Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
23/04/2015 | 01/05/2015 | 3 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Disney | |||
Duração do filme | |||
150 minuto(s) |
Dirigido e roteirizado por Joss Whedon. Com: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Scarlett Johansson, Chris Hemsworth, Jeremy Renner, Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Paul Bettany, Don Cheadle, Cobie Smulders, Anthony Mackie, Hayley Atwell, Idris Elba, Stellan Skarsgård, Claudia Kim, Thomas Kretschmann, Andy Serkis, Julie Delpy, Samuel L. Jackson e a voz de James Spader.
Vingadores: Era de Ultron é um filme de super-herói no qual as interações entre os personagens são muito mais interessantes do que as sequências de ação. Normalmente, isto poderia ser encarado como um elogio sem reservas, mas aqui a coisa se complica quando consideramos que as sequências de ação são frequentes e, de modo geral, construídas de maneira medíocre. Assim, é como elogiar um bombom de passas por ter sido feito com um delicioso chocolate, mas detestar seu recheio.
Escrito por Joss Whedon de uma forma prolixa que busca encontrar espaço para um número cada vez maior de personagens (vejam a listagem do elenco logo acima!) embora o tempo de projeção claramente não comporte tantas figuras (e as duas cenas envolvendo Stellan Skarsgård, por exemplo, deveriam ter ficado para os extras do Blu-ray), o roteiro segue o padrão recente dos longas da Marvel de se levar a sério demais, investindo numa trama desnecessariamente complexa que parece fazer sentido completo apenas para os fãs dos quadrinhos – e estou certo de que aparecerão alguns destes usando os mesmos argumentos antes empregados pelos leitores de Crepúsculo e ignorando o fato de que um filme deve funcionar sem um manual de referência. Basta dizer que a história acompanha os esforços dos Vingadores para combater Ultron (voz de James Spader), um androide dotado de poderosa inteligência artificial que, criado por Tony Stark (Downey Jr.) para garantir a paz mundial, conclui rapidamente que a maior ameaça a esta é a raça humana.
Iniciando a projeção já in media res (ou seja: atirando o espectador no meio da ação), Era de Ultron trata seus personagens como verdadeiros ícones desde o princípio – e não é à toa que, ao receber ordens para resistir ao ataque dos heróis, um capanga diz apenas “Mas eles são os Vingadores”, dispensando maiores explicações. Aliás, Whedon abre o longa repetindo o plano-sequência memorável que ocorria no auge do filme anterior, quando viajava com sua câmera por um verdadeiro campo de batalha enquanto capturava cada um dos integrantes do time em um momento grandioso de ação – mas, aqui, a escala do que vemos consegue ser ainda maior, já estabelecendo, nos segundos iniciais, um nível de exigência alto para os confrontos que se seguirão (e que nem sempre é alcançado).
E há um motivo para que este nível não seja atingido: Joss Whedon pode ser um bom roteirista, mas é um péssimo diretor de ação. Tentar acompanhar a lógica espacial nestas sequências é tarefa quase impossível: os cortes são excessivamente rápidos, a câmera se movimenta em espasmos absurdos, os quadros oscilam entre planos conjuntos e primeiríssimos planos sem qualquer lógica e a mise-en-scène acaba se revelando um caos, como se Whedon fizesse o possível para se estabelecer como um novo Michael Bay (e tudo fica ainda pior em 3D, que, por sua própria natureza, rejeita cortes rápidos acompanhados por movimentos de câmera rápidos). Sim, em escala, estas sequências impressionam, mas apenas se ignorarmos sua construção, o que não faz qualquer sentido.
Felizmente, Era de Ultron conta com personagens interessantes que, mesmo espremidos em um filme que mal consegue se concentrar em todos, ao menos se mostram conscientes do gênero no qual se inserem, muitas vezes tomando decisões que remetem à própria história recente deste – e a mais óbvia delas é perceber como, claramente influenciados pelo clímax de Homem de Aço, fazem o possível e o impossível para evitar a morte de civis no clímax da projeção. Além disso, para um filme com escala tão gigantesca, é curioso notar como os melhores instantes são frequentemente os mais sutis, como a leve inquietação de Thor (Hemsworth) ao temer que o Capitão América (Evans) consiga erguer seu martelo ou a maneira reveladora como Mark Ruffalo vive Bruce Banner como um sujeito que parece sempre encolhido em si mesmo, mantendo os braços cruzados diante do corpo levemente encurvado como se tentasse conter o monstro que tem dentro de si. E se o Tony Stark de Robert Downey Jr. desta vez não é tão eficiente em suas fracas tentativas de humor, ao menos é utilizado como um símbolo preocupante da paranoia dos Estados Unidos no pós-11 de Setembro.
No entanto, o que torna Era de Ultron verdadeiramente instigante é o vilão-título, cujo despertar é, também, o ponto alto da trama: recém-criado, ele descobre que sua missão é proteger o planeta e, ao acessar rapidamente toda a nossa História, mostra-se ligeiramente confuso com a contradição aparente de suas diretrizes até concluir que a melhor solução é eliminar os humanos. Construído a partir da performance vocal impecável de James Spader, Ultron é beneficiado pela habilidade ímpar deste em conseguir projetar arrogância, sarcasmo, impaciência e condescendência através de leves alterações em suas inflexões – e é particularmente fascinante perceber como os animadores projetam os maneirismos típicos de Spader no personagem, como sua maneira característica de inclinar a cabeça para o lado e mesmo o movimento que faz com o maxilar ao encerrar certas falas, quando parece manifestar todo o seu desprezo por seus interlocutores apenas ao fechar a boca e emitir pequenos estalos com a língua. Além disso, é preciso aplaudir pequenos detalhes que são usados para humanizar Ultron, como no momento em que, ao escutar o relato de Mercúrio, mantém o torso arqueando levemente, como se respirasse (por falar em Mercúrio, é triste perceber como seus poderes são retratados de forma decepcionante quando comparados a Dias de um Futuro Esquecido).
Com isso, Vingadores: Era de Ultron se revela um filme muito melhor quando o personagem depois dos dois pontos do título se encontra em cena – o que é um problema, considerando que os astros deveriam ser aqueles que vêm antes. Não que os heróis não se destaquem; a produção é que é grandiosa demais em torno destes. Talvez diminuir um pouco a escala no próximo longa fosse benéfico – o que, claro, não vai acontecer.
Mas no mínimo a Marvel poderia escalar algum cineasta que saiba dirigir sequências de ação. Já seria uma grande ajuda.
Observação: há uma cena adicional durante os créditos finais.
30 de Abril de 2015