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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
11/01/2002 28/09/2001 3 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
89 minuto(s)

Zoolander
Zoolander

Dirigido por Ben Stiller. Com: Ben Stiller, Owen Wilson, Will Ferrell, Christine Taylor, Jerry Stiller, Milla Jovovich, David Duchovny, Vince Vaughn e Jon Voight.

Ao contrário de Adam Sandler, que insiste em repetir o mesmo tipo em todos os seus filmes (alterando apenas o lado para o qual entorta a mandíbula), Ben Stiller tem se mostrado bastante versátil na caracterização de seus personagens. Compare, por exemplo, a insegurança do Ted de Quem Vai Ficar com Mary? ao temperamento explosivo do Mr. Furious de Heróis Muito Loucos ou à ansiedade do Greg de Entrando Numa Fria e entenderá o que estou falando. Em Zoolander, o ator volta a provar seu talento ao compor um sujeito completamente diferente de suas criações anteriores: o narcisista e incrivelmente burro Derek Zoolander, modelo masculino internacional.

Criado em 1996 por Ben Stiller e Drake Sather, que o utilizaram em um vídeo exibido em um evento voltado para o mundo da moda, Derek Zoolander agora ganha seu próprio longa-metragem, cujo roteiro foi escrito por Stiller, Sather e John Hamburg. Aqui, o herói é obrigado a enfrentar a ascensão de um concorrente mais jovem, Hansel (Wilson), para quem perde o prêmio de `Modelo do Ano`. Depois que seus três colegas de quarto morrem em uma explosão absolutamente hilária, Zoolander resolve abandonar a carreira para se dedicar a um propósito mais nobre: auxiliar crianças que não sabem ler `bom`. É então que seu sócio, Ballstein (Jerry Stiller), o convence a aceitar a oferta do misterioso estilista Mugatu (Ferrell), que insiste em contratá-lo como modelo principal de sua nova coleção. O que Derek não sabe é que Mugatu pretende condicioná-lo, através de hipnose, a matar o primeiro-ministro da Malásia, que luta para acabar com a exploração do trabalho infantil. Auxiliado por uma bela jornalista (Taylor), Zoolander deve encontrar uma forma de acabar com a conspiração ao mesmo tempo em que tenta reassumir o posto de melhor modelo do mundo.

Os melhores momentos desta comédia são, é claro, aqueles em que os roteiristas satirizam o universo da moda e seus integrantes: a insistência de Derek em desenvolver vários olhares sedutores (idênticos entre si) é hilária, e o duelo de passarela travado entre o herói e Hansel certamente arrancará muitas gargalhadas do público (aliás, o filme se torna ainda mais engraçado nas cenas em que Derek e Hansel aparecem juntos, já que a química entre os amigos Ben Stiller e Owen Wilson é perfeita).

Além disso, Zoolander parodia diversas outras produções – algo que vem se tornando uma epidemia nas comédias de Hollywood -, e algumas destas citações são realmente divertidas, como na cena em que os dois modelos tentam extrair arquivos de um computador e acabam recriando um momento clássico de 2001: Uma Odisséia no Espaço. Já outras piadas caem no vazio, como aquela em que Derek acusa Ballstein de traição exatamente como Michael Corleone fez com Fredo em O Poderoso Chefão – Parte 2 (isso para não citar a própria trama envolvendo `lavagem cerebral`, que foi visivelmente inspirada no ótimo Sob o Domínio do Mal).

Como se não bastasse protagonizar, roteirizar e produzir o filme, Stiller também assumiu a direção do projeto – e, assim como em seus dois trabalhos anteriores (o irregular Caindo na Real e o subestimado O Pentelho), prova ter talento para desempenhar a função. Veja, por exemplo, a seqüência em que Zoolander e seus três colegas de quarto saem para um passeio e se comportam como se estivessem em um comercial de carros: a ação flui com tamanha naturalidade, que mal estranhamos quando os jovens modelos começam a se banhar em gasolina – e, quando um deles resolve fumar, a gargalhada é inevitável. Outro momento que merece destaque é a cena de sexo protagonizada pelo interesse amoroso de Zoolander – digo apenas que poucas vezes, nos últimos anos, vi uma `mocinha` de Hollywood se entregar a esta atividade da maneira retratada aqui. Para completar, a trilha instrumental composta por David Arnold não procura ser `engraçadinha`, como tem se tornado tão comum nas comédias americanas (ver Os Queridinhos da América e O Império do Besteirol Contra-Ataca). Ao invés disso, ela brinca justamente com as contradições ao apostar em tons mais dramáticos, que, curiosamente, ressaltam ainda mais a comicidade de certas cenas.

Já o grande número de participações especiais presentes em Zoolander serve mais como distração do que curiosidade: no início, é divertido identificar as celebridades que cruzam a tela (entre elas, Winona Ryder, Cuba Gooding Jr., Natalie Portman, David Bowie, Christian Slater, Garry Shandling e Billy Zane). Com o passar do tempo, porém, o recurso torna-se apenas enfadonho. Já o elenco `real` do filme inclui Milla Jovovich (que mais parece interpretar a Natasha do péssimo As Aventuras de Alceu e Dentinho) e David Duchovny (quase irreconhecível graças à barba e aos óculos), além de Jerry Stiller e Christine Taylor – o pai e a esposa de Ben Stiller na `vida real`.

Apesar de brindar o espectador com vários momentos engraçados, Zoolander evita desferir golpes realmente certeiros no mundo da moda, satirizando apenas os absurdos mais óbvios deste universo singular. Com isso, as risadas são menos freqüentes (e intensas) do que poderíamos esperar. Mesmo assim, o filme consegue divertir e demonstra ter potencial para uma continuação – caso Derek e Hansel consigam sair da frente do espelho, é claro.
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16 de Outubro de 2001

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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