Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
02/03/2017 | 03/03/2017 | 5 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
135 minuto(s) |
Dirigido por James Mangold. Roteiro de James Mangold, Michael Green e Scott Frank. Com: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen, Boyd Holbrook, Stephen Merchant, Richard E. Grant, Elizabeth Rodriguez, Eriq La Salle.
Em certo momento de Logan, divulgado como sendo a última aparição de Hugh Jackman como o mutante que interpreta desde X-Men, o professor Charles Xavier assiste com expressão admirada a Os Brutos Também Amam na tevê de um hotel. Trata-se de uma referência mais do que apropriada, já que o herói daquele clássico era um velho pistoleiro que, depois de uma vida de violência, se distancia de tudo para tentar se livrar dos conflitos recorrentes – um esforço que é frustrado quando assassinos ameaçam a pequena família com a qual ele passou a morar e a se importar.
Pois esta é justamente a base emocional deste filme, que traz Logan tentando esquecer quem foi, mas sendo impedido ao constatar que ainda é. Bruto em sua essência, Wolverine surge aqui como um homem envelhecido e com a saúde abalada que, no ano de 2029, faz o possível para blindar o professor Xavier (Stewart) das possíveis consequências de um descontrole cada vez maior sobre seus poderes. Quando a garotinha Laura Kinney (Keen) despenca em seu cotidiano, porém, ele se vê dividido entre o desejo de não se envolver em novas batalhas e o impulso de protegê-la do capanga Donald Pierce (Holbrook) e do chefe deste, o dr. Zander Rice (Grant).
Mais do que habituado a interpretar o personagem que o lançou ao estrelato há 17 anos, Jackman desta vez é forçado a explorar novas facetas e, principalmente, a surpreendente vulnerabilidade de Logan, que tem os olhos sempre avermelhados, manca e enfrenta dificuldades até mesmo para derrotar um grupo de ladrões comuns (e gosto especialmente do detalhe da garra que se estende menos do que as outras, como se defeituosa). No entanto, não se enganem: embora tecnicamente seja um “filme de super-herói”, Logan não é uma obra de ação, mas sobre personagens lidando com as consequências de tudo que fizeram e também sobre a relação entre dois homens que viram e enfrentaram muitas coisas juntos e que agora se amam porque são tudo que resta um ao outro; se se odiassem, tudo que atravessaram teria sido em vão e esta seria uma punição intolerável demais.
Já Patrick Stewart retrata Xavier como um homem que parece prestes a se quebrar, falando com uma voz trêmula e frágil que soa como o timbre ideal para manifestar arrependimentos. Se antes o professor exibia força mesmo preso à cadeira de rodas, o que vemos agora na tela é um velhinho que pouco lembra o homem que Magneto considerava um adversário à sua altura. Já a pequena Dafne Keen é uma revelação, conferindo um olhar intenso e um autêntico ar ameaçador a Laura que, em diversos momentos, me lembrou a performance de Christina Ricci em A Família Addams (e que não haja dúvidas: isto é um imenso elogio). Realizando a proeza de convencer o espectador de sua capacidade de derrubar homens quatro vezes mais pesados do que ela, Keen combina esta força a uma curiosidade infantil fundamental para que lamentemos as crueldades cometidas contra aquela pequena assassina.
Com uma classificação indicativa mais rigorosa do que a dos longas anteriores da franquia, Logan não aproveita este fato apenas para incluir inúmeros “fucks” nas conversas (embora também o faça) ou para usar a violência de forma gratuita, utilizando-a, em vez disso, para ressaltar a natureza do perigo enfrentado pelos heróis – e é importante que os golpes desferidos por um matador como Wolverine tenham suas consequências expostas em vez de se resumirem a whoooshs estéreis que matam sem sangrar. Aliás, as lutas e demais sequências de ação são conduzidas com competência por James Mangold, que já havia feito um bom trabalho neste sentido em Wolverine: Imortal e consegue imprimir energia e velocidade a elas sem comprometer sua compreensão.
Imersa em uma atmosfera triste e nostálgica, esta é uma obra que parece genuinamente tocada pelas lembranças de todas que a antecederam – e quando Wolverine defende um grupo de jovens, por exemplo, quase ouvimos os ecos da sequência similar na qual ele protege os alunos da Escola Charles Xavier para Jovens Superdotados no segundo filme do que viria a ser uma série incrivelmente fértil. Estas relações narrativas, por sinal, representam alguns dos melhores elementos do roteiro de Mangold, Michael Green e Scott Frank, que, por outro lado, tropeça pontualmente, como ao trazer uma longa exposição gravada em um celular e que não faz o menor sentido, já que, além de incluir imagens que a autora não poderia ter registrado, o tal vídeo ainda foi montado a ponto de trazer narração em off (e tampouco creio que o longa ofereça uma explicação para – e, embora não seja algo realmente importante, não leia o restante destes parênteses caso seja um spoilernazi – a inclusão de certas coordenadas em uma revista).
Dramaticamente ambicioso, Logan procura imaginar e evocar o peso sobre os ombros que sentiria alguém que viveu tanto tempo e tantas coisas como o personagem-título, já que sua indestrutibilidade física não se reflete necessariamente em sua mente e em sua alma – e já vimos o herói amar um número suficiente de vezes ao longo dos anos para sabermos o fim que todos estes amores tiveram.
O herói apresentado neste derradeiro capítulo é, enfim, um homem cujo corpo está finalmente alcançando as ruínas de seu estado emocional. Não custa lembrar, afinal, que, assim como Logan, o título original de Os Brutos Também Amam consiste apenas de um nome composto por cinco letras.
E isto, acreditem, não é uma coincidência.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival de Berlim 2017.
17 de Fevereiro de 2017
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