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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
15/08/2003 21/07/2003 1 / 5 1 / 5
Distribuidora
Duração do filme
117 minuto(s)

Lara Croft Tomb Raider - A Origem da Vida
Lara Croft Tomb Raider: The Cradle of Life

Dirigido por Jan de Bont. Com: Angelina Jolie, Gerard Butler, Ciarán Hinds, Chris Barrie, Noah Taylor, Djimon Hounsou, Til Schweiger e Simon Yam.

Em certo momento de Lara Croft Tomb Raider - A Origem da Vida, alguém descreve o vilão, que se especializou em vender vírus e outras armas biológicas para terroristas de todo o mundo, como um `novo Dr. Mengele`. Como um sádico que fazia experiências em um campo de concentração pode ser comparado a um terrorista mercenário, eu não sei – e duvido que o filme possa esclarecer a questão. Aliás, em outra cena, um personagem recebe a proposta de ajudar a heroína Lara Croft em troca de ser libertado da prisão e de ter sua ficha criminal apagada – e, como resposta, dispara: `Não sei se isso faz de mim um Fausto ou o Diabo`. Novamente, me flagrei em confusão: a comparação foi, mais uma vez, tão absurda que, por alguns segundos, tentei me convencer de que não havia entendido o que fôra dito. Infelizmente, logo fui obrigado a constatar que as referências ao nazista e à obra de Göethe provavelmente foram adicionadas ao acaso pelo roteirista Dean Georgaris numa tentativa de deixar os diálogos mais `sofisticados` – quando, na verdade, ele provavelmente não tinha a menor idéia do que estava escrevendo.

Ah, mas os atentados à lógica, à História e ao bom senso não param por aí, pois a trama desta continuação gira em torno da busca pela caixa de Pandora, cujo paradeiro é descrito em um orbe (leia-se: globo) que Alexandre, o Grande, escondeu em um templo(!). Para evitar que o cruel Reiss encontre a caixa - que, aparentemente, encerra um vírus poderoso(!) -, Lara deve se unir a um antigo namorado, um sujeito pouco confiável.

Ao contrário das excelentes aventuras protagonizadas por Indiana Jones, A Origem da Vida não se preocupa em preservar as lendas que utiliza como base para sua história, alterando sem remorsos os fatos históricos e/ou mitológicos explorados. (Em certo momento, Croft afirma que o macedônio Alexandre era `grego`, o que certamente teria provocado arrepios em Indy). Além disso, a garota demonstra um descaso terrível para com as antigüidades que descobre, chegando, em certo instante, a destruir um templo que `rivalizaria com as pirâmides` apenas para matar alguns bandidos – num contraste esclarecedor com Indiana, que, em Caçadores da Arca Perdida, chegou a se deixar prender pelos nazistas para evitar destruir a Arca da Aliança.

Para piorar, o roteiro de Georgaris não consegue sequer manter a coerência com sua própria lógica distorcida: observe, por exemplo, a cena em que o chefe de uma tribo avisa Lara de que `ninguém que foi buscar a caixa voltou`. A pergunta é: quem poderia ter ido `buscar` o objeto, já que sua localização era descrita somente no tal orbe, que jamais havia saído do templo de Alexandre? E mais: como resposta, a `arqueóloga` diz: `Desculpe-me por perturbar seus deuses, mas é o que tenho que fazer`. Agora adivinhem qual é a reação daquele homem primitivo ao ouvir que seus `deuses` serão `perturbados`? Um suspiro resignado – e só! (Enquanto escrevo este parágrafo, mal posso conter o riso.)

Mas as falhas do roteiro não são apenas históricas: a própria estrutura narrativa do filme é terrivelmente concebida. Boa parte da projeção é desperdiçada em cenas que mostram Lara e Terry (o ex-namorado) voando em um planador (que é abandonado), correndo em motos (que são abandonadas) e percorrendo a planície africana em um jipe (que é abandonado). Aparentemente, Georgaris tenta passar a impressão de algo está realmente acontecendo, quando, em filmes melhores (como os protagonizados por Indiana Jones), o percurso seria simplesmente ilustrado através de uma linha em um mapa. Além disso, a tentativa de se estabelecer uma tensão sexual entre o casal principal é artificial e nada convincente.

Coroando a mediocridade da produção, vem o diretor Jan de Bont – possivelmente o pior cineasta revelado por Hollywood na última década (entre seus atentados à 7ª Arte estão Twister, Velocidade Máxima 2 e A Casa Amaldiçoada). Incapaz de comandar as mais básicas seqüências de ação, de Bont elimina qualquer traço de tensão que o filme pudesse apresentar, falhando até mesmo na utilização de câmeras lentas, que, ao invés de realçarem a ação (especialidade de John Woo), tiram o impacto das proezas dos heróis. E se as locações são bem escolhidas, apenas em uma ocasião sentimos que o longa consegue explorar as belezas naturais dos cenários: na tomada aérea que mostra um elevador subindo na fachada de um edifício enquanto vemos o horizonte de Hong Kong – e, ainda assim, sou capaz de apostar que a tomada foi feita pelo diretor de segunda unidade, e não por de Bont.

E, por falar em `belezas naturais`, Angelina Jolie está maravilhosa em Lara Croft 2 – pena que eu esteja me referindo apenas aos seus atributos físicos, já que a atriz parece estar no piloto automático, interpretando a heroína de forma cansada e pouco inspirada. Aliás, o grande problema de Jolie é que, ao contrário dos `caçadores de relíquias` vividos por Harrison Ford (Indiana Jones), Richard Chamberlain (Allan Quatermain) e até mesmo Brendan Fraser (Rick O’Connell), Lara Croft não parece sequer gostar do que faz, como se a busca por antigüidades fosse uma mera desculpa para se meter em confusões. Da mesma forma, Gerard Butler repete a fraca performance de Drácula 2000 e não provoca a menor impressão no espectador. Para finalizar, o ótimo Djimon Hounsou aparece pela enésima vez como um sujeito primitivo que serve de guia/ajudante para os heróis (vide Gladiador e As Quatro Plumas), desperdiçando o talento inicialmente revelado em Amistad.

Trazendo, ainda, um tubarão capaz de emitir gritos (!) e que acaba servindo de saco-de-pancadas para Croft, A Origem da Vida alcança o fundo do poço em uma cena que, supostamente dramática, é recebida pelo espectador com frieza absoluta, já que ninguém se importa, de fato, com aqueles personagens pessimamente desenvolvidos. Em uma entrevista para divulgar o filme, Angelina Jolie reclamou que o contorno de seus mamilos haviam sido apagados dos cartazes de divulgação da produção. Da próxima vez, espero que ela se preocupe menos com seus mamilos e mais com o roteiro.
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14 de Agosto de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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