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Os Cineastas do Festival de Cannes 2022 Cinema em Streaming

(Atualização em 21/04 - uma semana depois, o Festival anunciou mais três filmes na competição oficial: Le Otto Montagne, do casal Charlotte Vandermeersch e Felix Van Groeningen, Un Petit Frère, de Léonor Serraille e Tourment Sur Les Îles, de Albert Serra; acrescentei na postagem, com os respectivos filmes dos cineastas disponíveis nos streamings, na ordem alfabética de seus sobrenomes)

 

O Festival de Cannes é uma das maiores vitrines do cinema internacional. Antes mesmo de serem anunciados os filmes da sua Competição Oficial, cinéfilos e jornalistas se lançam em especulações sobre quais obras têm chances ou não de competir pela Palma de Ouro. Assim como outros importantes festivais, e ao contrário do Oscar e similares, são filmes novíssimos, que serão exibidos pela primeira vez para um Júri (e para os felizes críticos, jornalistas, cinéfilos e profissionais da área que estarão por lá, devidamente credenciados), entre os dias 17 e 28 de Maio, que decidirá os vencedores. Estar distante do evento e das obras não impede que a cinefilia acompanhe empolgada, indo atrás de reações das primeiras exibições do filme e torcendo (a favor ou contra) de acordo com suas preferências, quase sempre pautadas pelo diretor da obra em questão - afinal, o cinema de autor, essa ideia tão francesa aliás, meio que define muitas das escolhas dos apaixonados e “escolados”, podendo inclusive moldar nosso estado de espírito antes de uma sessão começar.

Então, para aproveitar que o Festival anunciou hoje os filmes de Cannes 2022, vamos aproveitar para destacar quais obras anteriores dos cineastas selecionados estão nos streamings brasileiros. Pra que ninguém fique totalmente por fora do que esperar de cada um dos 18 filmes da Seleção Oficial. Ou de pelo menos quase todos, já que nossos serviços nem sempre disponibilizam tanto.

Seguem os selecionados:

HOLY SPIDER, de Ali ABBASI

Nascido no Irã mas morando na Suécia, Abbasi chega na competição oficial com seu terceiro longa, mas já esteve em Cannes com seu filme anterior, Border (2018), em uma das mostras paralelas, a Un Certain Regard, que lhe deu o prêmio de Melhor Direção. Considerando que este se trata de um drama fantástico com temas pesados, e seu primeiro filme (Shelley, 2016, que nunca vi) tem elementos de horror, algo chamado Holy Spider não deve ser de fácil digestão.

  • Border (idem, 2018) está disponível na Darkflix (a ferramenta de busca do serviço é ruim, só localizado pelo título Fronteira), aluguel/compra na Apple TV e Google Play

 

LES AMANDIERS, de Valeria BRUNI TEDESCHI

A atriz italiana, em seu quinto longa de ficção como diretora, está pela terceira vez no Festival, tendo um Prêmio Especial do Júri na Un Certain Regard pelo filme Atrizes (2007) e teve o seu Um Castelo na Itália (2013) na seleção oficial.

CRIMES OF THE FUTURE, de David CRONENBERG

Sem um longa-metragem novo há 8 anos, Cronenberg está de volta ao Festival que está de portas abertas para quando ele tiver filme pronto. Mas não desde sempre: apesar do canadense impressionar a todos desde os anos 70 com seus filmes de horror e ficção que exploram as variadas relações entre máquina e corpo (e tudo que vem dele, vísceras, sangue, sexo), foi apenas com Crash: Estranhos Prazeres (1996) que ele chegou a Cannes, quando ganhou o Prêmio Especial do Júri na competição oficial. Após isto, esteve presente com Spider (2002), Marcas da Violência (2005), Cosmópolis (2012) e Mapas Para as Estrelas (2014).

