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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
11/03/2011 01/01/1970 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
107 minuto(s)

Em um Mundo Melhor
Hævnen / In a Better World

Dirigido por Susanne Bier. Com: Mikael Persbrandt, William Jøhnk Nielsen, Markus Rygaard, Trine Dyrholm, Ulrich Thomsen.

É sempre um prazer assistir a um filme com personagens adultos que, diante de problemas similares aos que todos nós enfrentamos em nossas próprias existências, comportam-se de maneira madura e sensata em vez de se entregarem a absurdos que só soariam possíveis no cinema. Assim, ao longo de Em um Mundo Melhor, encantei-me não apenas com a delicada construção de personagens do roteiro escrito pela diretora Susanne Bier ao lado de seu velho parceiro Anders Thomas Jensen, como ainda aplaudi mentalmente a maneira com que estes se portavam diante de obstáculos difíceis e angustiantes.

Centrado justamente na relação entre aquelas pessoas e os dilemas nascidos ou do desgaste de relações ou da mais absoluta tragédia, o longa basicamente divide sua narrativa em duas vertentes: por um lado, acompanhamos as atribulações do médico Anton (Persbrandt), que, atuando em um país dominado pela miséria e por uma milícia violenta, ainda é obrigado a lidar com a dificuldade do divórcio nas raras ocasiões em que pode retornar para casa a fim de passar algum tempo com os dois filhos; por outro, somos apresentados ao garoto Christian (Nielsen), que acaba de perder a mãe e passa a viver com o pai (Thomsen), olhando-o com uma recriminação inicialmente incompreensível. Fazendo amizade com o doce filho de Anton, Elias (Rygaard), que vendo sendo vítima de bullying na escola, Christian acaba agindo de maneira excessivamente violenta, o que representa apenas o primeiro passo de uma série de ações intempestivas que protagoniza ao lado do novo amigo.

Mantendo a uma expressão sempre séria no rosto, Christian surge, a princípio, como uma espécie de primo do psicopata mirim vivido por Macaulay Culkin em O Anjo Malvado (com Elias sendo seu Elijah Wood), mas um dos grandes méritos do filme é conseguir retratar as atitudes do garoto de maneira realista, plausível, desenvolvendo também sua motivação e estabelecendo que, longe de ser meramente um menino mau, Christian é um pré-adolescente perdido que não consegue lidar com o luto – e o pai freqüentemente ausente se mostra incapaz de ajudá-lo no processo.

Não que Anton também não seja um pai ausente, já que também permanece longas temporadas em outro país; no entanto, ao contrário do personagem de Ulrich Thomsen, o médico vivido de forma maravilhosa por Mikael Persbrandt se revela um homem bem mais maduro e que encara a paternidade como algo prazeroso e de imensa responsabilidade – e é justamente esta responsabilidade que leva à melhor cena do filme, quando, agredido por um mecânico ignorante, dá uma arrebatadora lição de força e humildade a fim de ilustrar para o filho a estupidez de atitudes violentas (“Ele é um idiota. Se eu bater nele, também serei um”, explica.). Ainda assim, Anton não é retratado como anjo pelo roteiro, já que assume claramente a culpa por um ato que destruiu seu casamento – possivelmente uma aventura extraconjugal.

Usando o impulso destrutivo de Christian e a determinação pacifista de Anton como contrapontos para desenvolver tematicamente a história, Em um Mundo Melhor acaba se revelando um filme bem mais otimista do que acredita ser, o que talvez o enfraqueça um pouco. Ainda assim, este candidato dinamarquês a uma vaga no Oscar 2011 certamente conquista por defender com inteligência e maturidade a força existente num gesto de carinho ou na recusa em agredir o próximo.

29 de Outubro de 2010

Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de SP 2010. O filme viria a ganhar o Oscar de Longa Estrangeiro alguns meses depois.

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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