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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/07/2001 01/01/1970 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
120 minuto(s)

Não Conte a Ninguém (I)
No Se Lo Digas a Nadie

Dirigido por Francisco J. Lombardi. Com: Santiago Magill, Christian Meier, Lucía Jiménez, Giovanni Ciccia, Hernan Romero, Carlos Fuentes, Lita Baluarte, Abraham Alonso.

É realmente frustrante quando um filme nos apresenta personagens interessantes envolvidos em conflitos igualmente complexos e, de repente, decide não desenvolvê-los, optando, ao invés disso, por uma forma mais tradicional de contar sua história, negando-nos a possibilidade de conhecer melhor aquelas pessoas. Não Conte a Ninguém é um exemplo disso.

O filme conta a história de Joaquin (Magill), um jovem da classe alta que enfrenta problemas em relação à sua identidade sexual desde a infância, sempre pressionado por um pai extremamente machista. Já na universidade, ele encontra-se dividido entre o amor da namorada e a atração que sente por homens. Em sua caminhada em direção à auto-aceitação, ele mergulha em um universo de drogas e bebidas - que também serve como pano-de-fundo para que o diretor Francisco J. Lombardi (do polêmico A Boca do Lobo) faça uma severa crítica ao caos social vivido no Peru.

A primeira metade do filme é a mais interessante: nela, somos apresentados à família de Joaquin e descobrimos que o rapaz tem, desde a infância, uma predileção por homens. Esta tendência nos é revelada de forma comovente: durante uma excursão com seus colegas de sala, o menino não consegue dormir e, inseguro, abraça um amigo - que, evidentemente, fica revoltado. Envergonhado de sua atitude, Joaquin pede que ele `não conte a ninguém` sobre aquilo e, depois, reza para que Deus o ajude a mudar. Anos depois, descobrimos que ele continua a ser `diferente`, já que os rapazes de sua idade insistem em lhe tratar mal. Este fato é observado por seu pai, um sujeito machista e preconceituoso que, para se ter uma idéia, acha que matar índios é algo muito natural. Preocupado com os modos afeminados de seu filho, ele está sempre tentado despertar o lado `macho` do rapaz, levando-o para caçar, ensinando-o a lutar e até mesmo pagando prostitutas para que ele se inicie sexualmente.

Por outro lado, Joaquin também não é feliz com o que é. A cada nova prova de seu interesse por homens, ele torna-se ainda mais miserável e deprimido. Mais alguns anos se passam e agora descobrimos que ele tornou-se um universitário relapso que mantém um interesse por uma colega de sala, a bela Alejandra - o que culminará em mais uma frustração em sua busca pela própria sexualidade.

Até aí, a direção de Lombardi mostra-se sensível e atenta aos sofrimentos de seus protagonistas. A insistência de Alejandra em `curar o trauma` de Joaquin, por exemplo, é retratada de forma tocante, já que a moça encontra-se apaixonada por ele. Infelizmente, na segunda metade do filme a coisa muda de figura: a narrativa perde seu foco principal - a luta do rapaz em se aceitar - para ser ofuscada por seu mergulho no pesado mundo das drogas. É claro que seu envolvimento com os narcóticos é uma forma de fuga de sua realidade conturbada e, portanto, pertinente à história. No entanto, o que acontece é que, ao invés de ser um elemento adicional para o entendimento da personalidade de Joaquin, o vício torna-se o ponto-chave do caráter do rapaz. Assim, seus envolvimentos homossexuais subseqüentes acontecem sempre como conseqüência do fato dele se encontrar drogado, e não porque ele tenta se descobrir.

O roteiro, escrito por Giovanna Pollarolo, também não apresenta uma resolução convincente. A fim de amenizar o final para que o filme não se tornasse muito deprimente (e, conseqüentemente, um fracasso de bilheteria), Pollarolo acabou fechando a história de forma rápida demais, perdendo a força do que havia sido narrado até então. É como se depois de acompanhar a trajetória de Joaquin por anos, o filme finalmente dissesse: `Viram como era fácil resolver tudo?`. No entanto, o artifício acabou funcionando do ponto-de-vista comercial: Não Conte a Ninguém levou 600 mil espectadores peruanos ao cinema, obtendo a segunda maior renda no país depois de Titanic.

Pesando-se os prós e os contras, esta comédia dramática acaba merecendo uma conferida em função de sua coragem em abordar um tema que ainda é tabu em todo o mundo - e por provar, mais uma vez, que o diretor Lombardi é mestre quando o assunto é criar polêmica.
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25 de Agosto de 1999

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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