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68 - Oscar 2013: Previsões Finais Conversa de Cinéfilo

Amigos do Cinema em Cena,

sempre digo que o Oscar é previsível – mesmo quando achamos que não será (o que ocorreu ano passado, quando falei que estava inseguro ao apontar minhas previsões e acabei acertando boa parte delas). Apontar quem vencerá nada tem a ver com cultura cinematográfica, faro jornalístico ou sorte, mas apenas com a observação cuidadosa da indústria: quais estúdios estão investindo mais em publicidade; quantos eventos foram produzidos para divulgar cada candidato (exibições com presença da equipe, festas, etc); quais foram os vencedores do DGA, SAG, PGA, WGA e de outras guilds?

Quem tem uma história interessante a ser contada caso vença? Matthew McConaughey está excepcional em Clube de Compras Dallas, mas igualmente importante é perceber como ele se afastou das comédias românticas rasas que dominaram boa parte de sua carreira e reconstruiu sua trajetória artística de cinco filmes para cá. Lupita Nyong’o é uma desconhecida que subitamente se transformou em indicada ao Oscar por um filme que lida com o mesmo racismo que prejudica boa parte dos atores em Hollywood.

E por aí afora.

Claro que é preciso levar em consideração um fator extra incrivelmente importante: a metodologia empregada pela Academia para contar os votos, que costuma prejudicar filmes que tendem a dividir o público (mesmo contando com o apoio de um grupo considerável) e a recompensar aqueles que atingem algum consenso. Neste sentido, ser colocado na segunda posição da célula de votação é incrivelmente importante – e não duvido que Trapaça esteja ocupando, por exemplo, boa parte das cédulas justamente nesta posição, o que pode beneficiá-lo. (Publiquei um post no blog sobre este sistema de votação.)

Dito isso...

Filme

Vai vencer: 12 Anos de Escravidão.

Explicando a escolha: Venceu prêmios importantes. É um filme importante. E incrivelmente bem realizado. Toca numa questão social que, racistas em negação à parte, permanece atual. Por outro lado, Gravidade é um trabalho revolucionário à sua própria maneira e alcançou bilheteria colossal, o que a Academia costuma levar em consideração – especialmente em seus esforços crescentes para soar “relevante” (seja lá o que signifique isso).

Qual seria meu voto: Ela.

Se vencer, eu mato um: Philomena.

 

Diretor

Vai vencer: Alfonso Cuarón.

Explicando a escolha: Embora Gravidade seja admirado por muitos, a importância de 12 Anos de Escravidão tende a sobrepujar suas chances de vencer na categoria principal e, assim, o prêmio de Direção seria uma forma de dividir as honrarias – e com a vantagem de ainda fazer História ao celebrar o primeiro latino-americano a vencer nesta categoria. Por outro lado, Steve McQueen também faria História ao ser o primeiro negro vencedor como Melhor Diretor – e, considerando que seu filme tende a ganhar, isto pode beneficiá-lo. E, claro, eles podem dividir os votos e abrir espaço para o famoso “segundo colocado” que discuti mais acima, o que beneficiaria David O. Russell (ou, com menos chances, Alexander Payne ou Scorsese. Vá saber.). Mas acredito que Cuarón leva.

Qual seria meu voto: Cuarón, que empregou a falta de gravidade para criar uma narrativa inovadora em sua linguagem visual.

Se vencer, eu mato um: Gosto de todos os indicados, mas seria triste ver O. Russell premiado por imitar Scorsese.

 

Ator

Vai vencer: Matthew McConaughey.

Explicando a escolha: Uma atuação espetacular que mantém o controle absoluto sobre a trajetória do personagem. E, além disso, um ator que se reinventou quando todos o consideravam descartável ou próximo do esquecimento. Sim, Bruce Dern conta com a vantagem de ser um veterano admirado (além de ter sido aquele quem fez campanha mais pesada durante os últimos meses, quando participou de inúmeras festas e eventos) e DiCaprio já foi excessivamente ignorado pela Academia, mas este ano parece mesmo ser de McConaughey.

Qual seria meu voto: McConaughey.

Se vencer, eu mato um: Gosto de todos.

 

Atriz

  1. vencer: Cate Blanchett.

Explicando a escolha: Venceu tudo até agora. Está fantástica no filme. Detratadores de Woody Allen tentaram prejudicá-la apenas por associação ao diretor e isto tende a irritar a Academia.

Qual seria meu voto: Blanchett.

Surpresa que não me desagradaria: Sandra Bullock (embora ela tenha vencido seu Oscar por uma atuação patética em um filme repugnante há apenas alguns anos).

Se vencer, eu mato um: Meryl Streep, que nem merecia ter sido indicada. (A não ser, claro, que o prêmio se chamasse – como apontou meu amigo Josh Ralske – “Mais Atuação” em vez de “Melhor Atriz”.)

 

Ator Coadjuvante

Vai vencer: Jared Leto.

