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COMO NOSSOS PAIS - Entrevista com Maria Ribeiro Brasil em Cena

#somostodasRosa

Maria Ribeiro está em praticamente todas as cenas de Como nossos pais, quarto longa metragem dirigido pela cineasta Laís Bodanzky, que estreia nesta semana no Brasil. O filme conta a história de Rosa, mulher de 38 anos que se desdobra para ser profissional, mãe e esposa, lidando com conflitos familiares, desejos e frustrações pessoais.

Poucos dias antes da estreia nacional, Maria recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado por esta atuação. “É impressionante o número de mulheres que vem me dizer o quanto se identificaram com Rosa, e eu acho que ela é mesmo um símbolo da mulher do século 21”, diz Maria nesta entrevista exclusiva ao Cinema em Cena.


Crédito das Fotos: Priscila Prade

 

Cinema em Cena: Como nossos pais é um autêntico estudo de personagem no qual Rosa, que você interpreta, está praticamente em todas as cenas, e sempre em conflitos. Como foi o processo de composição dessa personagem?

Maria Ribeiro: A Rosa é uma personagem muito maravilhosa. Quando eu recebi o roteiro, a personagem já era muito rica, e eu sempre quis falar dessas questões. É um tema que me é muito caro, eu tenho prazer nesse cinema de comportamento: Domingos de Oliveira, Woody Allen, a própria Lais, um cinema meio dentro de casa, que tem momentos supostamente não tão grandiosos, mas que são grandiosos para quem está vivendo. Rosa é muito próxima de mim, das minhas amigas, ela traz temas que a gente está o tempo inteiro falando: como é que a gente vai dar conta de tudo, como é que você vai evoluir a sua relação com a sua mãe quando ela envelhecer. E, também, como não repetir com os seus filhos o que você recebeu dos seus pais e não concorda. Então, foi realmente um mergulho absoluto. Conversei com todas as pessoas que eu pude, as que tinham relações mais de conflito com a mãe. O tempo inteiro, eu sabia que ter esse personagem era como ter uma joia na mão e que, se eu não atrapalhasse, seria legal! 

Cinema em Cena: Os diálogos nesse filme transmitem muita naturalidade. Houve algum tipo de criação coletiva nos ensaios, ou já durante o set, que tenha sido incorporado ao roteiro ou ele já era exatamente o que a gente vê na tela?

Maria Ribeiro: Nunca é, né? A gente sempre coloca na nossa boca, dá uma adaptada. Mas o roteiro já era muito bom. Há uma cena, na praia, na qual Rosa e Pedro (Felipe Rocha) estão falando sobre hábitos machistas, e eu achei que ela poderia citar um exemplo, como o de que o homem sempre quer dirigir, quando está com uma mulher. Aquilo brotou na hora, fazia sentido e incorporamos. Mas o diálogo já era certeiro, tinha uma construção de naturalidade muito grande, que está evidente na tela.

Cinema em Cena: Você acha que a Rosa, é a mulher do século 21, por excelência? Ela define esse comportamento da mulher?

Maria Ribeiro: Eu acho que sim, porque é impressionante o número de mulheres que vêm falar comigo e diz: “a Rosa, sou eu, sou eu!” Estou até querendo criar a hashtag #somostodosRosa, porque realmente é impressionante a identificação das mulheres com essa personagem (risos).

Cinema em Cena: Por outro lado, você acha que os homens vão ter algum tipo de reserva com essa história, não querendo se identificar com o Dado, marido da Rosa, vivido pelo Paulo Vilhena, justamente por ele ser mais passivo?

Maria Ribeiro: Eu acho que não, porque o Paulo defende muito bem o personagem dele. O Dado não é um cara do mal, é alguém que tem uma postura de “eu tô tentando”. Ele tem um passivo, uma questão cultural que, afinal, não é culpa dele. Até agora, a experiência que eu tenho tido, tanto na Europa, quanto no Brasil, como durante o Festival de Gramado, é dos homens gostarem muito do filme e agradecerem. Um filme desses, com essa história, contada de uma maneira tão verdadeira, não é para machucar, a gente só quer equilibrar um pouco mais para tirar um pouco o peso de cima das mulheres.

Cinema em cena: É uma percepção correta entender que, como a personagem Nora, da peça de Ibsen, citada no filme, Rosa também tem um final aberto?

Maria Ribeiro: Eu acho que sim, e eu gosto de um cinema que faz perguntas, mais do que dá respostas. O espectador pode pensar o que quiser, e eu acho isso incrível. Eu acho que é generoso e conta com a inteligência do espectador, para não ficar aquela coisa mastigada.

Sobre o autor:

Alessandra Alves é jornalista com múltiplos interesses. Além do amor pelo cinema, pela música e pela literatura, também atua no jornalismo esportivo e na comunicação corporativa. Paulistana, corintiana, feminista e inimiga de fascistas, assina a coluna "Brasil em Cena", de entrevistas e reportagens sobre o cinema brasileiro contemporâneo.
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