A recomendação de hoje vai para filmes que em breve deixarão a HBO Max que, como já disse algumas vezes por aqui, tem uma seção que informa o que está dando adeus, mas não exatamente quando, embora a maior parte dos casos tem o último dia do mês como prazo final.
Então é provável que apenas até o fim de maio seja possível ver estes dois filmes, que na ocasião de seus lançamentos tiveram seus admiradores, mas com o passar do tempo parece que não se consolidaram na memória coletiva.
Vamos Nessa, de Doug Liman, foi recebido como um Pulp Fiction júnior, uma aventura de jovens, diversão e drogas contada em três histórias que se entrelaçam via personagens em comum e tempo narrativo circular. O ótimo elenco com nomes que estavam despontando naquele momento, liderados por Sarah Polley e uma excelente química entre Katie Holmes e Timothy Olyphant. Ágil e divertido, é interessante revisitá-lo mais de 20 anos depois, para ver o quanto da fórmula tarantinesca envelheceu e sobreviveu, mas também em especial pelo olhar de hoje sobre como a homossexualidade é representada em tela, tanto a construção dos personagens gays (e até revelá-los, o filme brinca com essa antecipação) quanto os modos de filmá-los e o humor envolvido.
Já Os Vigaristas é um filme “menor” de Ridley Scott, vindo de uma sequência de superproduções como o Oscar de Melhor Filme Gladiador (2000) e a muito aguardada (e previsivelmente dispensável) continuação Hannibal (2001). Aqui, uma dupla que vive de pequenos e grandes golpes, interpretada por Nicolas Cage e um ainda quase desconhecido Sam Rockwell, prestes a executar um elaborado plano para arrancar dinheiro de um empresário, quando o primeiro descobre ter uma filha adolescente que quer conhecê-lo. Um diferencial importante aqui é que o personagem de Cage sofre de transtorno obsessivo compulsivo (curiosamente um transtorno em voga na Hollywood do período, com Jack Nicholson ganhando o Oscar por Melhor é Impossível alguns anos antes, a série Monk iniciando uma longa carreira no ano anterior ao filme de Scott e O Aviador lançado no ano seguinte) e este encontro com a filha se deve a um início de tratamento psiquiátrico que ele decide fazer a contragosto, mas é a única forma de conseguir comprar a medicação que precisa. Uma ideia defendida pelo filme é que o sofrimento mental é minimizado por um reajuste social, quando construímos relações familiares ou amorosas saudáveis. Cage (pra variar) está excelente num típico papel feito sob encomenda para sua persona, com tiques nervosos e explosões raivosas sempre a um passo do overacting, mas vendendo muito bem as fragilidades de seu personagem. É um drama familiar disfarçado de filme de golpe, ou vice-versa. A diversão fica por conta dessas trapaças pelo caminho (obviamente que teremos o momento em que o pai ensina para a filha alguns segredos de seu ofício) e o interesse se sustenta pelo relacionamento entre o protagonista e a filha, vivida pela ótima Alison Lohman, que infelizmente meio que deu por encerrada sua carreira há uns 10 anos.
Vamos Nessa (Go, 1999) e Os Vigaristas (Matchstick Men, 2003) estão por enquanto na HBO Max.
(Ei, você gosta do Cinema em Cena, das críticas e das colunas que lê aqui? Ah, que bom! Então é importante que você saiba que o site precisa de seu apoio para continuar a existir e a produzir conteúdo de forma independente, já que fazemos questão de remunerar todos que publicam seus trabalhos aqui - o que deveria ser norma nos veículos de comunicação, mas infelizmente não é. Para saber como ajudar, basta clicar aqui - só precisamos de alguns minutinhos para explicar. E obrigado desde já pelo clique!)