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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
05/05/2006 04/05/2006 4 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
126 minuto(s)

Missão: Impossível 3
Mission: Impossible 3

Dirigido por J.J. Abrams. Com: Tom Cruise, Philip Seymour Hoffman, Ving Rhames, Billy Crudup, Michelle Monaghan, Simon Pegg, Jonathan Rhys Meyers, Maggie Q, Keri Russell, Laurence Fishburne.

 

Como exemplar do gênero “ação”, Missão: Impossível 3 é irrepreensível. Recheado de seqüências memoráveis que trazem seu herói em situações absurdas, mas empolgantes, o longa de estréia de J.J. Abrams certamente comprova um dos talentos do co-criador da espetacular série Lost: estabelecer um ritmo ágil de narrativa que jamais deixa o espectador relaxar completamente. Por outro lado, se considerarmos a criatividade exibida ao longo dos episódios de seu projeto para a tevê, torna-se difícil não se decepcionar com o roteiro capenga escrito para este filme por Abrams ao lado de Alex Kurtzman e Roberto Orci, já que, apesar de mais coerente do que os dois longas anteriores (o que não é uma grande vantagem),  Missão: Impossível 3 traz uma embaraçosa parcela de equívocos e furos.

           

Depois de uma introdução tensa que, em flashforward, já prepara o espectador para um confronto importante, esta continuação nos reapresenta a um Ethan Hunt (Cruise) diferente do que poderíamos esperar: prestes a se casar com uma bela médica (Monaghan), o agente da IMF – Impossible Mission Force – abandonou o trabalho de campo e se dedica apenas a treinar novos agentes. Ocultando de sua noiva a verdadeira natureza de seu trabalho (True Lies?), Ethan recebe um chamado urgente de seu chefe, John Musgrave (Crudup), que o informa sobre o desaparecimento de uma de suas melhores aprendizes, a agente Lindsey (Russell). Convencido a liderar uma equipe de resgate, o herói acaba descobrindo a existência de um misterioso objeto identificado apenas como “Pé de Coelho”, que está sendo cobiçado pelo inescrupuloso e violento Owen Davian (Hoffman). A partir daí, inicia-se uma corrida desesperada pela posse do artefato.

           

É claro que teria sido mais honesto, por parte do trio de roteiristas, batizar o tal “Pé de Coelho” com um nome mais apropriado à sua função: MacGuffin. Afinal, ele exerce precisamente a função atribuída a este conceito consagrado por Hitchcock: move a história adiante, é perseguido por todos os personagens, mas não tem relevância alguma para a trama além do fato de ser algo considerado “importante” (um exemplo recente de MacGuffin: o conteúdo do cofre particular em O Plano Perfeito). Porém, se utilizar o MacGuffin não representa problema (afinal, são inúmeros os filmes que o fazem), o mesmo não pode ser dito sobre as missões comandadas por Ethan ao longo da projeção, já que, apesar de empolgantes, se resumem sempre à invasão de prédios bem protegidos, o que denota uma flagrante falta de imaginação por parte dos realizadores – principalmente porque este também foi o mote da melhor e mais célebre seqüência do original (aquela que incluía a gota de suor prestes a disparar um alarme).

           

Mas não é só: além de tentar surpreender o público com uma “reviravolta” que se torna óbvia desde a metade da projeção, Missão: Impossível 3 ainda investe em um romance que, ao invés de tornar o protagonista mais interessante, transforma-o em mais um “mocinho determinado a salvar a mocinha” – um tipo mais do que desgastado e enfadonho (e é impossível deixar de rir quando ele interrompe uma ação importante para soltar um “Eu te amo!” para a musa). Para piorar, as revelações feitas no terceiro ato da história, além de nada surpreendentes, são infelizes, já que enfraquecem muito o vilão interpretado por Philip Seymour Hoffman e tornam a trama ainda mais caótica (qual era, afinal de contas, o verdadeiro objetivo da missão de Lindsay?). Em contrapartida, é inevitável reconhecer que o roteiro ao menos tenta incluir elementos bem amarradinhos, introduzindo várias informações no primeiro ato que irão ser utilizadas posteriormente, ao longo da projeção (o nome de um lago; a leitura labial; a profissão de Julia; a cápsula de nitroglicerina; e por aí afora).

