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LIFE WITHOUT PRINCIPLE Cinema em Streaming

Um dos meus filmes favoritos da década passada, Life Without Principle (2011) chega mais uma vez a Netflix, após já ter passado pelo serviço há uns 3 anos. Dirigido por Johnnie To, um dos principais nomes da indústria de cinema de Hong Kong, cuja extensa carreira é marcada por uma quantidade mais do que respeitável de grandes filmes e que infelizmente tem pouca presença nos streamings brasileiros.

To é um desses realizadores difíceis de prever e de criar alguma expectativa quando se começa a ver um de seus filmes. Dramas, melodramas, comédias, romances e, principalmente, thrillers policiais violentos e ação eletrizante, ele passeia pelos gêneros (às vezes dentro de uma mesma obra) com desenvoltura, muitas vezes propondo um jogo lúdico e estimulante ao espectador e a indiferença é um tanto improvável: você pode odiar um filme de Johnnie To e amar um filme seguinte. Recomendo, portanto, que vejam Don’t Go Breaking My Heart (2011) e Senso de Justiça (2013), que também entraram na Netflix, e tirem suas conclusões. Eu gosto bastante de ambos.

Mas a dica aqui é de Life Without Principle, uma obra que não poderia ser mais atual, sendo um incrível registro do mundo em 2010 e que se perdura: o dinheiro rege a tudo e todos e, sendo assim, quais princípios são válidos e que moralidade se espera do indivíduo nestes termos? O filme adota uma estrutura já um tanto batida de histórias de alguns personagens, em blocos que se conectam por detalhes ou acontecimentos num mesmo período de tempo. O grande evento aqui é a crise financeira da Grécia, que causou um colapso nas bolsas e ações do mundo todo.

Aí está um dos aspectos geniais do filme. Uma falência de país europeu interferindo na vida de vários personagens em Hong Kong, por mais diferentes que estes sejam entre si, em idades, vivências, profissões, valores morais. As transações financeiras mediam as relações de todos, e o capital torna muito próximos os bancos, a máfia, a agiotagem, as casas de apostas, a especulação imobiliária, tudo que está dentro da lei ou fora dela. É material perfeito para o diretor que, com sua habitual maestria, filma tudo num fluxo intenso em que percorrer a cidade coletando dinheiro é tão empolgante quanto uma funcionária de banco, dentro de uma sala, convencendo uma cliente a fazer aplicação – esta, aliás, é uma sequência que dura uns bons 10 minutos, tão angustiante quanto qualquer grande cena de um filme de suspense e horror.

É, em suma, uma obra que reverbera seu tempo. Tem muito humor, suspense, ação e violência, tornando a experiência divertida e recompensadora. Mas é também uma obra assustadora e terrível porque vivemos numa época assustadora e terrível.

Life Without Principle está disponível na Netflix, assim como Don’t Go Breaking My Heart e Senso de Justiça.

 

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Sobre o autor:

Gosta de cinema pra valer desde os 14 anos, já teve videolocadora e agora vê uns filmes nos streamings que mataram seu negócio. Twitter: @helioflores
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