Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
12/03/2004 | 12/12/2003 | 2 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
128 minuto(s) |
Dirigido por Nancy Meyers. Com: Jack Nicholson, Diane Keaton, Amanda Peet, Keanu Reeves, Jon Favreau, Rachel Ticotin e Frances McDormand.
A maior parte do público que freqüenta cinema com regularidade, nos Estados Unidos, é composta por jovens do sexo masculino. Portanto, é compreensível que, ao longo dos últimos 20 anos, os executivos de Hollywood tenham dedicado cada vez menos atenção aos projetos que, teoricamente, menos interessariam a este grupo; e se há um gênero que certamente não atrai os adolescentes é o `romance` – especialmente um que seja protagonizado por atores que tenham mais de 55 anos de idade. Infelizmente, esta decisão acaba prejudicando não apenas os três `quadrantes` restantes de público (jovens do sexo feminino e, particularmente, adultos do sexo masculino e adultos do sexo feminino), como também os atores veteranos, que passam a receber cada vez menos propostas de trabalho.
Assim, é reanimador assistir a um filme como Alguém Tem que Ceder, que aborda justamente o relacionamento entre duas pessoas de meia-idade: a escritora Erica Barry (Keaton) e o produtor musical Harry Sanborn (Nicholson). Harry, na verdade, considera-se um especialista em mulheres jovens, já que `vem saindo com elas há 40 anos` – e sua última conquista é a filha de Erica, Marin (Peet), com quem ele vai passar o fim-de-semana no litoral. No entanto, depois que sofre um infarto, ele é obrigado a passar alguns dias na casa ao lado da mãe de sua namorada, e logo os dois desenvolvem um inesperado interesse um pelo outro.
Apesar de forçar uma situação pouco verossímil a fim de unir os dois personagens, o roteiro escrito por Nancy Meyers consegue divertir o espectador ao satirizar alguns aspectos de um relacionamento entre duas pessoas mais velhas: Harry, por exemplo, é obrigado a medir a pressão antes do sexo, e Keaton não se preocupa com métodos anticoncepcionais por estar na menopausa (aparentemente, ela não se importa com doenças sexualmente transmissíveis). Com isso, Meyers comete exatamente o mesmo erro que eu já havia apontado em minha análise sobre seu trabalho anterior, Do Que as Mulheres Gostam, que, embora condenasse o chauvinismo de seu protagonista, acabava revelando-se igualmente machista: em Alguém Tem que Ceder, a cineasta tenta ilustrar que a paixão pode ocorrer em qualquer idade, mas não se furta de ridicularizar seus personagens.
Ainda assim, o filme arranca boas risadas graças à ótima química entre Diane Keaton e Jack Nicholson, que parecem estar se divertindo imensamente um com o outro. Nicholson, em particular, brinca com sua própria imagem de playboy de meia-idade e utiliza todos os seus tiques habituais, como as sobrancelhas arqueadas, o sorriso irônico e o jeitão de quem não liga a mínima para o que os demais estão pensando. Incapaz de compreender porque sua postura diante do sexo feminino é tão criticada, Harry mostra-se verdadeiramente confuso frente às carências de Erica – uma combinação de preocupação e descaso que Nicholson ilustra com maestria.
Mas a grande estrela de Alguém Tem que Ceder é mesmo Keaton, que participa pela quarta vez de um projeto roteirizado por Meyers: ainda mantendo a maior parte da beleza dos tempos de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e O Poderoso Chefão, a atriz explora os sentimentos contraditórios de Erica e consegue fazer rir até mesmo ao chorar convulsivamente. Já Frances McDormand é completamente desperdiçada pelo roteiro, o que é uma pena, já que, em suas poucas participações, estabelece uma ótima dinâmica em cena com Diane Keaton. Fechando o elenco, vem Keanu Reeves, cujo personagem é utilizado por Nancy Meyers como simples complicação para conferir maior conflito à trama, e que é descartado de uma forma irritante depois que cumpre sua função.
Aliás, Alguém Tem que Ceder só funciona realmente até cerca de metade da projeção: depois que Erica e Harry se envolvem, o filme abandona qualquer tentativa de fazer comédia e investe no romance água-com-açúcar (outro equívoco também observado em Do Que as Mulheres Gostam). Sem conseguir manter o ritmo, a produção soa mais longa do que deveria, cansando o espectador, que ainda é obrigado a testemunhar uma conclusão absolutamente imbecil para a história – o que chega a insultar.
Eu disse, anteriormente, que é reanimador assistir a um filme como Alguém Tem que Ceder. Infelizmente, isso não quer dizer que o longa é bom, pois não é. Mas esperemos que seu sucesso nas bilheterias abra as portas para novos projetos protagonizados por atores veteranos. Quem sabe o filme não se redime desta maneira?
6 de Janeiro de 2004
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