Datas de Estreia: | Nota: | ||
---|---|---|---|
Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/1998 | 17/10/1997 | 4 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
144 minuto(s) |
Dirigido por Taylor Hackford. Com Al Pacino, Keanu Reeves, Charlize Theron, Judith Ivey, Jeffrey Jones, Craig T. Nelson, Delroy Lindo.
Al Pacino é um dos melhores atores de sua geração. Disso todo mundo já sabe. No entanto, em O Advogado do Diabo Pacino se supera em um dos papéis mais cínicos de sua carreira. Neste filme, ele é o próprio Diabo, `escondido` na pele de um advogado bem sucedido, John Milton (o nome é uma referência óbvia ao autor de O Paraíso Perdido).
A história: Keanu Reeves é Kevin Lomax, um jovem advogado que nunca perdeu um caso em sua vida profissional. É quando ele recebe uma proposta excelente de uma grande firma de advogados de Nova York: `Milton, Chadwick e Waters`. Apesar dos avisos de sua mãe, uma religiosa interpretada por Judith Ivey (a esposa de Gene Wilder em A Dama de Vermelho), Reeves parte para a grande cidade acompanhado de sua esposa, a bela e voluntariosa Mary Ann (Charlize Theron).
No entanto, aos poucos Mary Ann vai percebendo que algo de sórdido se esconde sob a fachada respeitável da firma em que seu marido trabalha, e passa a ter certas visões assustadoras, acompanhadas de pesadelos terríveis. Mas seu marido está envolvido em um caso novo: um milionário (vivido por Craig T. Nelson de Fantasmas do Passado) está sendo acusado de matar a esposa, o enteado e uma criada, e cabe a Lomax defendê-lo. Durante o processo, porém, o jovem advogado vai descobrindo que o poderoso chefão da firma, John Milton (Pacino), possui um outro lado, assustador. Mas aí já pode ser tarde demais...
O roteiro de Jonathan Lemkin e Tony Gilroy é inteligente o bastante para não deixar óbvio, em momento algum, o motivo por trás do interesse de Milton em Lomax. Apesar da platéia saber, desde o início, que John Milton é o diabo em pessoa, a história prende ao fazer a opção de não mostrar, de fato, o monstro por baixo do disfarce. De vez em quando alguma `máscara` cai e nós podemos vislumbrar de relance todo o horror que se esconde por trás das feições que julgávamos mais agradáveis. Porém, logo depois tudo volta ao normal, deixando no espectador (e nos personagens) uma sensação angustiante, criando uma tensão muito maior do que a que seria criada se o filme abusasse dos efeitos especiais e das maquiagens monstruosas (quando estas surgem são obra do maquiador Rick Baker, um dos melhores do ramo).
Quanto às atuações, o único ponto fraco é, como sempre, Keanu Reeves. Este é, sem dúvida, um dos atores mais inexpressivos de sua geração. Durante todo o transcorrer do filme eu não podia evitar de pensar: `Por que não escalaram Johnny Depp?`. Além de Depp ser infinitamente superior a Reeves, haveria ainda a vantagem de que o ator já desenvolveu um elo com Al Pacino, com quem contracenou em Donnie Brasco. E como o `duelo` entre os personagens de Pacino e Reeves é o centro do filme... bem, mas agora é tarde para lamentações. O fato é que Reeves só não compromete o resultado do filme porque o roteiro e o restante do elenco contrabalançam sua incompetência. Observem, a título de curiosidade, que o ator desvia o rosto da câmera (ou o tampa com as mãos) sempre que é obrigado a demonstrar alguma emoção.
A direção de Hackford é eficiente, e (auxiliado pelos storyboards - espécie de versão em quadrinhos do que virá a ser o filme - e direção de arte de Bruno Rubeo) é capaz de criar uma atmosfera sufocante, tensa. O apartamento de John Milton é quase uma obra-de-arte. Outra cena feliz é aquela em que o personagem de Reeves sai andando por uma Nova York completamente vazia (existe algo mais assustador que uma grande cidade-fantasma?).
A única coisa que lamento (e que não permite que o filme atinja as `5 estrelas`) é a falta de coragem que Hollywood acaba demonstrando no final de seus filmes. É claro que não pretendo contar nada de importante nesta crítica; digo apenas que o filme teria sido infinitamente melhor se acabasse dois ou três minutinhos antes do que na verdade termina. Seria, então, perfeito. Mas não: estamos na era dos finais felizes (ou quase).
Mas nada é perfeito, e um `quase` já significa muita coisa. É como diz John Milton, em certo momento do filme: `Eu só monto o palco. Você puxam as próprias cordinhas.` Infelizmente o roteiro puxa as cordinhas erradas em alguns momentos. Mas o espetáculo final compensa.
30 de Setembro de 1998