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Quando tentava decidir qual seria minha primeira indicação em 2017, debati internamente quais seriam as características do filme que iria abrir o ano: queria algo leve e otimista, mas sem negar a realidade que nos cerca. Algo que inspirasse, mas sem mensagens artificiais. Uma história que demonstrasse por que devemos nos manter ativos em nossas lutas e sonhos, mas que reconhecesse as dificuldades que enfrentaríamos.
E aí me lembrei de Transfatty Lives, que vi no Festival de Tribeca 2015.
Estrelado e dirigido pelo norte-americano Patrick Sean O'Brien, este documentário começou a ser rodado quando seu protagonista, um DJ, cineasta e "personalidade da Internet", descobriu ser vítima daquela que considero uma das doenças mais crueis que existem (e que matou um tio querido, há muitos anos): a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica). Degenerativa e incurável, a doença começou a se manifestar quando O'Brien tinha 30 anos de idade - e menos de dois anos depois, ele já se encontrava numa cadeira de rodas. O que marcava apenas o princípio da progressão deste mal.
E foi aí que o rapaz, cujo nome artístico é "Transfatty", optou por não se entregar ao inevitável, iniciando este projeto formidável. Dono de um humor admirável, O'Brien demonstra também uma coragem inacreditável ao se expor ao longo do filme de uma maneira franca e, muitas vezes, dolorosa. Ao mesmo tempo, auxiliado por amigos e parceiros de trabalho, ele insiste em se manter ativo, criando Arte e mesmo bolando performances que se aproximam de "pegadinhas".
Transfatty Lives nem sempre é um filme fácil de assistir, é verdade - mas sabe disso e busca aliviar a carga sobre o espectador através de momentos de surpreendente leveza. E é uma obra inspiradora: quando a sessão em Tribeca chegou ao fim e o próprio Transfatty foi até a frente do auditório para responder perguntas do público (auxiliado pelo sistema de vocalização de seu computador), lembro-me de ter tuitado: "O cara dirigiu um filme sem conseguir se mover, falar ou se alimentar. E eu às vezes reclamo do wi-fi".
Esta é uma lição que Transfatty Lives pode nos fazer lembrar ao longo de 2017: temos muito o que fazer e nenhuma desculpa para deixar de fazê-lo.
Um ótimo ano para todos.
Clique na imagem abaixo para assistir.
Um grande abraço e bons filmes!
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