Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
08/09/2016 | 12/08/2016 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
California Filmes | |||
Duração do filme | |||
88 minuto(s) |
Dirigido por Jean-François Richet. Roteiro de Peter Craig e Andrea Berloff. Com: Mel Gibson, Erin Moriarty, Diego Luna, Michael Parks, Miguel Sandoval, Dale Dickey, Richard Cabral, Daniel Moncada e William H. Macy.
Herança de Sangue é um filme que deveria ter sido lançado diretamente em vídeo, não ganhado a distinção de encerrar o Festival de Cannes – e duvido que isto teria acontecido caso não tivesse, como protagonista, ninguém menos do que Mel Gibson.
Houve um tempo, claro, em que uma produção como esta seria protagonizada por Steven Seagal, Chuck Norris, Jean-Claude Van Damme ou Mark Dacascos – e, nos últimos anos, uma escolha natural seria Nicolas Cage. Que Gibson tenha caído tanto em sua carreira a ponto de seguir os passos dos integrantes deste grupo é lastimável.
Não que o longa não seja moderadamente divertido, pois é. Iniciando com uma sequência artificial que traz a jovem Lydia (Moriarty) sendo obrigada por seu namorado criminoso Jonah (Luna) a atirar em alguém, baleando-o em vez disso e fugindo desesperada, Herança de Sangue nos apresenta a John Link (Gibson), ex-alcóolatra e ex-presidiário que, sóbrio há dois anos, agora trabalha como tatuador no trailer que também lhe serve de residência. É quando Lydia – que é sua filha – pede auxílio e os dois, agora perseguidos pelos capangas de Jonah, são obrigados a fugir.
Quase redimido pela presença de seu astro, o filme se beneficia imensamente da intensidade que o ator traz para praticamente todos os seus papéis – e até mesmo ao acordar o sujeito demonstra uma vitalidade particular. Projetando um olhar que oscila entre a psicopatia e a tristeza, Gibson é um daqueles intérpretes cujos rostos vão se tornando mais e mais interessantes à medida que envelhecem, já que passam a projetar um mundo de experiência através de cada ruga (e é fascinante como ele consegue ter rugas até no nariz). Compondo Link como um sujeito instável que resmunga continuamente para si mesmo e parece apreciar a violência mesmo querendo abandoná-la, Mel Gibson torna Herança de Sangue “assistível” sempre que está em cena, o que é uma proeza. Em contrapartida, a jovem Erin Moriarty se apresenta como um vácuo de carisma, enquanto Diego Luna opta pela caricatura, jamais projetando a ameaça necessária. Fechando o elenco, os sempre geniais (e pouco conhecidos) Michael Parks e Dale Dickey fazem o que podem com suas pequenas participações, enquanto William H. Macy só não é completamente esquecido porque consegue arrancar alguns risos com sua quase ponta.
Parecendo encarar os vários preconceitos do protagonista como algo divertido (e Gibson já tem problemas demais neste sentido para não ter percebido isso), o filme é, em última análise, uma brincadeira com diversos longas exploitation da década de 70 e os filmes de ação barata da década de 80 – um exercício narrativo que o diretor Jean-François Richet fez infinitamente melhor na refilmagem de Assalto à 13a.DP..
Assim como eram O Fim da Escuridão, Plano de Fuga e Os Mercenários 3, últimos três trabalhos do ator antes deste projeto. Pelo visto, ele empacou de vez na carreira, o que, problemas de caráter à parte, é um tremendo desperdício de seu talento.
21 de Maio de 2016
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival de Cannes 2016.
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