Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
09/10/2014 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Warner Bros. |
Dirigido por John R. Leonetti. Roteiro de Gary Dauberman. Com: Annabelle Wallis, Ward Horton, Brian Howe, Eric Ladin, Tony Amendola e Alfre Woodard.
Lançado no ano passado, o terror Invocação do Mal surpreendeu por conseguir, em um gênero cada vez mais desgastado por clichês e obviedades, construir um clima de tensão constante não a partir de truques baratos, mas de uma direção cuidadosa que investia na atmosfera em vez de apenas em acordes altos na trilha sonora ou de gatos que saltavam do escuro sobre os heróis. Era uma abordagem tão intrigante que chegava a usar uma assustadora boneca não como parte essencial da trama, mas apenas para ajudar a estabelecer o tom da narrativa – e, considerando o sucesso daquele projeto, creio que era inevitável que esta pré-continuação, que se concentra justamente no tal brinquedo, fosse produzida. A boa notícia é que Annabelle é um longa relativamente eficiente; a má é que a personagem-título funcionava melhor como coadjuvante do que como protagonista.
Escrito pelo estreante no Cinema Gary Dauberman, que na TV havia roteirizado algo chamado Bloodmonkey (sobre chimpanzés assassinos), Annabelle é mais do mesmo: Mia (Wallis) é uma gestante que passa a perceber eventos estranhos na casa que divide com o marido após ser atacada pelos membros de um culto satânico que, em seus momentos finais, fazem algum tipo de encantamento que torna a tal boneca possuída por um espírito maligno. Protagonista jovem, bela e do sexo feminino? Confere. Um bebê ameaçado? Confere. Um marido que custa a acreditar na esposa e que é obrigado a partir em viagens, deixando-a sozinha em casa? Confere. Uma vizinha misteriosa que conhece algo sobre encantamentos? Confere.
Por outro lado, o diretor John R. Leonetti, que fez a fotografia do longa anterior, demonstra conhecer as convenções narrativas do gênero, utilizando-as com eficiência: o design de som, por exemplo, investe desde o início em ruídos sinistros vindos do fora de campo, em rangidos inquietantes (uma cadeira de balanço que se movimenta, uma porta distante que se abre, os assoalhos que entregam passos se aproximando e assim por diante) e, claro, nos inevitáveis sussurros que vêm sabe-se lá de onde e que a protagonista parece encarar quase como algo natural (se eu ouvisse alguém sussurrando em uma casa vazia, sairia correndo). Da mesma maneira, o design de produção constrói espaços com corredores longos e estreitos que se estendem rumo à escuridão e cujas portas entreabertas nos dois lados sugerem sustos próximos – e o fato de Leonetti constantemente apostar em quadros fechados também segue as tradições do horror, levando o espectador a antecipar o surgimento súbito de ameaças a cada leve movimento de câmera.
É natural, portanto, que tantas convenções também tornem o filme previsível – e quando a protagonista se aproxima de um objeto enquanto a trilha sonora inicia um crescendo, qualquer mínimo conhecedor do gênero sabe que a música será interrompida para um alívio rápido antes que a verdadeira ameaça surja na tela. Ainda assim, não há como negar que as convenções se tornam convenções por funcionarem quando bem empregadas, o que ocorre aqui com a fotografia carregada de sombras, a montagem repleta de cortes súbitos e os personagens moldados a partir de estereótipos mais do que familiares.
Não que Annabelle não traga momentos particularmente inspirados, pois traz: a sequência que tem início com o ataque aos vizinhos de Mia, por exemplo, é excelente ao revelar a presença de figuras ameaçadoras a partir de um ponto de vista fixo no quarto da protagonista – e, de forma similar, o plano que se mantém no interior de um elevador enquanto as portas deste insistem em se abrir no mesmo andar é espetacular e de levar qualquer um à loucura. Além disso, o filme traz um instante sensacional envolvendo o crescimento súbito de um espírito e que não descreverei para evitar que a surpresa seja arruinada.
Prendendo seus atores a tipos convencionais que jamais podem oferecer algo de novo em suas composições (e até mesmo a excepcional Alfre Woodard surge numa performance esquecível), Annabelle se beneficia da ambientação nos anos 60, fazendo referências orgânicas aos crimes da família Manson como forma de ressaltar as apreensões da heroína e de ancorar, mesmo que absurdamente, sua história num contexto realista.
Com isso, esta produção pode até não trazer nada de inovador, mas é um passatempo suficientemente divertido para não comprometer nossas lembranças do longa original.
9 de Outubro de 2014