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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
04/04/2002 25/03/2003 3 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
135 minuto(s)

O Núcleo - Missão Ao Centro da Terra
The Core

Dirigido por Jon Amiel. Com: Aaron Eckhart, Hilary Swank, Stanley Tucci, Delroy Lindo, Tchéky Karyo, Alfre Woodard, Richard Jenkins, DJ Qualls e Bruce Greenwood.

Durante as décadas de 50 e 60, platéias de todo o mundo se aterrorizaram com as catástrofes previstas em filmes de ficção B, como O Dia em que a Terra se Incendiou, Guerra dos Mundos, O Dia em que a Terra Parou e O Fim do Mundo, para citar apenas alguns dos exemplos mais conhecidos (e que resistiram melhor ao tempo). Assim, é curioso que, em 2003, Hollywood tenha produzido um filme que, com exceção dos efeitos visuais mais elaborados, se encaixe tão bem naquele gênero que um dia foi tão popular.

Escrito por John Rogers e Cooper Layne, O Núcleo – Missão ao Centro da Terra tem início quando estranhos fenômenos começam a chamar a atenção dos cientistas, como o comportamento inusitado de vários pássaros em Londres e as inexplicáveis mortes simultâneas de várias pessoas em uma cidade americana. Chamado para analisar o caso, um brilhante geólogo (Eckhart) logo chega à conclusão `inevitável`: por razões desconhecidas, o núcleo da Terra parou de girar, afetando o campo eletromagnético que envolve o planeta. Com isso, a capacidade de nossa atmosfera em `filtrar` os raios de Sol será destruída em cerca de um ano, acarretando na destruição da humanidade, que `fritaria` com o calor (a fim de ilustrar seu raciocínio para os militares, o geólogo coloca fogo em uma maçã, o que não deixa de ser hilário: só assim eles foram capazes de compreender a explicação?). Para resolver o problema, um grupo de cientistas é formado com o objetivo de viajar até o centro da Terra e, utilizando cinco ogivas nucleares, reiniciar o movimento do núcleo.

Como todo filme do gênero, O Núcleo – Missão ao Centro da Terra dedica boa parte de seu tempo de projeção à apresentação de cada um de nossos heróis, que recebem o rosto de atores acima da média: o `cientista maluco` (figura obrigatória no gênero) é vivido pelo sempre simpático Delroy Lindo; o ambíguo e egocêntrico tripulante (outro clichê) é encarnado pelo competente Stanley Tucci; o coadjuvante não-americano (que facilita a divulgação do filme na Europa) é interpretado por Tchéky Karyo; e o competente piloto da missão é o mesmo ator que, há 3 anos, interpretou o ex-Presidente John Kennedy em 13 Dias Que Abalaram o Mundo. Fechando o elenco, vem Hilary Swank, que, apesar de bela e feminina (ao contrário do papel que lhe rendeu o Oscar, Meninos Não Choram), é tão convincente como piloto da NASA quanto Denise Richards foi ao interpretar uma cientista nuclear em 007 – O Mundo Não é o Bastante.

No entanto, apesar de abusar na utilização de clichês, o roteiro de O Núcleo possui a grande vantagem de saber rir de si mesmo. Assim, quando o Dr. Braz explica como sua nave pode enfrentar altíssimas pressões, ele simplesmente revela que o aparelho foi construído com um metal que ele batizou como `unobtanium` (algo como `inconseguível`) – uma bobagem que não fica muito atrás da `solobonite` citada em Plano 9 do Espaço Sideral, de Ed Wood. Além disso, o filme traz diálogos realmente interessantes, como na cena em que o hacker `Rat` (DJ Qualls) ouve alguém dizer que fala 5 línguas e responde: `Eu falo uma só: 1-0-1-0-0. E com esta língua, eu posso destruir sua vida`. (Apesar disso, a presença de um hacker nesta missão serve apenas para agradar ao público mais jovem, já que é absurdo acreditar que um fenômeno desta dimensão poderia ser escondido da população mundial apenas através do `controle da Internet`. Como as autoridades explicariam, por exemplo, a destruição de Roma e San Francisco?)

Infelizmente, em outros momentos, o bom humor do roteiro não compensa suas falhas. Vejamos, por exemplo, o centro de controle da missão: sem exercer absolutamente nenhuma função durante todo o filme, ele serve apenas para fornecer uma platéia para o drama vivido pelos `terranautas` durante sua jornada, já que tudo o que se passa no interior da nave pode ser ouvido pelos técnicos que se encontram no nível do mar. Além disso, a chefe de controle interpretada por Alfre Woodard torna-se instantaneamente especialista em geologia, apesar de ter passado toda a vida trabalhando com viagens ao espaço. E mais: ao abusar de recursos formulaicos, o roteiro permite que o espectador esteja sempre à frente da história: quando a personagem de Swank é acusada de ser incapaz de tomar uma decisão difícil, percebemos imediatamente que, no decorrer do filme, ela será obrigada a sacrificar algum de seus colegas.

Com relação à exatidão da Ciência apresentada em O Núcleo, não posso dizer muita coisa, já que nada sei sobre o assunto. Assim, sou incapaz de dizer se as camadas mais internas do planeta possuem abismos preenchidos por cristais ou se existem espaços ocos que ocasionalmente são invadidos por cataratas de lava. Porém, o que posso dizer é que o roteiro utiliza bem estes obstáculos para criar momentos de tensão, já que, ao contrário de obras como Viagem ao Centro da Terra, este filme não conta com criaturas misteriosas que habitam o interior da Terra. E, vale dizer, Rogers e Layne merecem crédito por, no mínimo, batizarem a nave como Virgílio – o poeta que conduzia Dante na Divina Comédia.

Contando com efeitos visuais apenas razoáveis, O Núcleo poderia ser um pouco mais curto, já que acaba se tornando um pouco cansativo com seus 135 minutos. Ainda assim, o filme é divertido e, em certos momentos, até mesmo empolgante. Além disso, já fazia um bom tempo desde que uma produção de Hollywood não contava com um diálogo tão `B` como: `Enquanto estivermos navegando nestas ondas de magma tudo estará bem!`.

Só esta fala já valeria o preço do ingresso.
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8 de Abril de 2003

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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