Em Transe, novo filme de Danny Boyle, usa a hipnose como elemento central na construção de um thriller policial e psicológico sobre um homem (James McAvoy) que se envolve com ladrões de obras de arte. Ele não consegue se lembrar onde escondeu um valioso quadro de Goya e precisa recorrer a uma hipnoterapeuta (Rosario Dawson) para vasculhar sua mente. Neste Clube dos Cinco, nós relembramos outros filmes em que a hipnose também é usada no desenvolvimento da trama.
O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1920, Alemanha, dir.: Robert Wiene) - por Renato Silveira
Clássico absoluto do expressionismo alemão, dos filmes de horror, enfim, da história do cinema, O Gabinete do Dr. Caligari é provavelmente o exemplo mais lembrado de hipnotismo no cinema. O personagem do título mantém sob seu controle o sonâmbulo Cesare, que ele usa como atração em uma feira, onde afirma ser capaz de prever o futuro. A hipnose, aqui, é usada para fins malignos, uma vez que Caligari comete assassinatos por meio das ordens que dá a Cesare.
O filme foi pioneiro no uso da cenografia e da narrativa, inaugurando as famosas reviravoltas que deixam o público atônito ao final. Mérito dos roteiristas Hans Janowitz e Carl Mayer e do diretor Robert Wiene, que se tornaram referência e influência inegáveis para gerações posteriores de cineastas, desde os filmes noir até o cinema contemporâneo.
Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time, 1980, EUA, dir.: Jeannot Szwarc) - por Heitor Valadão
Até onde você iria por amor? Ou melhor, até quando? Christopher Reeve voltou no tempo para conhecer o grande amor de sua vida, vivido por Jane Seymour, no romance Em Algum Lugar do Passado.
No filme, um jovem dramaturgo é abordado por uma velha senhora que, misteriosamente, dá a ele um relógio e pede que volte para ela. Anos depois, durante uma viagem para tentar vencer um bloqueio de escritor, ele encontra, no hotel em que está hospedado, a pintura de uma jovem atriz que viveu no começo do século 20. Ao descobrir que a velha senhora e a atriz são a mesma pessoa, ele usa o método da auto-hipnose para viajar no tempo e conhecê-la.
Mas nem tudo são flores, já que o empresário da atriz não fica muito feliz ao saber que ela tem um pretendente. E infelizmente neste filme, Reeve não tem os poderes super-humanos que o tornaram uma lenda do cinema.
Ecos do Além (Stir of Echoes, 1999, EUA, dir.: David Koepp) - por Luísa Gomes
Como fazer com que o espectador sinta, através de um filme, o desespero de seu protagonista? Foi o que David Koepp pensou quando dirigiu Ecos do Além. Com uso constante de câmeras subjetivas, sempre temos o ponto de vista de Tom Witzky (Kevin Bacon) e, na principal cena de hipnose, Koepp convence, prende quem assiste e quando percebemos estamos vidrados no “Sleep” do grande teatro. Bacon também é parte essencial no êxito do longa, com uma atuação paranóica.
O terror sobrenatural conta a história de um pacato pai de família, que acaba entrando na brincadeira da hipnose por sua cunhada em uma festa de amigos. Mas Tom percebe que algo realmente foi alterado naquela noite e começa a ter estranhas e conturbadas visões até chegar no limite da paranoia.
O ritmo crescente do filme e um desfecho eletrizante tornam Ecos do Além hipnotizante, literalmente.
O Amor é Cego (Shallow Hal, 2001, EUA, dir.: Bobby e Peter Farrelly) - por Luísa Teixeira de Paula
Se até Balzac afirmava que “nunca devemos julgar as pessoas que amamos; o amor que não é cego, não é amor”, o título de uma comédia romântica não podia ser mais clichê. O Amor é Cego (no Brasil, já que a tradução correta seria algo como "O Superficial Hal") traz Jack Black e Gwyneth Paltrow como os protagonistas de um romance que surge através de uma hipnose.
No início do filme, Hal (Black) é um homem que só se interessa por mulheres donas de belezas incríveis, sendo ele mesmo um cara nem tão bonito assim. Em um dia como outro qualquer acontece aquilo que vai mudar sua vida para sempre: preso em um elevador com o guru Tony Robbins, ele é hipnotizado e passa a ver nas pessoas apenas sua beleza interior. Assim que encontra Rosemary (Paltrow), uma garota obesa, ele se apaixona à primeira vista. Claro, ao descobrir posteriormente que ela não é como ele enxergava até então, Hal é tomado pela dúvida.
A quem assiste fica a pergunta: será mesmo que uma intervenção psíquica é necessária para que até mesmo um cara tão babaca quanto Hal encontre seu amor verdadeiro?
O Escorpião de Jade (The Curse of the Jade Scorpion, 2001, EUA/Alemanha, dir.: Woody Allen) - por Larissa Padron
Quando Woody Allen tem algum fascínio por um tema, ele vai usar, nem que seja como uma pequena referência em vários de seus filmes. E a hipnose parece ser um desses temas. Ela já havia aparecido como pequena coadjuvante de filmes como Zelig e A Era do Rádio, por exemplo, mas em 2001 ganhou um peso maior.
Em O Escorpião de Jade, os detetives C.W. Briggs e Betty Ann Fitzgerald, interpretados por Allen e Helen Hunt, são levados a tomar atitudes improváveis após uma sessão de hipnose, como roubar as casas que seguram e se apaixonar um pelo outro. Apesar de não ser dos melhores de Allen, o filme funciona como uma homenagem do diretor aos filmes noir, com direito a sua própria femme fatale (Charlize Theron) e tudo.
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