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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
25/01/2002 14/12/2001 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
136 minuto(s)

Vanilla Sky
Vanilla Sky

Dirigido por Cameron Crowe. Com: Tom Cruise, Penélope Cruz, Cameron Diaz, Jason Lee, Noah Taylor, Timothy Spall, Tilda Swinton e Kurt Russell.

Vanilla Sky não é um suspense típico de Hollywood: durante boa parte do filme, seu herói se comporta de uma forma pouco comum entre os protagonistas do gênero, oscilando entre a aparente loucura, a crueldade e a depressão. No entanto, estes méritos não cabem aos seus realizadores, mas sim ao chileno Alejandro Amenábar, que roteirizou e dirigiu Preso na Escuridão, produção espanhola (lançada em 1997) que serviu de base para esta refilmagem. Aliás, o único motivo cabível para se justificar esta nova versão é a antipatia que os americanos sentem com relação às legendas. Fora isso, Vanilla Sky é tão desnecessário quanto o `novo` Psicose dirigido por Gus Van Sant em 1998.

Aqui, Tom Cruise interpreta David Aames, um playboy egocêntrico que se envolve com qualquer garota que lhe chame a atenção, mas que jamais permite que um relacionamento mais profundo se desenvolva. Certo dia, porém, ele se apaixona por uma espanhola, Sofia (Cruz), que lhe é apresentada por seu melhor amigo, Brian (Lee). Sem se importar com o fato de que o próprio Brian parece estar interessado em Sofia, David flerta com a moça – o que desperta os ciúmes de Julie (Diaz), com quem ele transa ocasionalmente. Fora de controle, esta provoca um grave acidente que lhe custa a vida e deixa seu ex-amante desfigurado. Enquanto tenta se adaptar à sua nova realidade, David passa a ter estranhas visões e... isso é tudo o que posso revelar sem estragar a experiência de quem vai ao cinema assistir a este filme (portanto, não se preocupe: nos parágrafos seguintes, não revelarei nada de importante sobre a trama).

O roteiro, adaptado por Cameron Crowe a partir do original, é bastante fiel ao que Amenábar concebeu inicialmente, embora alguns detalhes tenham sido modificados: entre outras coisas, os sócios de David aparecem mais claramente como possíveis antagonistas, o que acentua a subtrama envolvendo uma provável conspiração (o que é bom). Em contrapartida, a versão americana peca (e muito) ao ignorar um certo confronto entre David e a polícia no terço final da trama, o que aumentava incrivelmente a tensão de Preso na Escuridão (da mesma forma, jamais perdoarei Crowe por ter retirado, de Vanilla Sky, o terrível conflito no qual o psiquiatra de David mergulha ao ser confrontado com certos fatos – para mim, um dos melhores elementos do filme espanhol). Outro ponto falho é a explicação sobre o que de fato está ocorrendo ao rapaz: ao insistir em utilizar uma série de efeitos visuais nesta seqüência, o diretor tornou tudo ainda mais confuso, o que não deixa de ser curioso, já que Amenábar se saiu melhor utilizando apenas dois palitinhos de metal (quem assistiu ao original sabe o que quero dizer).

No entanto, devo ser justo e reconhecer que Cameron Crowe também conferiu seu toque pessoal ao filme: como em todos os seus trabalhos anteriores, o diretor acrescenta diversos elementos da cultura pop americana à história, moldando partes do cotidiano de seus personagens a partir de capas de disco, videoclips, e assim por diante (o que faz bastante sentido do ponto de vista narrativo). Além disso, o ritmo de Vanilla Sky é bem mais frenético do que o de Preso na Escuridão – embora, no fim das contas, se torne um pouco mais cansativo em função de alguns problemas no roteiro.

Já Tom Cruise cria um `herói` (ou melhor: anti-herói) um pouco menos egocêntrico do que aquele vivido pelo excelente Eduardo Noriega na versão em espanhol (embora eu não consiga pensar em ator melhor para a refilmagem americana). Infelizmente, ao contrário do que ocorre em Preso na Escuridão, no qual o rapaz fica completamente desfigurado depois do acidente, Cruise usa uma maquiagem mais comedida, que não o transforma em uma figura grotesca – o que seria fundamental para a história (Hollywood jamais permitiria que o astro aparecesse irreconhecível no filme, o que é lamentável). Enquanto isso, Penélope Cruz, que vem se revelando uma atriz medíocre (a cada novo filme, tenho mais e mais certeza de que Pedro Almodóvar é o único que consegue arrancar atuações razoáveis da garota), repete virtualmente o mesmo desempenho do original, no qual interpretou a mesma personagem (e que já não era muito interessante, para início de conversa). Por outro lado, Cameron Diaz realiza um bom trabalho como a inconstante Julie Gianni, enquanto Kurt Russell, menos heróico do que de costume, cria um psiquiatra aceitável (embora o roteiro americano roube aquelas que seriam suas melhores cenas).

Contando ainda com uma ótima trilha sonora (outra marca registrada de Crowe) e com uma fotografia inteligente (que justifica o título de forma curiosa), Vanilla Sky é um filme interessante, mas que inevitavelmente é eclipsado pelo original. É chato ter que fazer comentários sobre um filme a partir de outra produção, mas, neste caso, isto é obrigatório. Assim, meu conselho é: vá até a locadora e procure pela versão dirigida por Amenábar. Você gastará menos dinheiro e certamente ficará mais satisfeito.
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2 de Fevereiro de 2002

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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