Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
11/06/2010 01/01/1970 2 / 5 / 5
Distribuidora

Direção

Joe Carnahan

Elenco

Liam Neeson , Patrick Wilson , Sharlto Copley , Quinton 'Rampage' Jackson , Jessica Biel , Bradley Cooper

Roteiro

Joe Carnahan , Brian Bloom , Skip Woods

Produção

Tony Scott

Fotografia

Mauro Fiore

Música

Alan Silvestri

Montagem

Jim May

Design de Produção

Charles Wood

Figurino

Betsy Heimann

Direção de Arte

Andrew Li

Esquadrão Classe A
The A-Team

Dirigido por Joe Carnahan. Com: Liam Neeson, Bradley Cooper, Sharlto Copley, Quinton “Rampage” Jackson, Jessica Biel, Patrick Wilson, Gerald McRaney, Henry Czerny, Brian Bloom.

Dei duas estrelas para Esquadrão Classe A. E abri esse texto com uma breve relação dos principais nomes do elenco, embora tenha excluído a participação de um ator de tevê que surge no final da projeção em uma ponta surpresa – afinal, citá-lo talvez fosse considerado um “spoiler” por parte dos leitores do Cinema em Cena (veículo no qual publico este texto). Dito isso, encerro este parágrafo inicial.

Baseado na série de tevê que entre 1983 e 1987 se tornou extremamente popular graças principalmente ao jeito durão de Mr. T e ao tema composto por Mike Post e Pete Carpenter, Esquadrão Classe A gira em torno de quatro ex-Boinas Verdes que, acusados de um crime que não cometeram, formam um grupo de mercenários especialistas em lidar com missões complicadíssimas: o ex-coronel e líder da equipe Hannibal Smith (Neeson), o enlouquecido piloto “Mad” Murdock (Copley), o tenente “Cara-de-pau” Peck (Cooper) e o... bom, o durão B.A. (Jackson). Juntos há vários anos (o filme, aliás, mostra como se conheceram), eles são encarregados de recuperar as placas de impressão da moeda norte-americana que se encontram nas mãos do inimigo e, no processo, acabam sendo acusados de roubá-las. Determinados a provar sua inocência, eles...

Hum.

Vocês já sabem o resto.

Eu dei duas estrelas para o filme. Não se lembram disso? Ora, está lá, no início do texto: “Eu dei duas estrelas para Esquadrão Classe A”. Escrevi isso um pouco antes de descrever a base da trama.

Que, por sinal, não interessa muito. Tratando seus personagens como verdadeiros ícones pop, o cineasta Joe Carnahan (do bastante superior Narc) faz questão de introduzir os heróis como figuras que supostamente já povoam o imaginário coletivo, superestimando incrivelmente o alcance de uma série que, nostalgia à parte, era medíocre em seus melhores momentos. Assim, o coronel Hannibal sorri para a câmera já em sua primeira cena, como quem diz “Vejam quem voltou!”, e B.A. é visto inicialmente de costas enquanto o diretor enfoca seu corte moicano e a tatuagem que cita o bordão popularizado por Mr. T, “I pity the fool!”. Com isso, o filme até ganha um certo charme justamente por suas ilusões de grandeza, já que aparentemente não percebe ser quase tão camp quanto a série Batman produzida na década de 60.

Mas ter “certo charme” não é o bastante para tornar algo relevante – e os esforços dos roteiristas Skip Woods, Brian Bloom e do próprio Carnahan se mostram desastrosos em seu desespero para conferir humor à narrativa, já que, na maior parte do tempo, as tiradas dos personagens soam forçadas e sem a menor graça. Como se não bastasse, o trio de roteiristas não consegue conferir humanidade alguma àquelas figuras, que surgem mais artificiais que os Na’vi de James Cameron, já que não exibem qualquer traço que os tornem minimamente críveis como indivíduos: prestes a ser queimado vivo, por exemplo, o Cara-de-pau de Bradley Cooper se mantém absolutamente tranqüilo e risonho – não por ser corajoso ou irreverente, mas aparentemente por já ter lido o roteiro e estar ciente de que seus companheiros o salvarão precisamente no último segundo antes que a fogueira seja acesa. (E se você acha que o que acabei de dizer é um spoiler, desculpe-me, mas só há uma forma de descrever alguém capaz de acreditar que um dos heróis de uma superprodução hollywoodiana poderia ser carbonizado – e já nos primeiros minutos de projeção: débil mental.)

Ei, mas se este for o seu caso, uma boa notícia: os heróis do filme dividem esta característica com você – afinal, como explicar que sejam capazes de matar meio mundo sem o menor peso na consciência, mas ainda assim inexplicavelmente permitam que um de seus maiores inimigos escape vivo quando têm a chance de matá-lo facilmente três ou quatro vezes em poucos minutos? (Eu tenho uma teoria: como o tal vilão é interpretado – muito mal – pelo também roteirista Brian Bloom, creio que rolou um certo protecionismo com relação ao personagem. Aliás, posso até imaginar a cena durante o processo de elaboração do roteiro:

- Bom, todos estão desmaiados quando Hannibal invade a sala pela janela. Ele vê o Pike (Bloom) caído no chão e... Bam! Bam!... enfia duas balas na sua cabeça! – diz Carnahan.

