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Festival de Berlim 2018 - Dia #03 Festivais e Mostras

Dia 03

Hoje assisti a seis filmes:

08) DOVLATOV (IDEM)

Ao longo dos últimos 30 anos, o escritor russo Sergei Dovlatov ganhou uma notoriedade entre leitores ocidentais que provavelmente o surpreenderia caso tivesse vivido para aproveitá-la, já que durante boa parte de sua carreira foi impedido até mesmo de publicar seus contos por um Estado que o encarava como subversivo. Aliás, é justamente este duro período de sua trajetória que o filme que traz seu nome no título busca retratar.

Ambientado na Leningrado de 1971, Dovlatov apresenta ao espectador um artista capaz de trocar socos em uma discussão sobre poesia e com um senso de humor irreverente e afiado. Sonhando em se tornar escritor desde a infância, passando pelos anos em que trabalhou como carcereiro, ele se entrega a uma frustração cada vez maior ao perceber que todos os seus esforços para conseguir ser publicado acabam esbarrando na política ou em sua própria recusa de comprometer a qualidade de seus textos para atender às exigências dos editores por um material mais superficial (“É mais honesto roubar um carro do que escrever um poema por dinheiro”, alguém diz em certo instante) – e mesmo contando com o apoio da família (incluindo o da esposa, de quem está temporariamente separado), Dovlatov aos poucos começa a cogitar a possibilidade real de jamais ter a chance de ser lido por um público maior do que aquele formado pelos amigos.

Aliás, o sentimento de comunidade é algo que o diretor Aleksey German evoca com eficiência, enfocando discussões literárias e existenciais entre o protagonista e artistas como o poeta Joseph Brodsky que são construídas através de longos planos que percorrem espaços como o escritório de uma editora, um parque que hospeda um mercado ilegal de livros e os cômodos de uma casa na qual ocorre uma pequena festa literária. Nestes momentos, o filme projeta um calor humano que contrasta fortemente com o clima constantemente gelado e claustrofóbico sugerido pela ótima fotografia, sendo inspirador ver aqueles homens e mulheres torcendo uns pelos outros.

Embora não tenha apreciado o trabalho anterior de German, Sob Nuvens Elétricas, aqui sua condução é impecável, traçando um retrato complexo de Dovlatov que evita as armadilhas manipuladoras de uma hagiografia. Enriquecido também por uma recriação de época soberba, o longa tem uma produção grandiosa, mas que jamais se julga mais importante do que os pequenos detalhes de caracterização dos personagens – e alguns dos momentos mais belos do filme são aqueles intimistas como o olhar de profundo amor que o personagem-título lança à filha ao carregá-la depois de uma festa (o ator Milan Maric é uma revelação).

Como não poderia deixar de ser, o filme também aborda o contexto político e histórico em torno das atribulações de Dovlatov, retratando-as através de diálogos ou mesmo ao empregar composições de quadros reveladores – como a que traz um pelotão marchando em uma direção enquanto o escritor se coloca ostensivamente virado para o lado oposto. Além disso, o momento mais sublime e devastador da obra é aquele no qual os operários que constroem um túnel encontram acidentalmente as ossadas de mais de 30 crianças mortas durante um bombardeio nazista da Segunda Guerra (o fato de seus brinquedos estarem intactos torna tudo ainda mais comovente).

Assim, é preciso aplaudir a inteligência de German ao contrabalançar estas passagens mais pesadas, que incluem a frustração e o desespero crescentes do escritor, com outros de eficiente bom humor (como o sonho que Dovlatov tem com Brezhnev e Fidel Castro).

E ainda que Sergei Dovlatov tenha conseguido, ainda que tardiamente, realizar seu velho sonho, é inspirador testemunhar sua história. Afinal, como ouve em certo momento da projeção, “requer grande coragem manter a integridade que não se é ninguém”.

 

09) TRANSIT (IDEM)

Ao escrever sobre Ilha de Cachorros, comentei como Wes Anderson enfrentou dificuldades curiosas para ligar duas questões naturalmente irmãs: a onda fascista que resultou na Segunda Guerra (e nesta se intensificou) e as atuais crises de refugiados que vêm revelando novas facetas xenofóbicas ao redor do mundo. Pois bem: dois dias depois de ver aquele filme (que tem outros méritos que não o comentário político), assisti a uma obra que faz esta ponte de um modo inesperado e brilhante, traçando paralelos entre épocas através de um recurso narrativo curioso.

Adaptado de um livro escrito em 1942 por Anna Segher, Transit gira em torno do refugiado Georg (Franz Rogowski, um Joaquin Phoenix alemão), que, percebendo que os nazistas estão prestes a invadir Paris, foge para Marselha depois de tentar sem sucesso entregar uma correspondência a um escritor chamado Weidel que havia sido morto uma noite antes de sua chegada. Levando as cartas e o último manuscrito do sujeito (ecos de Eva, exibido um dia antes na Berlinale), Georg acaba assumindo sua identidade ao descobrir que o consulado do México havia oferecido asilo ao escritor. Enquanto tenta conseguir carta de passagem livre pelos Estados Unidos, o rapaz acaba se envolvendo com a viúva de Weidel, que ainda acredita que este segue vivo.

E é aí que entra a sacada genial do diretor Christian Petzdold (Barbara, Phoenix): embora envolvendo uma história obviamente ambientada no período da Segunda Guerra, o filme se passa nos dias atuais. Ou quase: os personagens se comportam como figuras do passado e atravessam obstáculos mais condizentes com uma época pré-smartphones, mas percorrem a Marselha dos dias de hoje, com carros e tecnologia modernos. De maneira similar, seus figurinos seguem um estilo anacrônico, ao passo que os figurantes surgem vestidos com roupas contemporâneas. Com isso, Transit deixa patente como o mundo pouco mudou apesar de todos os avanços tecnológicos sem que para isso precise carregar em diálogos que exponham o óbvio.

Ancorado por uma performance espetacular de Rogowski, que ilustra bem as mudanças de Georg, que aos poucos passa a se importar com algo mais do que a própria salvação, o longa é, em essência um ótimo melodrama que usa as reviravoltas para manter o espectador envolvido em sua narrativa e no destino dos personagens – entre os quais a já citada viúva, Marie (Paula Beer, trágica), o médico Gerard (Godehard Giese) e a família de um refugiado morto enquanto tentava escapar de Paris com o protagonista.

Tenso, romântico e politicamente relevante, Transit é um filme que atira na cara do espectador a triste realidade de um mundo que ganhou a Internet, mas insiste em perder a humanidade.

 

10) WHAT COMES AROUND (AL GAMI’YA)

Quem me acompanha há algum tempo certamente já me ouviu (ou leu) falando como a empatia é algo que o Cinema nos estimula constantemente a praticar; foi o mestre Roger Ebert quem disse (salvo engano) que “o Cinema é uma máquina de empatia”. Esta é uma das razões por minha paixão por documentários: se a ficção já tem a habilidade de nos colocar no lugar de figuras e situações que nunca ocorreram, o documentário dá um passo além e abre as cortinas para as vidas de pessoas que não nos permitem o alívio de descartá-las apenas por serem ficcionais; quando o filme chega ao fim, aquelas vidas continuam e temos que lidar com isto, querendo ou não.

Tomemos como exemplo o longa egípcio-libanês What Comes Around, que nos transporta para uma comunidade na periferia do Cairo e é composta por barracos de alvenaria dilapidados situados ao lado dos trilhos de um trem que periodicamente atravessa a vizinhança numa velocidade alarmante enquanto crianças brincam a centímetros de suas rodas. Habitada por famílias que não podem se consolar nem com o pensamento de terem sido esquecidas pela sociedade, já que nunca foram lembradas, a vizinhança é descrita por uma moradora, no entanto, como “um bom lugar com grandes qualidades” – especialmente no que diz respeito aos seus vizinhos, que criaram uma espécie de “sindicato” para o qual todos doam uma pequena quantia semanal, entregando o dinheiro acumulado para a família que estiver precisando mais naquele momento (seja para pagar uma dívida, seja para arcar com os custos de um casamento).