 

TORI ET LOKITA (Tori and Lokita), de Jean-Pierre e Luc DARDENNE

Se Cannes tem os seus preferidos, certamente os irmãos Dardenne estão no topo da preferência. Apesar dos belgas filmarem desde os anos 80, só chegaram ao Festival com Rosetta (1999) e conquistaram por unanimidade a Palma de Ouro de Melhor Filme (dada por um Júri presidido por Cronenberg, aliás) e Melhor Atriz para Émilie Dequenne em sua estreia no cinema. O “estilo Dardenne” se tornou mais do que uma marca autoral, uma excelência a ser alcançada que contaminou muito do cinema que chega aos festivais europeus desde o início do século: a “câmera na nuca” que não larga seus personagens nas tarefas mais cotidianas e que ao mesmo tempo carrega o filme de urgência e tensão, em que o trabalho corporal dos atores sobrepõem-se à psicologia, num contexto de forte crítica social. Depois de Rosetta, Jean-Pierre e Luc Dardenne fizeram sete longas e todos competiram em Cannes, com cinco deles vencendo algum prêmio: O Filho (2002) levou Melhor Ator (para Olivier Gourmet), A Criança (2005) lhes deu novamente a Palma de Ouro de Melhor Filme, O Segredo de Lorna (2008) ganhou o prêmio de Roteiro, O Garoto da Bicicleta (2011) ficou com o Grande Prêmio do Júri e o último deles, O Jovem Ahmed (2019), deu a eles o prêmio de Melhor Direção.



STARS AT NOON, de Claire DENIS

Embora uma das mais admiradas cineastas vivas (e além de tudo francesa!), Denis volta à competição oficial de Cannes após 34 anos, tendo concorrido com seu primeiro longa, Chocolate, em 1988. Esteve na Un Certain Regard por duas vezes com Noites Sem Dormir (1994) e Bastardos (2013), mas o festival perdeu a honra de ser o palco para a estreia de obras incríveis e desconcertantes como Bom Trabalho (1999), Desejo e Obsessão (2001) e O Intruso (2004). O novo Stars at Noon é o primeiro trabalho da diretora nos EUA (com a bela e excelente Margaret Qualley) e seu segundo filme este ano, já tendo vencido este ano um prêmio de Direção no Festival de Berlin por Avec amour et acharnement.

  • Há no Reserva Imovision uma coleção com sete filmes da diretora: Chocolate (1988), Nénette e Boni (1996), Desejo e Obsessão (2001), O Intruso (2004), Minha Terra África (2009), Bastardos (2013), Deixe a Luz do Sol Entrar (2017)

  • Chocolate (Chocolat, 1988): MUBI Brasil

  • Deixe a Luz do Sol Entrar (Un beau soleil intérieur, 2017): aluguel/compra na Apple TV

  • High Life (idem, 2018): aluguel/compra no Google Play, apenas compra na Apple TV

 

FRÈRE ET SŒUR, de Arnaud DESPLECHIN

Prata da casa, o cineasta francês está em Cannes desde seu primeiro longa, La Sentinelle (1992), com poucos de seus filmes fora da competição oficial - mais notadamente um de seus mais elogiados, Reis e Rainha (2004), que competiu no Festival de Veneza. Mas nenhum filme de Desplechin saiu premiado de festivais, à exceção de Três Lembranças da Minha Juventude que ganhou o SACD Prize, um prêmio dado por uma organização de roteiristas a um filme francês presente na Quinzena dos Realizadores, uma mostra paralela independente e não competitiva de Cannes.

  • Três Lembranças da Minha Juventude (Trois souvenirs de ma jeunesse, 2015): aluguel no Google Play, aluguel/compra na Apple TV

 

CLOSE, de Lukas DHONT

O jovem cineasta belga estreou seu primeiro longa, Girl (2018), na Un Certain Regard e ganhou vários prêmios em Cannes, ao trazer a história de uma adolescente trans que tenta se adaptar a uma nova escola de dança, pois deseja ser bailarina, ao mesmo tempo que está prestes a realizar uma cirurgia de redesignação sexual. Com apenas 31 anos, Dhont chega com seu segundo longa na competição oficial.

ARMAGEDDON TIME, de James GRAY

Apesar de ganhar o Leão de Prata no Festival de Veneza com seu primeiro filme, Fuga Para Odessa (1994), Gray foi logo “adotado” pelos franceses e sua carreira sempre recebeu mais atenção e elogios na Europa (e parte da cinefilia brasileira, eu incluso) do que nos EUA, sua terra. Seus quatro FILMAÇOS seguintes estrearam na competição oficial de Cannes: Caminho Sem Volta (2000), Os Donos da Noite (2007), Amantes (2008) e Era Uma Vez em Nova York (2013), e é provável que os dois seguintes, A Cidade Perdida de Z (2016) e Ad Astra (2019), não competiram por não ficarem prontos a tempo. Armageddon Time tem a produção do brasileiro Rodrigo Teixeira (RT Features), a segunda parceria com Gray após Ad Astra.

