Nesta coluna, já indicamos curtas-metragens de cineastas de diferentes nacionalidades, como o canadense Denis Villeneuve (Next Floor), o mexicano Guillermo del Toro (Geometria), o alemão Werner Herzog (Hércules) e o francês Albert Lamorisse (O Balão Vermelho). Agora, chegou a hora de honrar nosso país com uma obra do diretor Humberto Mauro (1897-1983), um dos pioneiros da sétima arte no Brasil.
Nascido na cidade de Volta Grande, Minas Gerais, dois anos depois dos irmãos Lumière terem feito a primeira projeção pública de imagens em movimento com o cinematógrafo, Mauro construiu uma carreira de respeito a partir da década de 1920, com longas como Brasa Dormida (1928), Lábios Sem beijos (1930), Ganga Bruta (1933) e O Descobrimento do Brasil (1936), além de ter produzido mais de 300 curtas quando trabalhou no Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE) entre 36 e 64.
Um dos filmes do final dessa fase que merece destaque é A Velha a Fiar (1964), que apresenta a divertida música popular homônima cantada pelo Trio Irakitan. Na primeira parte do curta, vemos imagens bucólicas de uma rotina rural, simples e pura. Calmamente, Mauro observa com sua câmera o ensolarado ambiente com animais e pessoas em harmonia, como se buscasse a essência daquelas atividades. Há vida (os filhotes de cachorro; a gata amamentando) e há morte (o crânio do boi; o gato caçando o rato), as principais ideias que preparam o terreno para a segunda parte.
Através da montagem dinâmica e da aceleração gradativa do ritmo, Mauro prova que no ambiente dos personagens a vida não passa de forma tão lenta assim. Após a velha (interpretada por Mateus Colaço, já que o diretor não conseguiu uma mulher para fazer o papel) ser incomodada pela mosca, inicia-se uma reação em cadeia em que o último sempre faz mal ao anterior. Enquanto o simbólico fio da vida vai sendo formado em um processo sem fim (a velha em sua roca que nunca para de girar representa a passagem do tempo), os participantes passam por ciclos de superioridade e inferioridade, apenas para serem todos derrotados pela “inevitável” que sempre chega ao final.
Vale destacar também a criatividade com que Mauro retrata as sequências, fazendo uso de ilustrações, stop-motion e cômicas aranhas, ratos e moscas de plástico, componentes que se distanciam do realismo da primeira parte e evidenciam a força do cinema como construção. Confira:
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