Explicando a escolha: Outro que venceu tudo até agora e ainda conta com a vantagem de viver um tipo de personagem trágico que a Academia adora. Aliás, só vejo uma pessoa capaz de derrubá-lo: Barkhad Abdi. Por quê? Ora, ele é pobre, se transformou de ator da noite para o dia, quase por acidente, e está ótimo no filme. Vê-lo diante dos milionários de Hollywood recebendo um Oscar seria um momento inesquecível.

Qual seria meu voto: Barkhad Abdi.

Se vencer, eu mato um: Gosto de todos.

 

Atriz Coadjuvante

Vai vencer: Lupita Nyong’o.

Explicando a escolha: Se não é possível premiar Abdi, por que não premiar outra atriz desconhecida que rouba suas cenas em um filme impactante que aborda justamente a questão racial que torna sua indicação (e a de Abdi) tão surpreendente? Além disso, é estranho premiar 12 Anos de Escravidão como Melhor Filme e ignorá-lo em todas as outras categorias principais. Mas eu não ficaria surpreso caso Lawrence, a Menina-Fenômeno, vencesse.

Qual seria meu voto: June Squibb.

Se vencer, eu mato um: Julia Roberts ou Jennifer Lawrence (adoro esta última, mas, como argumentei na crítica, sua escalação me pareceu muito problemática em Trapaça).

 

Roteiro Adaptado

Vai vencer: 12 Anos de Escravidão.

Explicando a escolha: Para compensar a falta do prêmio de Melhor Diretor. Seria estranho ter um Melhor Filme que não tivesse o Melhor Diretor nem o Melhor Roteiro.

Qual seria meu voto: Antes da Meia-Noite.

Se vencer, eu mato um: Não sou louco por Philomena, mas seu roteiro é competente e sou fã de Steven Coogan. Então... ok, nenhum me irritaria muito.

 

Roteiro Original

Vai vencer: Trapaça.

Explicando a escolha: Eu quero apostar em Ela. Quero acreditar que a Academia reconhecerá o brilhantismo do filme. Mas Trapaça se beneficia do consenso que mencionei lá em cima e, como não deverá vencer nada mais importante, aqui seria a oportunidade de celebrá-lo. E isso seria frustrante – não porque seu roteiro é ruim (pois não é), mas porque relegaria o brilhantismo de Ela ao segundo plano.

Qual seria meu voto: Ela.

Surpresa que não me desagradaria: Por favor, Ela, vença.

 

Filme Estrangeiro

Vai vencer: Alabama Monroe.

Explicando a escolha: Esta é uma categoria dificílima, este ano. A Grande Beleza foi universalmente celebrado e A Caça aborda um tema que não apenas é complexo, mas atual (vide Woody Allen). No entanto, este ano a Academia mudou as regras e todos podem votar nesta categoria sem a necessidade de comprovarem ter visto os cinco indicados. E Alabama Monroe é impactante demais, do ponto de vista emocional, para ser ignorado por quem o viu. Claro que estou contando com a possibilidade de muitos terem visto o filme, já que é mais provável que A Grande Beleza tenha sido visto pela maioria. Mas...

Qual seria meu voto: A Imagem que Falta, sem pensar duas vezes.

Surpresa que não me desagradaria: Gosto dos cinco indicados, mas A Imagem que Falta é infinitamente superior aos demais. Se não vencer, ficarei frustrado. Ficarei frustrado.

 

Animação

Vai vencer: Frozen.

Explicando a escolha: Let it Go. (Mas lembrem-se de que Vidas ao Vento é a despedida de Miyazaki.)

Qual seria meu voto: Frozen. Mas ver Miyazaki vencer com seu filme de despedida seria um belo momento e não me irritaria.

Se vencer, eu mato um: Meu Malvado Favorito 2 é pavoroso. Que tenha sido indicado é uma vergonha.

 

Fotografia

Vai vencer: Gravidade.

Explicando a escolha: Emmanuel Lubezki nunca venceu um Oscar e é um dos melhores diretores de fotografia da atualidade. E seu trabalho em Gravidade é, como apontei em minha crítica, revolucionário. Também amo o trabalho de Roger Deakins (outro gênio jamais Oscarizado) em Os Suspeitos, mas... gravidade zero!

Qual seria meu voto: Gravidade.

Se vencer, eu mato um: Qualquer um além de Lubezki ou Deakins.

 

Design de Produção

Vai vencer: O Grande Gatsby.

Explicando a escolha: Chama atenção para si mesmo (e merecidamente, já que é co-responsável pelo sucesso narrativo do filme), é grandioso e estilizado na medida certa. Também sou encantado pelo universo criado em Ela, que sugere um mundo futurista, mas sempre plausível, e considero a recriação de 12 Anos de Escravidão belíssima. Trapaça flerta com a estilização excessiva, mas funciona, ao passo que Gravidade cria um ambiente sempre plausível e mesmo claustrofóbico – mesmo quando estamos fora das cápsulas (e aposto que Gravidade só foi indicado porque a Academia finalmente mudou o nome da categoria para Design de Produção, já que Direção de Arte parece resumir a atuação deste departamento aos cenários – o que está longe de ser o caso).