- É... pode ser. Mas e se Hannibal deixá-lo vivo? Isso permitiria que o Pike saltasse da janela atrás do B.A. logo depois. Imagine como seria bacana! E não digo isso porque interpretarei o Pike, mas porque seria ótimo para o filme!

- Hum, pode ser. Ok. Mas aí o Pike confronta o B.A. na garagem e este, dizendo “I pity the fool who came after me!”, quebra o pescoço dele! Snap!

 - É... mas... hum... peraí! E se fizermos o B.A. ter uma crise de consciência que o impede de matar justamente o cara responsável por destruir sua vida?

 - Brian, você assistia à série? B.A. com crise de consciência?

- Daria dimensão dramática ao filme!

- Tá, ok. Mas então, no momento em que Pike vai aproveitar a fraqueza de B.A. para matá-lo, Hannibal chega e o atropela, matando-o e salvando o amigo no último segundo!

- Hum... legal. Mas e se Pike sobrevivesse ao atropelamento?

- Hannibal meteria uma bala na cabeça dele para terminar o serviço.

- E se Hannibal não fizesse isso?

- ... (Suspiros.) Ok, Brian, você pode ficar vivo até o final do filme.)

Por outro lado, confesso não ter teoria alguma sobre as motivações dos roteiristas durante a elaboração de seqüencias de ação que envolvem um helicóptero fazendo cambalhotas – a não ser, claro, a de que os responsáveis pelo filme realmente acreditavam estar preparando uma narrativa voltada para indivíduos com Q.I. menor do que os de seus heróis.

Aliás, apenas isto poderia justificar a insistência do roteiro em continuamente mastigar explicações para o espectador - como na cena que marca o primeiro encontro de Hannibal e B.A.: inseguros de que o público seria capaz de perceber que os dois homens ainda não se conheciam, os roteiristas levam o personagem de Quinton Jackson a dizer “Vai atirar num estranho?” e, em seguida, depois de levar um tiro no braço, a repetir: “Você não me conhece!”. Da mesma maneira, o pavor que B.A. sente de voar é continuamente mencionado por seus amigos, o que não impede o roteiro de martelar a mensagem ainda mais ao trazer o sujeito protestando contra o fato de estar no ar enquanto um outro observa: “Ele não está feliz!”. A propósito: eu mencionei que Esquadrão Classe A traz um flashback a praticamente cada cinco minutos para explicar o que acabou de acontecer ou o que está acontecendo naquele momento, já que certamente julga estar lidando com uma platéia de Forrest Gumps?

Vale lembrar o que escrevi anteriormente, pouco antes de explicar a listagem dos atores no início do texto: “Dei duas estrelas para Esquadrão Classe A”. O quê? Acha desnecessária esta explicação? Pois creia: ela não chega nem perto do instante em que certo personagem, depois de construir um capacete de ferro, é baleado na cabeça e sobrevive – apenas para que um colega se aproxime e constate: “As balas não atravessaram”.

Não diga!

Já em outros instantes, não confiando nos flashbacks para mastigar suficientemente os acontecimentos, Joe Carnahan apela para montagens paralelas que se encarregam de trazer alguém explicando o que farão enquanto acompanhamos justamente a ação por ele descrita – o que não deixa de ser uma benção, já que o diretor, ao lado do montador Jim Fay, retalha o filme de tal forma durante as seqüências mais intensas que ficaríamos realmente perdidos (para não mencionar “nauseados”) caso não contássemos com a narração em tempo real do autor do plano. E como estas “narrações” vêm acompanhadas de maquetes bonitinhas e de outros recursos didáticos, a coisa se torna ainda mais fácil de assimilar – embora, claro, jamais deixe de soar ridícula.

Cuspindo no túmulo de Isaac Newton sempre que a oportunidade se apresenta (a cada dez minutos), os efeitos visuais de Esquadrão Classe A falham não pelo absurdo que representam - já que estamos sempre dispostos a ignorá-los -, mas por não conseguirem conferir peso e realidade aos objetos digitais: das dezenas de containers que despencam no porto ao tanque “voador” dos heróis, passando pelos próprios personagens, as imagens criadas em computador ao longo da projeção surgem sempre falsas, como se desafiassem o público a acreditar no que está na tela. E como os heróis e vilões do projeto já se estabelecem unidimensionais por natureza, tudo acaba soando mais como um desenho animado sem graça do que como uma produção do gênero ação.

Trazendo como um de seus poucos destaques positivos a atuação de Sharlto Copley (Distrito 9), que, como o insano piloto do grupo, realmente parece ter “algo errado com seus olhos”, Esquadrão Classe A empalidece até mesmo diante do similar – e levemente superior - Os Perdedores, que ao menos contava com um vilão divertidíssimo encarnado por Jason Patric (e com o qual o vilão aqui vivido por Patrick Wilson divide algumas poucas características).

Com uma subtrama que não se envergonha nem mesmo diante do clichê do “casal-que-briga-mas-se-ama” (que inexplicavelmente vem se tornando mais comum com o passar do tempo), Esquadrão Classe A pode até ser pontualmente divertido, mas é óbvio o tempo inteiro.

Dei duas estrelas para o filme.

Observação: Há uma cena adicional após os créditos finais – mas a menos que você seja fã incondicional da série original e queira rever dois de seus protagonistas, ela é tão dispensável quanto o resto do longa.

11 de Junho de 2010

Comente esta crítica em nosso fórum e troque idéias com outros leitores! Clique aqui!

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!