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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
12/12/2008 01/01/1970 3 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
89 minuto(s)

Madagascar 2
Madagascar - Escape 2 Africa

Dirigido por Eric Darnell, Tom McGrath. Com as vozes de Ben Stiller, Chris Rock, David Schwimmer, Jada Pinkett Smith, Sacha Baron Cohen, Cedric the Entertainer, Bernie Mac, Alec Baldwin, Will.I.Am.

 

Não sou louco por Madagascar, que a DreamWorks/PDI lançou em 2005. Num ano cujas melhores animações foram realizadas através do velho stop motion (estou falando dos excepcionais A Noiva Cadáver e Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais), as produções digitais se revelaram relativamente empalidecidas, já que, apesar dos bons Robôs e Deu a Louca na Chapeuzinho, tivemos também o fraco O Galinho Chicken Little e o apenas razoável Valiant, além, claro, do já citado Madagascar. Com personagens pouco carismáticos e um roteiro nada imaginativo, o filme de Eric Darnell e Tom McGrath só ganhava mesmo vida quando se concentrava nos hilários pingüins com disciplina militar ou no ensandecido Rei Julien - que, infelizmente, tinham pouco tempo de tela.

 

Este problema, no entanto, foi corrigido nesta continuação que, apesar de não ser uma obra-prima (ou mesmo um filme muito bom), é suficientemente divertida justamente por nos oferecer um pouco mais destes adoráveis personagens. Além disso, o roteiro co-escrito pelos diretores se beneficia da colaboração de Etan Cohen (não confundir com Ethan Coen), um sujeito cujo senso de humor politicamente incorreto já enriqueceu comédias como Idiocracy e Trovão Tropical (ele também escreveu e dirigiu o curta Minha Mulher é Retardada, cujo título ilustra, por si só, o argumento acima). Assim, mesmo que continuemos a acompanhar as aventuras do leão Alex, da zebra Marty, da girafa Melman e da hipopótamo Gloria, o longa conta com ótimas seqüências envolvendo os quatro pingüins-milicos e o cada vez mais instável rei lêmure.

 

Quando a história tem início, porém, somos apresentados a um incidente marcante da infância de Alex, que, ainda filhote, é afastado do pai, o rei Zuba, enquanto este duelava com seu invejoso irmão e aspirante a Elvis Presley, o covarde Makunga (numa referência clara a O Rei Leão). Anos depois, reencontramos o protagonista no momento em que este se prepara para deixar Madagascar ao lado dos amigos num avião pilotado pelos pingüins - e a decolagem se revela uma das gags visuais mais inspiradas da projeção. O vôo, no entanto, não dura muito tempo e logo todos despencam em solo africano, onde Alex reencontra a família e se vê obrigado a provar seu valor para o pai, já que, em vez de lutar, ele mostra propensão apenas para a dança (talvez o subtítulo desta continuação devesse ser Billy Elleãot). Enquanto isso, a velhinha barra-pesada vista no metrô de Nova York, no original (e também no curta de Natal protagonizado pelos pingüins), ganha destaque ao se tornar a vilã secundária (e descartável) da trama.

 

Presos pela necessidade de criarem tramas que atraíssem os famosos dubladores originais, os roteiristas abarrotam Madagascar 2 com draminhas individuais protagonizados por cada um dos quatro animais principais: se Alex deve se estabelecer como sucessor à altura do pai, que não aceita sua homossexualidade (ah, deixemos de firulas! É disso que se trata, não é mesmo? A leitura é óbvia.), Marty se vê diante de uma crise de identidade ao perceber que nada o diferencia de seus parentes listrados. Já Melman encontra-se terrivelmente apaixonado por Gloria, que, por sua vez, mostra-se determinada a encontrar um parceiro com o qual possa estabelecer uma relação duradoura – o qual parece se materializar na figura do grosseiro (mas sarado) Moto-Moto.

 

E há, claro, os pingüins: determinados a reconstruírem o avião que pilotavam, eles logo aliciam um bando de macacos, transformando-os em mão-de-obra escrava apenas para serem surpreendidos por uma greve organizada por dois símios sindicalistas (o que leva Skipper, líder dos pingüins, a protestar: “Comunas!”). Em contrapartida, o rei Julien não conta realmente com uma subtrama – e nem precisa de uma, já que apenas sua personalidade é suficiente para manter suas cenas sempre interessantes. E se no original ele conta com a voz de Sacha Baron “Borat” Cohen, no Brasil é enriquecido ainda mais pela dublagem espetacular de um dos melhores profissionais da área, o sempre hilário Guilherme Briggs.

 

Enriquecido pelo contraste entre o design estilizado dos personagens e o visual realista dos “cenários” nos quais estes se encontram inseridos, Madagascar 2 é bem mais ambicioso em sua abordagem estética do que o original: além dos movimentos fluidos e “sedutores” de Moto-Moto, a equipe de animadores da DreamWorks/PDI se sai particularmente bem ao dar vida às expressões de cinismo de Makunga, impressionando também nas seqüências que envolvem centenas de animais se movimentando de maneira independente. Além disso, o preciosismo ao retratar as manchas senis do velho rei Zuba é um detalhe não menos fascinante do que o corpo anabolizado do leão que enfrenta Alex na arena, provando que, do óbvio ao sutil, o filme é tecnicamente impecável – valendo observar, também, a boa fotografia, que simula até mesmo a exposição repentina à luz quando o protagonista sai da caverna escura e se depara com um ambiente amplamente iluminado.

 

E se a DreamWorks/PDI normalmente exagera nas referências engraçadinhas a outras produções, desta vez ao menos as piadas surgem bem mais orgânicas, desde a homenagem a Lawrence da Arábia (com o rei Julien no lugar de Peter O’Toole) até a citação da cena no avião de Quase Famosos, passando pela coreografia das gangues de Amor, Sublime Amor até chegar, claro, à cena que remete a um de meus episódios favoritos da série Além da Imaginação (aquele que, dirigido por Richard Donner, trazia William Shatner como um homem que, recém-saído do hospício, era aterrorizado pela imagem de uma criatura prestes a sabotar o avião no qual ele se encontra. Este episódio, aliás, ganhou uma boa versão na adaptação para o Cinema, com John Lithgow substituindo Shatner.).

 

Irreverente desde o primeiro segundo, quando cria uma brincadeira com a vinheta da DreamWorks, Madagascar 2 também abre com uma alfinetada interna ao exibir um vulcão que remete à montanha do logotipo da Paramount, como se esta houvesse se partido – certamente uma referência pouco lisonjeira ao divórcio recente e hostil entre o estúdio e a própria DreamWorks. É uma pena, portanto, que esta irreverência só surja realmente quando os personagens secundários seqüestram a história – e, por esta razão, torço para que o inevitável Madagascar 3 reconheça a importância de seus coadjuvantes e finalmente eleve-os à condição de protagonistas que tanto fizeram por merecer.

 

11 de Dezembro de 2008

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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