Qual seria meu voto: Ela.

Se vencer, eu mato um: Todos são bons candidatos.

 

Figurino

Vai vencer: O Grande Gatsby.

Explicando a escolha: Por todos os motivos acima. A diferença é que aqui, sim, o excesso de estilização de Trapaça me impediria de votar em Michael Wilkinson.

Qual seria meu voto: O Grande Gatsby.

Se vencer, eu mato um: Eu entenderia até a vitória de Trapaça.

 

Montagem

Vai vencer: Capitão Phillips.

Explicando a escolha: A briga fica entre Capitão Phillips e Gravidade. Acho que os dois estão praticamente empatados, mas como o filme de Paul Greengrass não vencerá mais nada, este talvez seja seu prêmio de consolação. E não será injusto.

Qual seria meu voto: Capitão Phillips.

Se vencer, eu mato um: Todos são excelentes trabalhos.

 

Maquiagem

Vai vencer: Vovô Sem Vergonha.

Explicando a escolha: Quero deixar claro que errei na previsão acima, pois a Academia dificilmente terá coragem de premiar um filme da série Jackass – mesmo que o trabalho de envelhecimento tenha sido eficiente ao convencer até mesmo pessoas comuns que o viram ao vivo. Assim, Clube de Compras Dallas levará este prêmio por tabela, já que o fracasso comercial de O Cavaleiro Solitário também o torna inviável como vencedor.

Qual seria meu voto: Vovô Sem Vergonha. Deus do céu, eu escrevi isso.

Se vencer, eu mato um: Nhé.

 

 

Trilha Sonora

Vai vencer: Gravidade.

Explicando a escolha: Serei honesto. Não faço a menor ideia de quem vai vencer e preciso chutar. E quando você tem que chutar, é sensato escolher aquele que tem maiores chances de acumular estatuetas ao longo da noite.

Qual seria meu voto: Ela.

Se vencer, eu mato um: Walt Disney nos Bastidores de Mary Poppins. Que, apesar do título brasileiro, não é um filme erótico.

 

Canção Original

Vai vencer: Let it Go, de Frozen.

Explicando a escolha: Uma canção linda em um filme lindo e que, de quebra, virou meme.

Qual seria meu voto: Let it Go!

Se vencer, eu mato um: Let it Go tem que vencer. Simplesmente tem que vencer.

 

Som

Vai vencer: Gravidade.

Explicando a escolha: Este anos, os prêmios técnicos irão todos para o filme de Cuarón. E a Academia, como um todo, não sabe votar muito bem em Som e Edição de Som, o que é lamentável.

Qual seria meu voto: Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum.

 

Edição de Som

Vai vencer: Gravidade.

Qual seria meu voto: Gravidade.

 

Efeitos Visuais

Vai vencer: Homem de Ferro 3. HA! PEGADINHA DO MALLANDRO! Claro que é Gravidade, jacu.

Qual seria meu voto: Gravidade.

Se vencer, eu mato um: Qualquer um que não seja Gravidade.

 

Documentário

Vai vencer: A Um Passo do Estrelato.

Explicando a escolha: Gosto dos cinco candidatos (um pouco menos de Guerras Sujas, mas ainda assim gosto). Todos mereceriam o prêmio, mas The Act of Killing é o documentário do ano, apontando suas câmeras para um grupo de psicopatas e permitindo que estes exponham o grau de sua desumanidade sem filtro algum. E é justamente por isso que este filme não vai vencer – é pesado demais para o membro médio da Academia: o homem branco acima dos 60 anos. Este cara gosta é de histórias emocionantes, não deprimentes. Cutie and the Boxer é estrelado por um casal de asiáticos idosos, Guerras Sujas é sobre um tema que a Academia parece considerar batido e The Square é político e complexo demais para o gosto desse eleitor “Homer Simpson” (ei, William Bonner!). Sobrou o belo A Um Passo do Estrelato.

Qual seria meu voto: The Square.

Surpresa que não me desagradaria: Cutie and the Boxer.

Se vencer, eu mato um: Guerras Sujas é o que menos merece vencer.

 

Curta Documentário

Vai vencer: The Lady in Number 6.

Qual seria meu voto: Vi apenas dois dos cinco indicados.

 

Curta Live Action

Vai vencer: The Voorman Problem.

Qual seria meu voto: Vi apenas um dos indicados.

 

Curta Animação

Vai vencer: Get a Horse, que foi exibido antes de Frozen é uma experimentação fantástica com a linguagem 3D, com frame rate, razão de aspecto, cores e com o design dos personagens.

Qual seria meu voto: Get a Horse.

 

Um grande abraço e bom Oscar

Sobre o autor:

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.
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