Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
07/12/2012 | 01/01/1970 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Vinny Filmes | |||
Duração do filme | |||
98 minuto(s) |
Dirigido por Lee Hirsch.
Não há como negar: o bullying se transformou em um problema sério nas escolas de todo o mundo. Ganhando força graças às redes sociais e à Internet de modo geral, que agora permitem que o assédio moral ultrapasse as fronteiras da escola e persiga suas vítimas em suas casas, esta intimidação constante de crianças e adolescentes considerados “diferentes” ou apenas “fracos” frequentemente é difícil de ser detectada por nem sempre envolver agressões físicas, deixando, em vez disso, marcas psicológicas muito mais profundas e graves. Como resultado, o número de suicídios em razão do bullying passou a crescer exponencialmente.
Concebido como forma de chamar a atenção para o problema e de divulgar o projeto que lhe dá título, o filme acompanha algumas crianças em diferentes estados norte-americanos, concentrando-se principalmente no pré-adolescente Alex: desajeitado, retraído e com um visual pouco atraente, ele encara uma rotina diária de socos, tapas, empurrões e ofensas que começa no ônibus escolar no caminho de ida para a escola e só termina ao descer em sua casa ao final do dia. E é aí que percebemos que o garoto se transforma, mostrando-se inteiramente à vontade ao lado da família, rindo e brincando como qualquer criança e estabelecendo um forte contraste com o menino que, há alguns minutos, tentava se esconder apavorado atrás do banco do ônibus.
Um dos pontos fortes de The Bully Project, aliás, reside justamente nas imagens obtidas pelo diretor Lee Hirsch, que, através de câmeras escondidas, consegue capturar o cotidiano infernal de seus personagens com uma clareza impressionante. Além disso, o cineasta também é hábil ao ilustrar o dia-a-dia familiar daquelas crianças, obviamente deixando as famílias confortáveis com sua presença a ponto de levá-las a se comportar com uma naturalidade admirável diante das lentes. Como se não bastasse, as entrevistas feitas por Hirsch buscam revelar a forma como aquelas pequenas vítimas processam o bullying – e é devastador notar, por exemplo, como o contido Alex discute os abusos sofridos com imenso auto-controle apenas para trair o impacto de suas experiências através de um tremor nos lábios que revela, num segundo, a força que está fazendo para não se entregar às lágrimas.
Da mesma maneira, The Bully Project não ignora o preconceito sexual como fator importante destas agressões, expondo também as agressões dirigidas à adolescente Kelby, que, lésbica assumida, chegou a ser sexualmente molestadas pelos atletas de sua escola (e mesmo atropelada por outros alunos) sem que os responsáveis pela instituição demonstrassem qualquer intenção de punir os culpados. Aliás, esta passividade por parte de diretores e professores é o que leva a jovem Ja’Meya, de 14 anos, a tentar colocar um fim à tortura que vinha sofrendo há anos – e, ao apontar uma arma para seus agressores, acaba sendo presa, correndo o risco de passar o resto da vida na cadeia.
Mas o mais inacreditável é que, ao focar também os esforços da diretora da escola na qual Alex estuda, o filme expõe de forma inquestionável o absoluto despreparo daqueles que deveriam combater o problema: dizendo-se incapaz de resolver a questão (mas sempre prometendo “cuidar do assunto”), a mulher chega ao ponto de repreender uma vítima de bullying por não aceitar as desculpas de seu agressor pego em flagrante, dizendo que aquilo torna o garoto “tão culpado quanto o outro”. E chega a ser hilário testemunhar o instante em que, ao ouvir as queixas dos pais de Alex, ela usa a conversa como desculpa para exibir as fotos do neto recém-nascido.
Adotando uma postura nada passiva (algo relativamente incomum durante a realização de documentários do tipo), o diretor Lee Hirsch – ele próprio, vítima de bullying na infância – finalmente interfere na história de um de seus personagens ao assustar-se com o grau de violência ao qual Alex passa a ser submetido, quando, temendo pela segurança do garoto, decide mostrar as imagens para os pais do menino e os diretores da escola – algo que, não surpreendentemente, pouco efeito provoca no cotidiano torturado do garoto.
Acompanhando também os esforços das famílias de duas vítimas de assédio escolar que acabaram se matando em função disso (o adolescente Tyler e o pequeno Ty, de apenas 11 anos de idade), The Bully Project é, para qualquer pai, um verdadeiro filme de terror - com a diferença que seus vilões têm a aparência tão inofensiva quanto às de suas vítimas.
O que, claro, apenas os torna ainda mais ameaçadores.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival de Tribeca de 2011.
26 de Abril de 2011