Funcionando graças ao verdadeiro sentimento de companheirismo entre aquelas pessoas, que reconhecem prioridades que não as suas, What Comes Around toca ainda mais por demonstrar como o altruísmo se mostra com mais frequência justamente entre aqueles que teriam motivo para não exercê-lo – e pensem em todos aqueles que, beneficiados por uma vida de conforto, insistem em lutar contra qualquer tipo de auxílio para os que nada têm (pessoas que sonham não com viagens, mas com uma peça de roupa comum).

Envolvendo-se por alguns anos com aquela comunidade, a atriz e diretora Reem Saleh aos poucos nos torna íntimos de vários de seus membros e de suas dinâmicas familiares, que revelam – mesmo sem que este seja o foco principal do filme – detalhes tristes e surpreendentes sobre a mentalidade daquelas pessoas, como uma garotinha de cerca de 9 anos que, exibindo uma personalidade fortíssima, usa o dinheiro para pagar pela própria mutilação genital contra a vontade do pai, dizendo, mais tarde, que sonha em se casar com um homem que lhe bata três vezes ao dia para controlá-la (e, repito, a menina é um poço de intensidade, desafiando constantemente os pais, o que torna seu desejo de submissão ainda mais revelador sobre a cultura local).

Perdendo o foco pontualmente ao se entregar a tangentes que, reconheço, devem ter parecido compreensivelmente irresistíveis para a cineasta em função do entretenimento que ofereciam, este é o tipo de documentário que conduz o público por uma realidade que todos deveriam conhecer.

 

11) DIE TOMORROW (IDEM)

Em maior ou menor grau, somos todos fascinados pela morte; aliás, como poderíamos evitar esta obsessão, já que somos as únicas criaturas do planeta que têm plena consciência da própria finitude e do fato de que, assim que nascemos, um relógio entra em uma rápida e inexorável contagem regressiva até o ponto em que deixaremos de existir? Claro que alguns de nós se entregam com um pouco mais de intensidade a esta fascinação – o que parece ser o caso do diretor tailandês Nawapol Thamrongrattanarit, que, afinal, concebeu este Die Tomorrow com o único propósito de discuti-la, partindo da estatística de que cada duas pessoas morrem por segundo no planeta e usando casos reais extraídos dos noticiários para recriar as últimas horas da vida de alguns indivíduos.

Se a ideia parece mórbida... bom, é porque é. Contudo, o resultado é frequentemente hipnotizante, já que Thamrongrattanarit concebe estas ficionalizações em planos longos, sem cortes, que reforçam o escoamento do tempo daquelas pessoas. Além disso, como o espectador sabe que a morte está se aproximando, cada conversa e cada ação vistas na tela ganham um caráter definitivo e melancólico – e o elenco reunido pelo cineasta é formidável, sustentando o escrutínio contínuo da câmera e conferindo naturalismo importante às suas composições. Do mesmo modo, o diretor de fotografia Niramon Ross (experiente em filmes de terror como Espíritos – A Morte Está ao seu Lado, o que não deixa de ser ironicamente apropriado) acerta ao empregar uma razão de aspecto reduzida, de 1.33:1, para salientar uma atmosfera claustrofóbica, quase de aprisionamento, daqueles que estão para morrer.

Mas o cineasta vai além: de tempos em tempo, um timecode surge no alto da tela informando não só o tempo decorrido na projeção, mas também em quantas mortes isto se traduz (8.442 no total). O conceito de tempo limitado também é ressaltado no primeiro segmento pelo desenho de som, que inclui o tic-tac de um relógio ao fundo (felizmente, isto é abandonado depois, pois seria enlouquecedor) – e, no restante do filme, as datas precisas da morte dos personagens é apresentada através de legendas (alguns dos casos envolvem o desaparecimento do avião tailandês, em 2014, e a triste história de um empresário que teve um ataque cardíaco em uma corretora, enquanto observava a flutuação da bolsa, e só teve seu falecimento notado cinco horas depois por aqueles que o cercavam).