           

A força de Missão: Impossível 3, no entanto, reside mesmo em suas seqüências de ação, que, no melhor estilo 007, são ambientadas em vários pontos do planeta: em Berlim, no Vaticano, em Xangai e no estado norte-americano de Maryland (mais precisamente, na ponte de Chesapeake Bay, que também foi utilizada em – vejam só – True Lies.). Empregando uma montagem ágil e inúmeros efeitos visuais, as seqüências também exploram bem os vários equipamentos que já fazem parte do universo da série, como os modificadores de voz, os cabos que sustentam os agentes em queda livre e, é claro, as máscaras que transformam Ethan em qualquer outra pessoa (desta vez, podemos ver como elas são criadas, o que é divertidamente absurdo).

           

Comandando a ação com segurança, J.J. Abrams é hábil ao permitir que o espectador acompanhe com clareza o que está ocorrendo na tela, imprimindo velocidade aos acontecimentos sem que, com isso, sacrifique nossa compreensão – sempre sabemos exatamente qual função está sendo desempenhada por cada um dos agentes da equipe de Ethan, o que torna as missões bem mais interessantes (um dos equívocos de John Woo no segundo filme foi justamente sacrificar a elaboração das estratégias do herói em prol da correria e dos tiroteios quase caóticos). E, ainda que exiba alguns tiques preocupantes de diretor oriundo da televisão (como o excesso de closes), Abrams ganha créditos por seu bom olho para os detalhes: quando um determinado personagem leva um choque violento, por exemplo, o cineasta ilustra a violência da descarga através de um pedaço de madeira que é partido em dois pela mandíbula contraída do sujeito. Para completar, é bacana que o cineasta tenha convidado o músico Michael Giacchino, com quem trabalhou nas séries Alias e Lost, para compor a trilha de Missão: Impossível 3: uma das grandes revelações dos últimos anos (seu trabalho em Os Incríveis é simplesmente fantástico), Giacchino faz uma opção corajosa e inteligente ao utilizar o contagiante tema criado por Lalo Schifrin de forma mais econômica que nos dois filmes anteriores, jogando pequenos trechos da melodia em momentos espalhados ao longo da trama, o que permite que o espectador reconheça a presença do tema sem, com isso, transformá-lo em algo enjoativo.

           

Vivendo o vilão Owen Davian com sua costumeira eficiência (sou fã do ator desde que o reparei pela primeira vez em Perfume de Mulher, consolidando minha admiração em Boogie Nights), Philip Seymour Hoffman evita os histrionismos habitualmente associados a este tipo de personagem e diz suas falas de maneira sempre controlada e fria, como se elevar a voz fosse sinal de fraqueza (e geralmente é; só berram aqueles que não têm segurança da força do que dizem). É uma pena, portanto, que o roteiro trate o vilão tão mal, enfraquecendo-o no terceiro ato - quando praticamente o relega à posição de capanga - e despachando-o do filme de maneira indigna de sua grandeza. Enquanto isso, Tom Cruise confere a Ethan Hunt a mesma energia insana com que encarnou os heróis de longas como A Firma, Guerra dos Mundos, Minority Report e os dois primeiros Missão: Impossível: quando corre, o ator parece estar realmente determinado a vencer uma disputa dos cem metros rasos, e a intensidade com que executa cada ação de Hunt (saltos, brigas, tiroteios) é suficiente para torná-lo convincente como agente. Não duvidei, em nenhum momento, de que Cruise fosse realmente capaz de derrotar três homens fortes em uma briga ou de que conseguisse se livrar com facilidade de um par de algemas apenas utilizando uma caneta – e isto é fundamental para que o filme funcione.

           

Missão: Impossível 3 pode não ser perfeito, mas é o melhor capítulo da série.
``

 

04 de Maio de 2006

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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