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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
25/12/1980 04/12/1980 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
127 minuto(s)

Superman II - A Aventura Continua
Superman II

Dirigido por Richard Lester. Com: Christopher Reeve, Gene Hackman, Margot Kidder, Ned Beatty, Jackie Cooper, Valerie Perrine, Marc McClure, Sarah Douglas, Terence Stamp, Jack O’Halloran, Clifton James, E.G. Marshall, Susannah York.

 

Assim como aconteceria com as partes 2 e 3 das trilogias De Volta para o Futuro e Matrix e com os três filmes da saga O Senhor dos Anéis, o produtor Ilya Salkind inicialmente planejara rodar Superman e Superman II simultaneamente, como forma de maximizar os lucros com um único investimento. Assim, várias cenas desta continuação foram filmadas por Richard Donner durante os trabalhos realizados para o original, mas, numa destas decisões que ninguém compreende totalmente, o cineasta foi demitido assim que Superman – O Filme foi lançado nos cinemas e se revelou um sucesso de público e crítica. Para assumir seu lugar, Salkind contratou Richard Lester, que descartou a maior parte do material filmado por Donner (com exceção das cenas envolvendo Gene Hackman, que se recusou a voltar aos sets). O longa resultante, embora interessante e divertido, acaba refletindo o processo criativo conturbado que atravessou, apresentando boas idéias que, infelizmente, acabam sendo desenvolvidas de forma insatisfatória.

           

Retomando a história exatamente a partir do ponto em que esta foi interrompida no original, Superman II faz, durante os créditos iniciais, uma breve recapitulação dos eventos retratados no primeiro filme – e, ao relembrar as principais seqüências de ação de seu antecessor, acaba criando no público a expectativa de superá-las em dimensão e intensidade. Felizmente, neste aspecto, a continuação não decepciona: expandindo a trama para incluir cenas na França e no Canadá, Superman II resgata os três conspiradores que, no início do capítulo anterior, haviam sido trancafiados na Zona Fantasma e expulsos de Krypton. Libertados de sua prisão por acidente, eles chegam à Terra e descobrem que, aqui, têm grandes poderes – e decidem utilizá-los para dominar o planeta. Numa triste coincidência, Kal-El escolhe exatamente este momento para abrir mão de seus superpoderes a fim de se casar com Lois Lane.

           

Prejudicado por uma série de contratempos jurídicos e financeiros, Superman II já se complica ao abrir mão da presença sempre marcante de Marlon Brando, obrigando seus roteiristas (os mesmos do original) a substituírem Jor-El por sua esposa nas cenas em que o herói busca conselhos em seu banco de dados formado por cristais. Isto cria uma óbvia quebra de continuidade na série, já que, até então, Lara (a mãe de Superman) fora uma companheira silenciosa para seu brilhante marido – o que torna a ausência de Jor-El inexplicável dentro da lógica da trama. Da mesma maneira, como Hackman se recusou a refazer suas cenas ou mesmo filmar novas participações, Lester se viu levado a rodar vários planos com um dublê, com resultados nem sempre satisfatórios (observem, por exemplo, o momento em que a vilã Ursa derruba Lex Luthor ao chegarem à Fortaleza da Solidão).

           

O mais frustrante, no entanto, é a maneira displicente com que o roteiro lida com algumas de suas melhores idéias: quando Lara informa o filho de que este deverá abrir mão de seus poderes caso queira se envolver com Lois Lane, a ordem parece arbitrária, é verdade, mas ao menos abre caminho para uma situação dramática repleta de potencial. E, de fato, é tocante ver Kal-El tornando-se um mero mortal em nome de seus sentimentos pela repórter – e ainda mais fascinante é perceber que, após a transformação, ele parece desenvolver uma certa insegurança com relação aos sentimentos de Lois, como se temesse que esta pudesse deixar de amá-lo agora que já não tem mais superpoderes. Lamentavelmente, apenas alguns minutos depois de estabelecer este inteligente conflito, Superman II obriga seu protagonista a voltar atrás em sua decisão de abdicar de sua força (mesmo tendo estabelecido claramente que, uma vez mortal, ele não poderia recuperar os poderes) – e, com isto, joga no lixo a oportunidade de desenvolver o intrigante conceito.

