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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
21/11/2003 21/11/2003 1 / 5 1 / 5
Distribuidora
Duração do filme
90 minuto(s)

Casseta e Planeta: A Taça do Mundo é Nossa
Casseta e Planeta - A Taça do Mundo é Nossa

Dirigido por Lula Buarque de Hollanda. Com: Bussunda, Hélio de la Peña, Beto Silva, Cláudio Manoel, Hubert, Reinaldo, Marcelo Madureira, Maria Paula, Deborah Secco, Toni Tornado.

Depois de produzir durante anos um programa televisivo de humor inovador e inteligente, este grupo de comediantes decidiu que já era hora de levar sua irreverência para as telas de cinema e foi incrivelmente bem sucedido em seus esforços, criando uma obra que se tornou referência para os cinéfilos de todo o mundo. Estou falando, é claro, do Monty Python, cujos seis integrantes foram responsáveis por verdadeiros clássicos, como A Vida de Brian, Em Busca do Cálice Sagrado e O Sentido da Vida. Infelizmente, este texto não é sobre a trupe britânica, mas sim sobre A Taça do Mundo É Nossa, primeiro (e, se Deus quiser, último) longa-metragem protagonizado pela turma do Casseta & Planeta.

Roteirizado pelos sete membros (sem trocadilhos) do grupo, o filme é uma bagunça do início ao fim – e não no sentido irreverente da palavra, mas sim em seu pior significado: mal-estruturado e repleto de piadas óbvias e nada engraçadas, A Taça do Mundo É Nossa se limita a recriar o mesmo tipo de humor que o Casseta & Planeta vem fazendo há anos na tevê, abusando de trocadilhos que geralmente fazem referência a sexo e de paródias musicais que não saem do lugar-comum – e que (oh!) geralmente fazem referência a sexo. E se trocadilho já não é algo suficientemente engraçado para sustentar um esquete de cinco minutos, imaginem o que acontece quando somos obrigados a assistir a mais de 90 minutos de piadas envolvendo `índios Papaxota` e, é claro, o pênis de Che Guevara (`Che, que vara!`). Para piorar, o roteiro não consegue sequer ser atual, apelando para um número musical envolvendo... a Macarena!

Como se não bastasse, os `Cassetas` recheiam todo o filme com diálogos cujo `humor` se resume a redundâncias (`A taça foi conquistada não apenas em definitivo, como também para sempre`; `São mulheres do sexo feminino`; `Um país mais justo e cheio de justiça`) – algo que se torna simplesmente irritante depois de alguns minutos (e como praticamente todos os personagens possuem o hábito do pleonasmo, o espectador é submetido a uma tortura interminável). Aliás, é interessante observar que os poucos momentos de maior inspiração do projeto são aqueles em que o humor surge de situações, e não dos diálogos, como na cena envolvendo um corretor imobiliário especializado em alugar `aparelhos` para revolucionários de esquerda e, é claro, o `debate` proposto no fim da projeção. Ainda assim, é triste constatar que muitas das situações jamais são exploradas de forma eficaz: em certo instante, por exemplo, o dedo de um cozinheiro cai no prato servido a um freguês, mas, depois de vários minutos de preparação para o desfecho da gag, nada acontece. E se reclamei do desatualizado número envolvendo a Macarena, devo dizer também que o recurso do `final alternativo` deixou de ser original desde que foi exaustivamente explorado em filmes como Os Sete Suspeitos (1985), Quanto Mais Idiota Melhor (1992) e Corra, Lola, Corra (1998).

Há, ainda, a delicada questão envolvendo a tentativa do filme em fazer humor com a época da ditadura militar no Brasil - não que provocar o riso a partir de tragédias seja algo impossível: Chaplin fez isso em O Grande Ditador; Kubrick conseguiu o mesmo em Dr. Fantástico; Roberto Benigni foi bem-sucedido em A Vida É Bela; Billy Wilder mesclou drama e comédia com sensibilidade em Inferno No. 17; e Mel Brooks acertou em cheio ao dirigir Primavera para Hitler. O problema é que, em A Taça do Mundo É Nossa, os sete integrantes do Casseta & Planeta não apenas não conseguem encontrar uma forma eficiente de satirizar os militares (a boa piada envolvendo os aviões e tanques de brinquedo é um exemplo isolado), como ainda cometem o pecado capital de transformar as vítimas da ditadura em objeto de ridículo, tentando (sem sucesso) arrancar o riso do espectador ao mostrar um estudante sendo metralhado em um jogo de futebol e também ao retratar os revolucionários como jovens alienados e drogados.

Enquanto isso, a falta de talento dos `Cassetas` como atores, que não compromete tanto o programa de televisão, acaba se tornando flagrante no filme, já que é impossível deixar de observar o tom monocórdio com que a maior parte dos comediantes diz seus diálogos ao longo da história (e é curioso observar que eles não possuem timing cômico, chegando a desperdiçar boas piadas em função de pausas e inflexões incorretas). Aliás, os únicos que conseguem algum tipo de destaque são Hubert, que transforma seu personagem (Peixoto Carlos) em uma figura interessante, e Beto Silva, que arranca algumas risadas com o General Manso. Por outro lado, chamar Maria Paula de `atriz convidada` é um insulto a qualquer atriz brasileira: especialista em interpretar mulheres `vadias` e/ou burras, a moça merece elogios por seu belo corpo, e só. Aliás, nada mais justo, já que este foi o critério óbvio utilizado pelo Casseta & Planeta ao estabelecê-la no papel de `musa` do grupo.

Plagiando descaradamente algumas piadas clássicas do Monty Python (com a desculpa esfarrapada de estar `homenageando` a trupe de ingleses), o filme, que se define como `comédia`, conseguiu a proeza de me deixar de mau humor – e, na cena em que um crítico de cinema é vítima de uma explosão ao questionar os méritos da produção, confesso que invejei seu destino, já que, ao menos, ele estava livre daquele sofrimento.

Aliás, assim como no programa de tevê, os `Cassetas` insistem em usar, neste longa, o bordão `Sacaneei!`. Infelizmente, eles sacanearam mesmo.
``

21 de Novembro de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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