 

BROKER, de KORE-EDA Hirokazu

O japonês Kore-eda expande seus dramas familiares e vai para a Coreia em seu novo filme, com o grande Song Kang-ho de protagonista. O cineasta é um ganhador recente da Palma de Ouro, com Assunto de Família (2018) e mais uma vez parece interessado nas famílias postiças que se constituem a partir do abandono daqueles que, por vínculo sanguíneo, não deveriam se afastar das maneiras que fazem.

 

NOSTALGIA, de Mario MARTONE

Como cineasta italiano que tem maior influência no teatro, Martone é pouco ou quase nada conhecido por aqui e seus filmes geralmente costumam competir em casa, no Festival de Veneza. Chega a competição oficial de Cannes pela segunda vez, tendo já estreado aí o seu L’amore Molesto (1995), o primeiro filme adaptado de uma obra de Elena Ferrante. Um outro filme, Teatro di guerra (1998) esteve na mostra Un Certain Regard.

Não há filmes do diretor disponíveis no Brasil.


RMN, de Cristian MUNGIU

O cineasta romeno não é de fazer muitos filmes: este é apenas o terceiro longa que dirige após causar impacto e ganhar a Palma de Ouro de Melhor Filme com 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007). Mas os dois anteriores também saíram premiados: o longo (que acho bem mais interessante que a Palma) drama lésbico Além das Montanhas (2013) ganhou Melhor Roteiro e Melhor Atriz para as duas protagonistas (Cristina Flutur e Cosmina Stratan), e Graduation (2016) lhe deu o prêmio de Direção. Infelizmente apenas um dos três (ou quatro, Mungiu tem um longa de estreia chamado Occident, de 2002) está disponível no Brasil.

  • Além das Montanhas (Beyond the Hills, 2012): Amazon Prime

TRIANGLE OF SADNESS, de Ruben ÖSTLUND

O cineasta sueco garantiu sua vaga na seleção oficial de Cannes com pequenos passos: teve seus primeiros filmes em mostras paralelas do Festival, até que Força Maior (2014) se tornou um queridinho da crítica, com prêmio especial do Júri da Un Certain Regard (além de um remake americano em 2020, Downhill, que fracassou); foi o suficiente para uma “promoção” e seu filme seguinte, The Square: A Arte da Discórdia (2017), não só esteve na competição oficial, como levou a Palma de Ouro de Melhor Filme.

 

HAEOJIL GYEOLSIM (Decision to Leave), de PARK Chan-Wook

Um dos coreanos mais famosos por aqui, Park conquistou corações com o violento Oldboy (2004), vencedor do Grande Prêmio do Júri (um certo Quentin Tarantino presidia naquele ano) e alguns de seus filmes são cultuados por parte da cinefilia. Volta a Cannes após 6 anos sem lançar algo novo, quando também esteve na competição com A Criada (2016). O outro filme do diretor presente no Festival, também na seleção oficial, foi Sede de Sangue (2009), que levou o Prêmio do Júri. É até surpreendente que nenhum de seus filmes esteja disponível nos streamings brasileiros, com a exceção de Segredos de Sangue (2013), seu filme americano, com Mia Wasikowska e Nicole Kidman, e com roteiro de Wentworth Miller - sim, o Michael Scofield de Prison Break.

  • Segredos de Sangue (Stoker, 2013): Star Plus

SHOWING UP, de Kelly REICHARDT

A cineasta americana que sempre foi um nome respeitado no cinema independente parece enfim ocupar mais espaços. Apesar de seu último filme, First Cow (2020), não ter vencido nenhum prêmio no Festival de Berlin, certamente se tornou o mais comentado e elogiado a sair dali, ganhando alguns prêmios da crítica americana e encabeçando a lista da Cahiers Du Cinéma dos 10 melhores filmes de 2021 lançados na França. Wendy e Lucy (2008) era até então o único filme de Reichardt a estar em Cannes, mas competiu na Un Certain Regard.


