Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/10/2015 | 22/08/2014 | 1 / 5 | 2 / 5 |
Distribuidora | |||
PlayArte | |||
Duração do filme | |||
83 minuto(s) |
Dirigido e roteirizado por David Jung. Com: Shane Johnson, Ella Anderson, Cara Pifko, Tomas Arana, Dale Dickey, Cullen Douglas, Tobias Jelinek.
Se o Diabo existisse, ele seria o responsável por A Possessão do Mal – o filme, não a possessão em si. (Embora o diretor e roteirista David Jung certamente estivesse possuído por alguma coisa ao conceber essa atrocidade.) Combinação de found footage, drama familiar e falta de Q.I., o longa tem início com duas tragédias: uma enfrentada pelo protagonista, que perde a esposa em um acidente, e outra pelo espectador, que terá que assistir a mais 80 minutos de projeção.
Ateu convicto – o que, em Hollywood, significa que ele será bombardeado com evidências da existência de algo “maior” -, Michael King (Johnson) é um documentarista que, inconformado com a morte da amada, decide realizar um filme para provar que não existe além-vida (uma reação tão plausível quanto a possibilidade de que David Jung tenha uma carreira frutífera). Para isso, ele visita “especialistas” em rituais satânicos, já que, aparentemente, o demônio tende a ser mais exibicionista e fácil de contatar. Negligenciando a filha pequena, que passa muito mais tempo com a tia do que com o pai, Michael finalmente tem uma resposta para seus questionamentos – e o título original oferece uma boa pista sobre sua natureza.
Aliás, se identifiquei o sujeito como “documentarista” no parágrafo anterior, é porque o filme o apresenta desta forma, mas suponho que nem Michael nem o diretor e nem qualquer pessoa relacionada a este trabalho jamais tenham assistido a um documentário, já que parecem acreditar que estes consistem em trazer o realizador fazendo caretas e piadas sem graça para a câmera, que, por sua vez, é movimentada com uma suavidade que sugere estar sendo operada por um orangotango drogado. Para piorar, a falta de coerência narrativa do projeto é tamanha que, mesmo depois de ter estabelecido que King trabalhava com uma só câmera, o longa traz planos-detalhe, cortes para reações de vários personagens que se encontram em cena e outros elementos que só poderiam ter sido registrados caso várias lentes estivessem captando pontos diferentes da ação ou esta tivesse sido repetida diversas vezes.
Não que A Possessão do Mal não tenha pontos positivos, pois não tem. (Hein?)
Ok. Há, por exemplo, o fato de que ele termina, o que já é uma grande virtude. E, para ser justo, Shane Johnson, que vive King, é um ator com certo potencial, embora aqui seja obrigado a encarnar um personagem que já era absurdo mesmo antes de ser possuído por um demônio. Já os intérpretes de sua filha, irmã e assistente surgem em cena apenas como prováveis vítimas das ações malignas do vilão, mal tendo tempo para que o público aprenda seus nomes (acho que estes são Michael King Filha, Michael King Irmã e Michael King Assistente, mas posso estar errado). Por outro lado, o elenco traz também Dale Dickey, que participou de dois episódios de Breaking Bad e, só por isso, já torna a experiência um pouco menos dolorosa ao fazer com que o espectador se lembre de Walter White por alguns segundos e escape mentalmente do cinema.
Ainda assim, criatura otimista que sou, confesso ter ficado esperançoso acerca de uma possível sutileza narrativa do filme quando, depois de mencionar de passagem que o tal demônio controlava formigas (taí um crossover com a Marvel que eu não esperava), o diretor inclui um plano conjunto que traz um único inseto se movendo no canto esquerdo inferior, que tradicionalmente é aquele com menos chance de ser observado pelo público. Porém, logo depois Jung não só inclui outro quadro que praticamente traz uma formiga em close como ainda tasca um rack focus para se certificar de que veremos o bichinho. Como se não bastasse, o realizador não hesita em empregar todos os clichês do gênero, como sequências em visão noturna, outras banhadas por um estroboscópio e ainda várias que fazem um movimento súbito apenas para revelar a presença inesperada de alguém.
Mas o mais divertido é que todas as tentativas feitas por Michael King para estabelecer contato com espíritos ou demônios funcionam, imediatamente transformando seu projeto no maior fracasso que poderia existir (não que ele pareça notar). Para piorar, a partir do instante em que o sujeito passa a tentar se livrar da possessão, o filme se torna simplesmente – e acidentalmente – hilário, resultando num plano fantástico que traz um livro se incendiando nas mãos de King, transformando seus braços em duas tochas enquanto ele se mantém ajoelhado e olhando para os membros em chamas enquanto grita.
E o que dizer da gentileza do demônio que toma conta de seu corpo e que, para não prejudicar o documentário, liga a câmera e aciona a visão noturna, usando-a para registrar tudo o que faz? Diabinho prestativo, esse.
Encerrando a projeção com a repetição de seu nome surgindo em letras garrafais em três telas diferentes, David Jung exibe um claro orgulho diante daquilo que criou, o que, de certa forma, chega a inspirar uma peninha. Ou o sujeito é cego ou foi possuído por algo ainda mais assustador do que o ser visto em seu filme: o espírito egocêntrico de M. Night Shyamalan.
Algo que exorcista algum é capaz de tratar.
30 de Setembro de 2015