Porém, se se limitasse apenas a imaginar os últimos momentos dos personagens, Die Tomorrow seria apenas uma curiosidade, uma narrativa construída em torno de uma muleta (ou gimmick); para evitar isso, Thamrongrattanarit seleciona os incidentes a fim de que estes lhe permitam discutir questões diferentes sobre o tema: o que mudaria, por exemplo, caso soubéssemos com antecedência quando morreríamos? Isto seria positivo ou apenas angustiante? O que é menos pavoroso: uma partida rápida ou precedida por uma doença, que permitiria alguma preparação e despedidas? E se a ideia de deixar de existir é normalmente terrível, como o suicídio se encaixa nisto? Ou mudando o enfoque: não seria muito mais excruciante perder as pessoas queridas (como companheiros ou filhos) do que a própria vida?

Incluindo também breves entrevistas com duas crianças e com um senhor de 102 anos de idade, demonstrando uma fluidez estrutural instigante, Die Tomorrow consegue também ser ocasionalmente divertido (embora a produtora do longa se chame “A Very Sad Movie”), mesmo que por motivações ligeiramente sádicas: é impossível não rir, por exemplo, do choque de uma garotinha ao descobrir que um dia morrerá ou da fala de um menino que revela que, ao ouvir falar sobre a morte pela primeira vez, foi ao Google pesquisar do que se tratava. No entanto, o depoimento mais memorável é o do senhor centenário, que, sem parecer amargo ou rabugento, diz apenas que não aguenta mais viver, que já foi o bastante.

Em outras palavras: é positivo que não tenhamos alcançado a imortalidade desejada por alguns – ou por tantos. Viver para sempre provavelmente seria uma perspectiva ainda mais assustadora do que a consciência de que iremos morrer.

 

12) EX-PAJÉ (IDEM)

Em certo momento de Ex-Pajé, dirigido por Luiz Bolognesi, um velho membro da tribo Paiter Suruí pergunta a uma criança: “Sabe como vivemos?” Ele está se referindo ao passado, já que pretende ensinar algo ao garoto, mas este, julgando se tratar de uma questão sobre o presente, responde: “Com medo?”

É uma troca rápida, que passa em menos de dois segundos, mas que resume perfeitamente o tema do filme, que, seguindo uma tradição iniciada por Robert J. Flaherty em Nanook do Norte (1922), emprega pessoas reais reencenando acontecimentos da própria vida para a câmera e criando um registro documental ficcionalizado. Abrindo a projeção com imagens de arquivo que retratam a tribo em 1969 e saltando subitamente para 2017, chocando pelo contraste resultante da rápida destruição da cultura daquele povo pela invasão dos homens brancos, Ex-Pajé usa como guia narrativo o personagem-título, que, agora vivendo num pequeno barraco de madeira, relembra a época na qual era visto com respeito pelos companheiros: “As pessoas costumavam vir ao pajé; agora tomam uma aspirina”, ele diz em tupi-mondé, sua língua nativa.

Esta mudança, contudo, não se deve meramente à chegada da medicina moderna à tribo, mas a uma prática etnocida impiedosa por parte dos brancos – o que inclui a religião. É revoltante, por exemplo, descobrir como aqueles homens e mulheres passaram a evitar o pajé desde que um padre católico (logo seguido por pastores evangélicos) definiu sua prática como “coisa do demônio”, não deixando de ser tristemente irônico que, nas missas e cultos realizados para a tribo, o pregador tem que ter suas palavras traduzidas para a língua dos fiéis, ao passo que ali ao lado encontra-se um líder espiritual que seria compreendido por todos sem qualquer intermediário. (Bolognesi, num momento incrivelmente inspirado, ilustra esta discrepância ao trazer um padre discursando ao fundo enquanto, próximo da câmera, o ex-pajé surge fora de foco.)

