Com descendência irlandesa e altamente influenciado por esta, o cineasta britânico John Michael McDonagh é quase desconhecido no Brasil. Aliás, ele é quase desconhecido e ponto. E, no entanto, ele é tão talentoso quanto o irmão, Martin McDonagh, responsável pelo brilhante Na Mira do Chefe. Aliás, de certa forma, John é mais consistente do que Martin, já que este comandou depois o fraco Sete Psicopatas e um Shih Tzu, ao passo que o primeiro realizou dois ótimos filmes: O Guarda e Calvário. (Os irmãos agora estão trabalhando em seus terceiros filmes.)
Mas falemos de O Guarda: à primeira vista, esta poderia ser mais uma comédia policial convencional planejada para explorar a dinâmica hostil entre dois representantes da lei, um delegado irlandês (Brendan Gleeson) e um agente do FBI (Don Cheadle). O primeiro tem um estilo calmo, preguiçoso, por ter se adaptado ao ritmo lento da cidadezinha na qual trabalha; o segundo é um homem ativo, cheio de energia, que parece sempre querer provar a própria competência. No entanto, aos poucos O Guarda se destaca ao provar que pretende fazer mais do que explorar um humor óbvio construído a partir do contraste entre os dois homens: por baixo das piadas, o roteiro exibe carinho pelos personagens e compreende suas motivações.
Com isso, o filme apresenta um arco dramático que o torna bem mais ambicioso e bem sucedido, usando a trama policial e o humor (muitas vezes beirando o absurdo) para estudar estes personagens e levar o espectador a se importar com eles. E apenas Gleeson e Cheadle já valeriam a experiência.
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Um grande abraço e bons filmes!
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Episódio #04: Tempo de Despertar
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Episódio #02: Tyke: Elephant Outlaw
Episódio Piloto: 21 longas para começar.