmento que envolve uma antiga escultura, o personagem de Jonas Bloch (um artista plástico de renome) assume a autoria da obra, mas, durante os flashbacks, percebemos que o trabalho foi realizado por seu pai – e não se trata de `mentira` por parte do escultor, mas sim de um erro óbvio da narrativa (jamais há indícios de que ele seja uma fraude). Da mesma forma, a história envolvendo uma `Lolita` e seus pretendentes procura impressionar o espectador com seu clímax violento, mas consegue apenas se tornar ridículo, substituindo o choque pelo riso. Finalmente, vale observar uma das seqüências iniciais de Histórias do Olhar, na qual Albuquerque segue a personagem de Maria Lúcia Dahl no meio da rua, atraindo (acreditem ou não!) os olhares dos transeuntes – chegando até mesmo a assustar uma pobre senhora que é surpreendida pela câmera.
Sinceramente, é difícil compreender os motivos que levaram Jonas Bloch, Walmor Chagas e Eliane Giardini a aceitarem participar desta empreitada, mas uma coisa é certa: eles devem torcer para que o filme jamais seja lançado em vídeo e que as poucas cópias já existentes peguem fogo ou sejam apreendidas pela Vigilância Sanitária. Caso contrário, eles terão que se conformar com o fato de que, em algum lugar do mundo, há um registro de suas participações em um projeto absolutamente desastroso.
Honestamente, não acreditei que assistiria a um filme pior do que Debi e Lóide 2 em 2003. Infelizmente, eu estava errado.
10 de Setembro de 2003