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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
16/07/2004 06/06/2004 1 / 5 1 / 5
Distribuidora
Duração do filme
80 minuto(s)

Garfield - O Filme
Garfield

Dirigido por Peter Hewitt. Com: Breckin Meyer, Jennifer Love Hewitt, Stephen Tobolowsky e as vozes de Bill Murray, Alan Cumming, Brad Garrett, Debra Messing, Debra Jo Rupp e Richard Kind.

Garfield é um gato preguiçoso, gordo, egoísta e cínico – adjetivos que, ao longo dos anos, levaram inúmeras pessoas a se apaixonarem por ele. Confesso que também sempre tive certa simpatia pelo bichano que odeia segundas-feiras e adora lasanha. (Talvez porque eu também seja assim.) O fato é que o personagem criado pelo cartunista Jim Davis tornou-se célebre por sua personalidade e por seu senso de humor recheado de cinismo. Assim, é incompreensível como os executivos da Fox podem ter acreditado que Garfield seria o protagonista ideal para um filme voltado para o público infantil.

Escrito por Joel Cohen e Alec Sokolow (responsáveis pelo horrendo Doze É Demais), o roteiro traz o gato alaranjado enfrentando o maior desafio de sua vida: a chegada de Odie, um cãozinho dócil que rouba as atenções de seu dono Jon. Sentindo-se relegado ao segundo plano, Garfield acaba provocando, acidentalmente, o sumiço de seu oponente – e, ao descobrir que Odie foi `seqüestrado` por um inescrupuloso apresentador de televisão, decide atravessar a cidade para salvá-lo.

Um momento. Recapitulemos: um personagem que sempre foi o favorito de seu dono passa a ter ciúmes de uma nova `aquisição` e, ao tentar prejudicá-la, provoca seu desaparecimento, o que leva seus próprios companheiros a recriminá-lo, obrigando-o a ir atrás do antigo inimigo para resgatá-lo? Estou sonhando ou esta é a mesma premissa de Toy Story? Bom, talvez seja uma coincidência, mas fica meio difícil acreditar nisto quando lembramos que Cohen e Sokolow foram justamente co-roteiristas daquele filme... Será que plagiar o próprio trabalho é menos anti-ético do que copiar a obra de uma outra pessoa?

Seja como for, a verdade é que a dupla transformou Garfield em um personagem aborrecido: apesar de falar o filme inteiro (e como fala!), o gato jamais diz algo de realmente inspirado, frustrando todos aqueles que se acostumaram com suas tiradas certeiras. E, ainda que Bill Murray consiga arrancar uma ou outra risadinha com sua dublagem, de modo geral acaba sendo vencido pela mediocridade do roteiro, que chega a incluir um número musical que parece existir apenas para que nos lembremos com saudades da cena em que o ator cantava More Than This em Encontros e Desencontros.

Enquanto isso, os humanos conseguem a proeza de se tornarem ainda mais chatos do que o protagonista: Breckin Meyer (na pior atuação de sua já medíocre carreira) e Jennifer Love Hewitt (com vestidos sempre curtos e justos, como de hábito) encenam uma historinha de amor ridícula, que não interessa a ninguém, ao passo que Stephen Tobolowsky assume o ingrato papel de vilão num filme que não precisava de um. Porém, o humano mais irritante da produção é o compositor Christophe Beck, que cria uma daquelas trilhas genéricas que fazem questão de ressaltar, para o espectador, tudo o que acontece na tela: aqui uma musiquinha engraçadinha, ali uma melodiazinha romântica, mais à frente um tema de `ação desenfreada`, e assim por diante. Tudo em um volume altíssimo que a torna ainda mais insuportável. (Caso algum dia eu venha a conhecer Beck, terei que resistir ao impulso de aplicar um `telefone sem fio` no sujeito, dando aqueles tapões nas orelhas que podem estourar os tímpanos da vítima. Se Beethoven compôs obras-primas já surdo, quem sabe não estarei prestando um favor ao rapaz?)

Por outro lado, o Garfield digital é tecnicamente irrepreensível, da concepção à realização. Ao mesmo tempo em que é idêntico aos traços originais das tiras, ele consegue surgir em cena ao lado de um gato verdadeiro sem parecer algo absurdo. Além disso, a animação é absolutamente impecável, dos movimentos corporais (vê-lo dançar é um dos poucos prazeres que o filme oferece) às expressões faciais – e sua interação com Odie é digna de aplausos (estou me referindo à combinação entre o digital e o real, e não à dinâmica narrativa entre os dois, que é péssima). Aliás, do ponto de vista técnico, o único problema da produção diz respeito aos momentos em que Garfield interage com os humanos, já que estes se encontram claramente desconfortáveis em atuar com o vazio.

Forçando uma cumplicidade do personagem-título com o espectador ao fazê-lo olhar diretamente para a câmera em várias ocasiões, o pavoroso diretor Peter Hewitt ainda impossibilita que mergulhemos na história, já que, neste caso, o recurso acaba distraindo em vez de ajudar. E é triste perceber que, em sua versão para a tela grande, o gato transformou-se em mero herói de uma aventura bobinha.

E esta é a maior evidência de que os realizadores não compreenderam a essência do material original - afinal, as tiras criadas por Davis giram em torno das atitudes de Garfield, e não de suas ações. É uma diferença sutil, mas fundamental para compreender o fracasso deste filme.
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16 de Julho de 2004

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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