Aliás, a arrogância dos colonizadores (passados e presentes) é refletida na óbvia infelicidade de Perpera (o pajé) ao empurrar seu carrinho pelos corredores de um supermercado e ao vestir camisa social e gravata para auxiliar um pregador branco, deixando patente como não, não é uma certeza que a “chegada da civilização” tenha melhorado as vidas dos povos indígenas. Por outro lado, é interessante reparar como os integrantes mais jovens da tribo têm empregado novas tecnologias para ao menos registrar seus costumes e divulgar protestos contra o desflorestamento ilegal de suas reservas. (Ainda assim, não deixa de ser triste notar o desinteresse das crianças Paiter Suruí em aprender o que os mais velhos têm a ensinar sobre sua cultura, preferindo se concentrar em videogames. Dito isso, crianças são sempre crianças, independente da história de seu povo.)

Mergulhando o espectador no cotidiano dos personagens através do ritmo contemplativo (ok, por vezes, um pouco mais do que o ideal) e do design sonoro, que nos envolve com cantos de pássaros, o barulho do vento nas folhas e com o mais puro silêncio, Ex-Pajé é mais do que uma produção interessada em retratar costumes; é também um protesto em sua defesa.

 

13) GRASS (IDEM)

Há 36 anos que Woody Allen vem mantendo a média de um filme por ano (nos últimos 40, ele só não dirigiu nada em 1981). Ao ouvir isso, o diretor sul-coreano Hong Sang-soo deve ter respondido “Hold my beer”, já que só em 2017 lançou três longas: dois exibidos no Festival de Cannes e um no de Berlim. E agora, ainda no segundo mês de 2018, ele já trouxe mais um trabalho para a Berlinale, o que sugere sua busca por algum tipo de recorde.

Mantendo sempre uma coesão nos temas, no estilo e na estrutura de suas obras, o cineasta não demonstra receio algum de ser acusado de sempre se repetir – e, neste aspecto, eu viria em sua defesa sem hesitar, já que enxergo nesta constância não “mesmice”, autoplágio ou falta de imaginação, mas uma assinatura autoral inquestionável. Assim, este Grass traz os elementos que qualquer um que acompanhe a carreira de Sang-soo já esperaria: um roteiro baseado mais nos diálogos do que na ação, longas cenas filmadas quase em plano único ambientadas em cafés e restaurantes, casais discutindo relacionamentos e amigos rindo e chorando juntos enquanto se entopem de soju.

Evitando o tédio por geralmente conseguir criar personagens interessantes e conversas que, frequentemente constrangedoras, soam naturais nas inseguranças e aspirações que revelam, o cineasta usa o minimalismo de seu estilo de direção com inteligência e eficácia, muitas vezes concebendo momentos que se tornam fortes apenas em função de um leve zoom ou de uma panorâmica que salta para alguém num ponto-chave da narrativa. Aliás, se nos planos perpendiculares à ação ele usa estas panorâmicas no lugar da montagem, quando se coloca atrás de algum personagem, filmando sobre seus ombros, Sang-soo substitui o movimento de câmera por mudanças de foco igualmente precisas, dando pequenas aulas de decupagem (divisão das cenas em planos específicos) sem depender do corte.

Mas os longos planos não são bons em Grass apenas em função do ritmo, mas também por permitirem que os atores criem uma dinâmica naturalista entre seus personagens – e, como geralmente é o caso nos trabalhos do sul-coreano, aqui o elenco é homogêneo em sua competência. Enquanto isso, a música diegética (ou “diegética”) é usada de modo orgânico para salientar mudanças de tom nas conversas, chegando a afogá-las em certos momentos.

Trazendo indivíduos solitários e patéticos que buscam algum significado em suas vidas e relacionamentos, o filme ainda conta com uma figura que, não é difícil presumir, atua como uma espécie de avatar para o próprio Hong Sang-soo, já que fica entreouvindo as interações ao seu redor à procura de inspiração para seus escritos, sugando da realidade o material para sua ficção.

Brevíssimo em seus 66 minutos de duração, Grass não é uma obra espetacular, mas, como boa parte das criações de Hong Sang-soo, é sensível e humana o bastante para merecer aplausos.

18 de Fevereiro de 2018

(Dias anteriores: #01, #02.)

Sobre o autor:

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.
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