Entre um Batman e outro, Christian Bale fez um intercâmbio na China para trabalhar com o renomado Zhang Yimou em Flores do Oriente. Neste Clube dos Cinco, você encontra outros atores que "imigraram" em busca de um desafio, uma oportunidade ou mesmo novos ares na carreira.
Keanu Reeves em O Pequeno Buda (por Heitor Valadão)
O diretor Bernardo Bertolucci é uma lenda e sempre trabalhou com atores americanos ávidos por aprender com este grande talento. Mas algumas participações são de maior destaque que outras, especialmente quando se é massacrado por suas escolhas, como foi o caso de Bertolucci ter escolhido Keanu Reeves para interpretar ninguém menos do que Siddartha em O Pequeno Buda (1993).
Na época, Reeves era um mero rostinho bonito já muito malhado pela crítica como um mau ator. Tentando associar seu nome a de diretores de prestígio, como Francis Ford Coppola (Drácula de Bram Stpker) e Gus Van Sant (Garotos de Programa), o ator topou o desafio de interpretar o próprio Buda mesmo sabendo que seria mal visto por isso. E foi. Sozinho. Afinal, Chris Isaak e Bridget Fonda foram poupados, já que fazem papéis de menor destaque. Dentre os filmes de Bertolucci, O Pequeno Buda talvez seja um dos que mais dividem opiniões. Mas como bem colocou Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra.
Alan Arkin em O Que é Isso Companheiro? (por Larissa Padron)
Em 1997, Bruno Barreto realizou O Que é Isso, Companheiro?, longa que narra a história real de um grupo de revolucionários que, durante a ditadura, sequestrou um embaixador americano e o trocou por 15 presos políticos.
Para o papel do embaixador, Barreto, que já tinha uma boa imagem em Hollywood na época, não chamou qualquer desconhecido que falasse inglês. Não, ele chamou o até então duas vezes indicado ao Oscar Alan Arkin (que dez anos depois receberia a terceira indicação e, finalmente, a estatueta, por Pequena Miss Shunshine). O ator dá uma bela interpretação ao embaixador, como você pode ver na cena em que ele escreve uma carta a sua esposa, descrevendo os sequestradores:
O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro em 1998, mas acabou perdendo para o holandês Caráter. É claro que a Miramax, distribuidora do filme nos Estados Unidos, se aproveitou da presença de Arkin e colocou apenas o rosto e o nome do ator no cartaz. E se você acha que nós, brasileiros, é que não somos bons em traduzir títulos, saiba que O Que é Isso, Companheiro? se chama Four Days in September por lá.
Vincent Cassell em À Deriva (por Tullio Dias)
A fluência de Vincent Cassel em português foi um dos principais motivos que levaram o cineasta Heitor Dhalia a convidá-lo para estrelar À Deriva, de 2009. Cassel é apaixonado pelo Brasil e tinha o hábito de descansar por aqui, sempre acompanhado de sua esposa, Monica Bellucci. Diz a lenda que a ideia surgiu depois do ator aparecer dando uma entrevista para o programa do apresentador Amaury Jr.
Cassel interpreta o escritor Mathias, que está vivendo uma crise no seu relacionamento e tem que lidar com a filha adolescente entrando na vida adulta. O ator francês está acostumado a trabalhar com outros idiomas: já fez filmes em italiano, inglês e francês, claro. