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Embora eu seja fã incondicional de documentários, normalmente não recomendaria dois deles em sequência, já que busco variar os gêneros e estilos dos filmes que indico aqui na coluna. Porém, Amanda Knox, que foi produzido pela Netflix e lançado nesta sexta-feira, certamente é um título que despertará o interesse daqueles que, nos últimos meses, se viram capturados por The Jinx, Making a Murderer e O.J.: Made in America.
Ainda que não esteja no mesmo nível dos anteriores - até por contar com uma duração bem menor e, portanto, não poder desenvolver com detalhes sua narrativa -, Amanda Knox é um registro bastante interessante sobre o assassinato da britânica Meredith Kercher, assassinada em 2007 na casa que dividia com a personagem-título na cidade italiana de Perúgia. Depois de chamar a polícia ao descobrir traços de sangue no banheiro e perceber que a porta do quarto de Kercher estava trancada, Knox acabou sendo presa ao lado do namorado (de apenas uma semana) Rafaelle Sollecito.
Entrevistando Knox, Sollecito, o promotor Giuliano Mignini e o jornalista inglês Nick Pisa, os diretores Rod Blackhurst e Brian McGinn nem precisam se esforçar muito para que estes dois últimos exponham as fragilidades de seu caráter: enquanto Pisa é o retrato do repórter sensacionalista que não enxerga o estrago que faz (ou não se importa) com suas matérias repletas de dados incorretos ("O que eles esperam que eu faça? Que confirme a informação com outra pessoa antes de publicar?", ele diz em certo ponto, sem perceber que acaba de descrever a função do jornalista), Mignini é um promotor no mínimo incompetente, deixando-se levar também pelo próprio machismo ao decidir transformar Knox em sua presa.
Aliás, se há algo que fica claro ao longo da produção é como seguimos atrasados em nossa percepção sobre a sexualidade feminina: não demora muito até que Knox seja chamada de "devoradora de homens" (apenas por já ter tido sete parceiros) e passe a ser retratada por Mignini e pela mídia como uma "manipuladora" que usa o sexo como arma. E ouvir o promotor, com suas fantasias assumidas de Sherlock Holmes, chegar a "conclusões" sem qualquer base factual, apelando para uma psicologia barata e incorreta, é algo que inspiraria o riso caso não tivesse consequências tão graves.
Mesmo não contando com o apelo do "mistério" que prevalecia em Making a Murderer, com a personalidade assustadora de Robert Durst em The Jinx ou com o resgate de um fenômeno cultural e sociológico como O.J. Made in America, Amanda Knox é um documentário bem construído sobre um caso com elementos suficientemente instigantes para render uma boa narrativa.
Clique na imagem abaixo para assistir.
Um grande abraço e bons filmes!
Outras edições da coluna:
Episódio #25: Audrie & Daisy
Episódio #24: A Ponta de um Crime
Episódio #23: Cartel Land
Episódio #22: ARQ
Episódio #21: Sete Homens e um Destino
Episódio #20: Alan Partridge: Alpha Papa
Episódio #19: Stranger Things
Episódio #18: Em Nome de Deus
Episódio #17: The Invitation
Episódio #16: A Mulher Faz o Homem
Episódio #15: Branco Sai Preto Fica
Episódio #14: O Rei da Comédia
Episódio #13: Jesus Camp
Episódio #12: O Barco: Inferno no Mar
Episódio #11: A Fortuna de Ned
Episódio #10: Amy
Episódio #09: In the Loop
Episódio #08: Life Itself
Episódio #07: À Procura de Elly
Episódio #06: O Guarda
Episódio #05: Triângulo do Medo
Episódio #04: Tempo de Despertar
Episódio #03: A Trapaça
Episódio #02: Tyke: Elephant Outlaw
Episódio Piloto: 21 longas para começar.