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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
21/09/2001 11/07/2001 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
116 minuto(s)

Pecado Original
Original Sin

Dirigido por Michael Cristofer. Com: Antonio Banderas, Angelina Jolie, Thomas Jane, Jack Thompson, Pedro Armendáriz Jr., Gregory Itzin e Joan Pringle.

Pecado Original poderia perfeitamente ser descrito como um melodrama que tenta esconder sua vulgaridade atrás de uma aura de falso refinamento. E, quando digo `melodrama`, estou me referindo, obviamente, aos artifícios baratos utilizados pelo roteiro para tentar comover e envolver o espectador, como açucarados confrontos entre os amantes vividos por Antonio Banderas e Angelina Jolie, sacrifícios feitos `em nome do amor` e tantos outros clichês do gênero. Já o `refinamento` deve ser creditado (ou debitado, dependendo do ponto de vista) ao diretor do projeto, que aposta suas fichas nos valores de produção, como figurinos e fotografia, numa tentativa vã de levar o público a ignorar a fragilidade da trama e seus diálogos. Detalhe: os dois elementos (roteiro e direção) são responsabilidade do mesmo homem, Michael Cristofer.


Inspirada em um livro de Cornell Woolrich, a história gira em torno de Luis Vargas (Banderas), dono de uma grande exportadora de café em Cuba que, percebendo ter chegado a hora de produzir um herdeiro, `encomenda` uma noiva americana (Jolie) - a quem conhece apenas através de cartas. Apesar de não desejar um romance (`Amor é para as pessoas que acreditam nele`), o sujeito logo se vê perdidamente apaixonado pela esposa e, portanto, quando esta desaparece com toda a sua fortuna, ele resolve persegui-la, sem saber se deseja matá-la ou apenas convencê-la a voltar para casa.

Sem jamais se decidir por um gênero específico (drama, romance ou suspense), Pecado Original acaba se tornando um filme confuso, já que altera o tom de sua narrativa de acordo com as necessidades de seu esquemático roteiro: em certos momentos, parece que estamos testemunhando um trágico caso de amor; em outros, um suspense envolvendo golpistas profissionais – infelizmente, nem sempre estas duas linhas se encontram. Além disso, os fracos diálogos escritos por Cristofer procuram exibir uma profundidade que não possuem, como na cena em que Jolie discursa sobre as diferenças entre amor e luxúria ou nos instantes em que os amantes discutem seu futuro.

Para complicar ainda mais, a personagem de Jolie desperta a desconfiança do público assim que aparece na tela pela primeira vez (equívoco que também deve ser atribuído à atriz e ao diretor) e, com isso, jamais nos deixamos envolver pelo romance que surge em seguida, já que estamos chocados demais com o fato de Vargas, que parecia tão sensato, não desconfiar do comportamento de sua esposa (o que também dificulta o estabelecimento de uma ligação entre o espectador e o personagem de Banderas, já que é frustrante vê-lo incorrer repetidas vezes no mesmo erro). Como se não bastasse, o filme concentra boa parte de sua força em uma série de reviravoltas que, infelizmente, são totalmente previsíveis.

Mesmo sem ter lido o romance de Woolrich, devo confessar que acredito que grande parte dos equívocos apontados acima esteja localizada nesta fonte, já que a versão desta mesma história dirigida por François Truffaut em 1969, A Sereia do Mississipi (com Jean-Paul Belmondo e Catherine Deneuve), apresentava problemas bastante semelhantes a estes (além disso, um dos piores trabalhos do cineasta, em minha humilde opinião, é justamente A Noiva Estava de Preto, que Truffaut dirigiu a partir de outro livro de Woolrich – o que tampouco é um bom indício).

Apesar de tudo, Pecado Original conta com um bom desempenho de Banderas, que constrói um homem realmente torturado pela paixão e que, apesar de reconhecer as inúmeras falhas no caráter de sua amada, não consegue deixar de adorá-la – e, consequentemente, evitar a própria queda em um universo desconhecido e assustador. Além disso, o ator estabelece uma química perfeita com Angelina Jolie, e as cenas de sexo protagonizadas pelo casal são bastante intensas e até mesmo fortes demais para os padrões atuais de Hollywood, que está cada vez mais obcecada em conseguir censuras leves para suas produções (mesmo assim, elas podem ser consideradas inocentes se comparadas às cenas de sexo existentes em certos filmes comerciais lançados na década de 80, como Coração Satânico, por exemplo). É uma pena, portanto, que Jolie seja pouco sutil ao abordar o lado sombrio de sua personagem, o que, como já dito, diminui consideravelmente a veracidade de seu romance com Vargas.

Depois de procurar esconder as origens melodramáticas da história durante quase toda a projeção, o diretor Michael Cristofer (que não esconde a obsessão pela boca de sua estrela) perde o controle no desfecho da trama, que se entrega de vez ao gênero, com direito a gritos histéricos, juras de amor e muitas lágrimas (dos personagens, não do público). Para piorar, o filme ainda tenta conciliar o melodrama ao final feliz exigido por Hollywood, o que resulta em uma conclusão ridiculamente inverossímil. Aliás, se considerarmos os finais de A.I., O Corpo e O Planeta dos Macacos, chegaremos à conclusão óbvia de que 2001, ao contrário de 1999 (quando tivemos O Sexto Sentido, Clube da Luta e Magnólia), tem sido um péssimo ano para desfechos.

Ou melhor: para filmes em geral.
``

25 de Setembro de 2001

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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