Em 2006, o carro que estava sendo dirigido por Joaquin Phoenix (Ela) perdeu os freios e acabou batendo, deixando o ator de cabeça para baixo e preso em um veículo que já vazava gasolina. Felizmente, ninguém menos que o diretor Werner Herzog estava por perto e conseguiu salvar Phoenix, que relembra: “Havia essa voz alemã dizendo ‘Apenas relaxe’. Existe algo que é tão calmo e lindo na voz de Herzog. Eu me senti completamente bem e seguro” (como curiosidade, uma animação foi produzida recontando o episódio).
É impossível discordar do ator. Quem conhece o trabalho do cineasta sabe o peso que essa voz carrega em cada um de seus documentários. E exatamente por isso é tão acertada a decisão de Ramin Bahrani (do elogiado 99 Homes) de contratar Herzog para dublar seu curta Plastic Bag, que acompanha a simbólica jornada de uma sacola plástica, desde seu nascimento e a relação próxima com a criadora (“Minha pele contra a pele dela”) até o momento em que é descartada e passa a questionar sua frágil, mas extensa existência.
Jornadas intimistas como essa não são estranhas à filmografia de Herzog, como podemos observar em O Pequeno Dieter Precisa Voar (1997) e Juliane Cai na Selva (2000), filmes que apresentam as histórias reais de duas pessoas que sobreviveram em situações extremas na natureza. Assim como eles, muitos personagens do cineasta alemão se veem em cenários em que precisam lidar com a morte sempre à espreita, afinal “o denominador comum do universo não é harmonia, mas caos, hostilidade e assassinato” (frase de O Homem Urso, de 2005). Justamente por isso, é curioso ver Herzog tratando não de uma morte iminente, mas de uma imortalidade concreta em um mundo onde predomina a falta de sintonia entre os homens e a natureza.
De forma semelhante a O Homem Que Plantava Árvores, essa preocupação ambiental de Plastic Bag é apenas um pretexto para uma tocante história e não chega a ser panfletária. E se o diretor Albert Lamorisse conseguiu dar personalidade a um objeto inanimado em O Balão Vermelho, Bahrani também cumpre esse papel no curta. Como em uma das principais cenas de Beleza Americana (1999), a sacola protagonista também “dança” a cada corrente de ar, mas certamente uma das sequências mais belas acontece no reflexo de uma poça d'água.
Confira:
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