Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
07/10/2005 | 07/10/2005 | 4 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
85 minuto(s) |
Dirigido por Nick Park e Steve Box. Com as vozes de Peter Sallis, Helena Bonham Carter, Ralph Fiennes, Peter Kay, Nicholas Smith, Liz Smith.
Quando escrevi sobre o ótimo A Fuga das Galinhas, que o brilhante Nick Park co-dirigiu (ao lado de Peter Lord) em 2000, manifestei minha esperança de que seu próximo longa contasse com a participação da dupla de personagens que o consagrou em sua carreira como curta-metragista: o inventor Wallace e seu fiel cãozinho Gromit. Porém, confesso que não tinha certeza sobre a viabilidade deste projeto: será que, afinal de contas, os personagens conseguiriam sustentar uma história com mais de 60 minutos de duração?
A resposta é um veemente `sim`: com 85 minutos de projeção, Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais é um filme sempre divertido e interessante, resgatando toda a inventividade e o bom humor que caracterizavam os curtas estrelados pelo homem orelhudo de meia-idade e seu cão sem boca. Sedentário e viciado em queijo, Wallace está se tornando um sujeito gordinho, o que desperta a preocupação de seu sensato (e inteligente) companheiro Gromit, que procura forçá-lo a fazer uma dieta. No entanto, o inventor está farto de vegetais, já que é responsável justamente pela segurança das várias hortas espalhadas por sua pequena vila, que promove anualmente um concurso que premia a maior hortaliça de todas. Sem saber o que fazer com todos os coelhos capturados ao longo do tempo, Wallace decide fazer uma experiência a fim de alterar o comportamento dos bichinhos – e, no processo, acaba criando uma criatura gigantesca que passa a devorar os legumes e verduras plantados por seus clientes. Agora, Wallace e Gromit terão que capturar o tal `coelhosomem` caso queiram recuperar o prestígio perdido.
Como não poderia deixar de ser, Nick Park e o co-diretor Steve Box realizaram A Batalha dos Vegetais empregando uma das mais antigas técnicas de animação do Cinema, o stop-motion (também conhecida como `massinha`), que consiste em modificar sutilmente as posições de bonecos e objetos feitos de plasticina e fotografá-los de maneira a criar a impressão de movimento quando estas imagens forem exibidas em uma velocidade de 24 quadros por segundo. Como o filme tem 85 minutos, isto quer dizer que os animadores tiveram que repetir o processo nada menos do que 122.400 vezes – e o resultado é simplesmente espetacular: basta observar, por exemplo, o preciosismo dos movimentos de Lady Campânula, com seus maneirismos afetados, ou a expressividade facial de Gromit, que, mesmo sem jamais falar, permite que o espectador perceba facilmente o que está passando por sua cabeça. (Além disso, confesso que acho a `tremidinha` do stop-motion um charme à parte.)
Com uma fotografia exuberante (as cenas noturnas são belíssimas) concebida pelos mesmos Tristan Oliver e Dave Alex Riddett de A Fuga das Galinhas, este A Batalha dos Vegetais é visualmente impecável, tornando-se ainda mais impressionante graças à formidável direção de arte, que só não será indicada ao Oscar caso a Academia enlouqueça de vez – afinal, além dos cenários (como a estufa do reverendo Clement, com seus crucifixos de vidro; as ruas do vilarejo; e, é claro, a casa totalmente automatizada de Wallace e Gromit), vale lembrar que, neste caso, o departamento também é responsável pela criação dos personagens, o que inclui o curioso `coelhosomem` e, é claro, Lady Campânula, cujo amor pelos coelhos é claramente manifestado por seu penteado absurdo.
Enquanto isso, Park e Box se divertem a valer ao dirigirem o filme, incluindo uma série de citações bem-humoradas que vão de King Kong às produções de horror realizadas pela Hammer. Além disso, A Batalha dos Vegetais traz uma série de gags visuais que só serão apreciadas pelo público adulto, como na cena em que Lady Campânula se coloca estrategicamente atrás de dois melões e no momento em que Wallace, para esconder sua nudez, `veste` uma caixa de papelão que traz o aviso `May contain nuts`. Da mesma forma, é impossível não admirar as piadas envolvendo metalinguagem, como aquela que revela a origem da música que acentua a discussão ocorrida em uma igreja e outra em que um personagem fecha a janela para evitar que novos relâmpagos pontuem seu monólogo apavorante.
E se O Coronel e o Lobisomem, lançado no mesmo dia nos cinemas brasileiros, trazia uma montagem absurdamente amadora, o mesmo não pode ser dito sobre A Batalha dos Vegetais, que brinda o público com uma série de transições inspiradíssimas, como no momento em que as fotos dos clientes de Wallace dão lugar aos modelos reais (numa citação clara a Cidadão Kane) ou naquele em que o cabelo de Lady Campânula é substituído por uma nuvem de formato semelhante.
Trazendo, ainda, várias seqüências de ação simultaneamente emocionantes e engraçadas, Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais representa uma experiência cinematográfica simplesmente imperdível.
07 de Outubro de 2005