Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
02/11/2017 | 04/08/2017 | 3 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
California Filmes | |||
Duração do filme | |||
107 minuto(s) |
Dirigido e roteirizado por Taylor Sheridan. Com: Elizabeth Olsen, Jeremy Renner, Graham Greene, Kelsey Asbille, Julia Jones, Apesanahkwat, Tantoo Cardinal, Gil Birmingham, Jon Bernthal.
Depois de anos em uma carreira mediana como ator, Taylor Sheridan estreou como roteirista em 2015 como uma imensa promessa ao escrever o brilhante Sicário, voltando a acertar no ano seguinte com A Qualquer Custo – e se ambos os filmes lidam com homens áridos e violentos habitando universos similares, é perfeitamente possível encarar este Terra Selvagem como o terceiro capítulo de uma trilogia informal, já que acompanha o caçador Cory Lambert (Renner) em uma região que, embora substitua a secura dos dois primeiros longas por tempestades de neve, não é menos inóspita que a daquelas produções. Desta vez, porém, Sheridan também estreia como diretor, apresentando-se talvez não como a revelação que foi como roteirista, mas certamente como dono de um potencial que merece ser explorado.
Inspirado em fatos reais, Terra Selvagem se passa em uma reserva indígena na qual o cadáver congelado de Natalie (Asbille), uma jovem local, foi encontrado com sinais de estupro e espancamento. Deslocada para investigar o caso apenas por estar próxima da região, a agente do FBI Jane Banner (Olsen) requisita a ajuda do protagonista para se guiar na paisagem coberta de neve, sendo ocasionalmente aconselhada também pelo xerife Ben (Greene).
O interesse do diretor, no entanto, não é exatamente o de explorar a trama policial ou de criar um clima de mistério, mas sim o de investigar as motivações psicológicas daqueles indivíduos e também a maneira como os nativos lidam com a dizimação de sua cultura – e, em certo instante, ao surgir com o rosto pintado em uma “máscara mortuária”, um descendente tribal confessa ter sido obrigado a imaginar os padrões com os quais cobriu a face, já que não teve ninguém para ensiná-lo acerca dos costumes de seus antepassados. Não é à toa, aliás, que uma das primeiras imagens que vemos quando Cory chega à reserva é uma bandeira dos Estados Unidos hasteada de ponta-cabeça, sendo também importante notar como o sujeito insiste para que o filho valorize as tradições de sua família (sua ex-esposa, vivida por Julia Jones, é descendente indígena).
Claro que, sendo um pouco cínico, eu poderia apontar que, apesar das boas intenções, Sheridan faz uma opção clara por contar sua história a partir do olhar de dois brancos (os personagens de Renner e Olsen), mas a verdade é que os comentários sociais feitos pelo cineasta não são aprofundados a ponto de esperarmos algo diferente. Em vez disso, o roteiro usa a situação miserável e decadente da tribo (e de seus jovens) como uma forma de criar uma atmosfera melancólica em torno de Cory, que também lida com a dor de ter perdido a filha mais velha em circunstâncias parecidas com aquelas que vitimaram Natalie. Seja como for, isto ao menos permite que Jeremy Renner crie um personagem cujo sofrimento comove precisamente por evitar histrionismos, beneficiando-se também do cuidado com detalhes como o modo particular como segura sua arma para evitar acidentes. Enquanto isso, Elizabeth Olsen faz o que pode com uma figura que o roteiro não se preocupa muito em desenvolver, ao passo que o veterano Graham Greene combina humor e secura em uma performance que o estabelece como um Tommy Lee Jones de etnia nativo-americana.
Infelizmente, a partir do final do segundo ato, Sheridan desiste de sua abordagem evocativa ao se entregar a um tiroteio absurdo e a “revelações” sobre as circunstâncias da morte de Natalie que soam anticlimáticas quando deveriam ser o oposto.
De todo modo, é preciso reconhecer como o diretor estreante amarra bem as rimas temáticas do filme: se um de seus primeiros planos traz lobos se preparando para atacar um rebanho de ovelhas, aos poucos Terra Selvagem expõe como, no esquema geral das coisas, todos temos um pouco de lobo e ovelha. “Eu quero lutar contra o mundo”, desabafa um jovem local, em certo instante da narrativa, expondo sua frustração com tudo que o cerca – e a resposta que ouve do protagonista, em vez de atuar como consolo, apenas ressalta como a desesperança é mesmo a reação mais apropriada:
“Eu também queria, mas decidi lutar contra o sentimento em si”, ele diz, completando: “O mundo me venceria”.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival de Cannes 2017.
21 de Maio de 2017