           

Mas a continuação também enfrenta um grave problema com relação ao tom de sua narrativa: enquanto Richard Donner transitava com elegância entre as cenas dramáticas e cômicas, evitando que uma interferisse na eficácia da outra, Lester tropeça ao incluir, no meio da tensa seqüência do ataque a Metropolis, gags como a da bola de sorvete que atinge o rosto de um figurante e aquela que mostra perucas sendo arrancadas pela força do sopro dos vilões – o que inevitavelmente compromete o impacto da cena. Além disso, o diretor demonstra não confiar na inteligência do espectador ao fazer com que Superman, ao perder seus poderes, surja misteriosamente com as roupas civis de Clark Kent, o que fere a própria lógica do filme.

           

Embora responsável por um clássico que revolucionou a linguagem do documentário musical no Cinema (Os Reis do Iê-Iê-Iê, de 64), Richard Lester nunca foi um diretor dos mais confiáveis (também é dele a pavorosa continuação A Juventude de Butch Cassidy) – o que é comprovado por este Superman II. Além de perder-se no tom da narrativa, começando a retomar o estilo camp tão rechaçado pelo original (ele completaria a transição no desastroso Superman III), o cineasta jamais consegue resgatar os aspectos épicos de Superman – O Filme, que trazia vários planos grandiosos e evocativos. Por outro lado, Lester cria um clima mais ameaçador com seus três supervilões, corrigindo um dos poucos aspectos deficientes do primeiro longa. Bem mais violento do que seu antecessor, Superman II traz seqüências de ação realmente eficazes e tensas, como o ataque terrorista à Torre Eiffel e, é claro, a longa batalha entre o herói e seus três superinimigos nas ruas de Metropolis.

           

Já os aspectos técnicos acabam desapontando: substituindo Stuart Baird como montador, o mediano John Victor-Smith (colaborador habitual de Lester) permite que a narrativa se torne mais frouxa e irregular, gastando um tempo enorme, por exemplo, para estabelecer as descobertas dos vilões quanto aos seus novos poderes. Além disso, a queda na qualidade dos efeitos visuais é flagrante: da animação medíocre utilizada para criar chamas às composições ópticas mal-feitas que permitem que vejamos através dos personagens enquanto estes sobrevoam a cidade, Superman II é terrivelmente prejudicado pelos conflitos nos bastidores, o que é lamentável.

           

Por sorte, o filme acaba sendo salvo pelo mesmo elemento que contribuiu para o sucesso do original: a dinâmica e a química entre Christopher Reeve e Margot Kidder, que estabelecem o triângulo amoroso Superman-Lois Lane-Clark Kent como verdadeira alma da história. Sim, também aqui o roteiro tropeça ocasionalmente: é decepcionante, por exemplo, ver o herói buscar uma vingança mesquinha contra um humano que se aproveitara de sua fraqueza temporária durante o período em que perdera os poderes – uma atitude que busca satisfazer o público, mas que não condiz com a grandeza de valores de Superman. Ainda assim, de modo geral, é sempre um prazer ver a troca de diálogos entre Lois e Clark – e a resolução da história dos personagens, além de restabelecer a divertida dinâmica que obriga Kent a se fingir de bobo perto da repórter, serve também como prova da nobreza do protagonista, que se sacrifica para evitar o sofrimento de sua amada.

           

Representando o primeiro degrau da queda rápida e colossal na qualidade da série, Superman II decepciona menos por suas falhas reais do que por não explorar seu próprio potencial narrativo. Um filme que tinha todos os elementos ao seu favor para expandir os conceitos estabelecidos no original acabou sendo boicotado justamente por aqueles que mais deveriam se interessar em seu sucesso – o que comprova que, assim como seu personagem-título, a franquia teve que enfrentar seu próprio inimigo verde e altamente destrutivo. Não, não a kryptonita, mas algo mais mundano: o dinheiro.
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10 de Julho de 2006

 

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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