Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
17/07/2001 | 01/01/1970 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
104 minuto(s) |
Dirigido por James Mangold. Com: Sylvester Stallone, Harvey Keitel, Ray Liotta, Michael Rapaport, Annabella Sciorra, Janeane Garofalo, Robert Patrick e Robert De Niro.
Sylvester Stallone descobriu que já é hora de expandir seus horizontes. Numa atitude inteligente, decidiu dar um passo em direção a uma nova imagem. E foi um bom passo. Em Cop Land, Stallone faz, depois de muitos anos, um personagem diferente de Stallone.
Neste filme, ele interpreta (sim, usei a palavra certa - interpreta) o xerife Freddy Heflin, um homem que ficou surdo de um ouvido há muitos anos atrás, quando pulou em um lago para salvar uma garota (Sciorra) que havia caído de uma ponte, dentro de um carro. Sua surdez tornou impossível que ele realizasse um antigo sonho: tornar-se policial em Nova York. O máximo que conseguiu foi tornar-se xerife de uma cidadezinha insípida que fica ao lado da grande metrópole. E, para completar seu infortúnio, a garota que salvou - e por quem se apaixonou - se casou com outro homem, um policial.
A cidade da qual Freddy é o xerife é, na verdade, uma `terra de tiras` (a Cop Land do título original): a maioria absoluta de seus habitantes trabalha na polícia de Nova York, voltando para suas casas ao final do dia. É quando um escândalo estoura sobre as cabeças de um dos `fundadores` da cidade, Ray Donlan (Keitel), colocando Freddy numa posição delicada: deve se manter em sua neutralidade frustrante, ou deve ser um policial `de verdade`, tentando esclarecer a verdade por trás dos fatos?
Stallone tem um de seus melhores momentos, desde Rocky, neste filme. Seu policial é um homem semi-surdo, gordo, cansado, humilhado. Não é nada fácil querer impor a lei em uma cidade de policiais. Ninguém o leva a sério. Sua vida se resume a beber, jogar fliperama e perseguir os estranhos que andam acima da velocidade nos limites do município. Sua apatia chega a incomodar: em alguns momentos cheguei a ter vontade de entrar no filme e lhe aplicar alguns tapas, para ver se ele fazia alguma coisa.
Freddy aspira a algo que ele já nem sabe mais o que é. Assim, ele se limita a ficar admirando Nova York, que fica do outro lado do rio, mas sem saber o que realmente quer. Sempre que ele tenta fazer algo de mais decisivo, alguém surge e o faz lembrar da fragilidade de sua posição. `Você é um garoto, e seus planos são infantis. Vá para casa.`, lhe diz Donlan, em certo momento. E ele vai.
Outro bom momento é quando Stallone tem um momento a sós com a mulher que ama. Ela lhe pergunta: `Por que você nunca se casou, Freddy?`. E a resposta - que ela já está cansada de saber - é: `Todas as melhores meninas já haviam se casado.`. E Stallone diz isso de uma maneira tão submissa, resignada, que não há como não se emocionar. Ele está realmente vulnerável neste filme, e não é só pelos 20 quilos extras que ganhou para fazer o personagem. Sua postura encurvada, seu manquejar ocasional, os olhos: sim, observem seus olhos enquanto ele olha para outros policias; enquanto ele admira Nova York... um ótimo trabalho.
Ray Liotta também tem uma de suas melhores performances desde Os Bons Companheiros. Seu Gary Figgis é um policial viciado a quem classificaríamos, sem pensar, como um `perdedor`. No entanto, ele ainda nos reserva algumas surpresas - que não ouso revelar - até o final do filme. Quanto ao resto do elenco... bem, não é exatamente uma surpresa descobrir que atores como De Niro, Keitel e Janeane Garofalo (uma gracinha, como sempre) se saem bem.
Mas o filme comete dois grandes pecados: a narrativa é lenta e há personagens em excesso. A todo o momento um nome novo é citado, e o espectador fica com aquela sensação de `quem é esse, mesmo?`. Eu, pessoalmente, gosto quando um diretor tem a coragem de pegar mais da metade de um filme e gastá-lo com o desenvolvimento dos personagens, para só então atirá-los no clímax. Mas nem todo mundo tem paciência para isso. Quanto ao `clímax`, propriamente dito... bem, achei excelente o `truque` do diretor/roteirista Mangold.. É angustiante, tenso, emocionante.
Cop Land é, em suma, um bom filme. O excesso de `astros` tira um pouco a atenção da história, mas isso é um pecadilho se comparado com as virtudes do roteiro. E as de Stallone.
12 de Janeiro de 1998