LEILA’S BROTHERS, de Saeed ROUSTAEE

O iraniano Roustaee (seu nome consta no Imdb como Roustayi) é um jovem cineasta que está apenas em seu terceiro longa e o primeiro a chegar a Cannes, o que significa sangue novo na competição, para se acompanhar com interesse. Seu filme anterior esteve na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com o título Apenas 6.5 (2019), um filme policial sobre corrupção e sistema penitenciário de seu país. Não disponível em streamings.

 

BOY FROM HEAVEN, de Tarik SALEH

Outro nome curioso a figurar nessa seleção: o sueco Saleh também está chegando a Cannes pela primeira vez, depois de uma carreira que inclui clipes da cantora Lykke Li e este ano mesmo, recém lançado on demand nos EUA, um filme de ação chamado The Contractor, com Chris Pine. Também nenhum filme disponível no Brasil

 

ZHENA CHAIKOVSKOGO (Tchaïkovski’s Wife), de Kirill SEREBRENNIKOV

Cineasta russo crítico a Putin, Serebrennikov não pode deixar seu país por constantes acusações de desvios de dinheiro público e que muitos dizem tratar na verdade de perseguição política. Seja como for, seus dois últimos filmes, A Febre de Petrov (2021) e Verão (2018), estiveram na competição oficial de Cannes (o mesmo costuma acontecer com o iraniano Jafar Panahi, também impedido de deixar seu país), também uma espécie de upgrade para o alto escalão do evento, após O Estudante (2016) ter causado sensação quando competiu na Un Certain Regard.

TOURMENT SUR LES ÎLES, de Albert SERRA

Depois de vencer um prêmio especial na Un Certain Regard com seu filme anterior, Liberté (2019), o espanhol Serra chega à competição oficial pela primeira vez, após uma carreira marcada por um estilo único e difícil, que atrai tantos cinéfilos quanto os que afasta com um cinema ex-tre-ma-men-te lento, de composição visual fascinante e narrativas focadas em personalidades históricas (reais ou fictícias) em situações bastante mundanas. Será interessante acompanhar as reações ao seu novo filme num evento como Cannes, cuja resposta às obras é tão imediata e impaciente.

 

UN PETIT FRÈRE, de Léonor SERRAILLE

A francesa Serraille tem apenas 36 anos e chega a competição oficial de Cannes com seu segundo longa, após ter vencido o Cámera d'Or, prêmio dado no Festival para o melhor primeiro longa metragem, com o seu muito interessante Jovem Mulher (2017), exibido na Un Certain Regard. Este filme já esteve na MUBI Brasil e na Amazon Prime, mas agora só pode ser visto no Looke e aluguel/compra na Apple TV ou Google Play.

 

HI-HAN (Eo), de Jerzy SKOLIMOWSKI

Assim como Denis, Skolimowski retorna a competição de Cannes depois de mais de 30 anos, a última vez sendo com Correntes de Primavera (1989). Mas o diretor polonês já era um grande nome estabelecido, filmando desde os anos 60 e ganhou prêmios no Festival por duas vezes: o Grande Prêmio do Júri com Estranho Poder de Matar (1978) e o prêmio de Roteiro com Vivendo Cada Momento (1982). Ficou quase duas décadas sem filmar, e fez um belo filme sem diálogos quando retornou, Matança Necessária (2010) e um filme horroroso chamado 11 Minutos (2015). Infelizmente não há nada de seu cinema disponível nos streamings (Matança Necessária deixou o Belas Artes à La Carte recentemente).

 

LE OTTO MONTAGNE, de Charlotte VANDERMEERSCH e Felix VAN GROENINGEN

O belga Van Groeningen ganhou destaque com um bonito e lacrimoso filme Alabama Monroe (2012), sobre um casal com crenças opostas tendo que lidar com a doença grave de sua filha, indicado ao Oscar de Filme Internacional, o que lhe levou a Hollywood onde fez outro drama de relações familiares, Querido Menino (2018), com Steve Carell como um pai dedicado que não desiste de apoiar o filho dependente químico, interpretado por Timothée Chalamet. Sua companheira Vandermeersch, com quem tem um filho, é atriz e colaborou com o roteiro de Alabama Monroe. Estreia na direção com ele neste novo filme.

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Sobre o autor:

Gosta de cinema pra valer desde os 14 anos, já teve videolocadora e agora vê uns filmes nos streamings que mataram seu negócio. Twitter: @helioflores
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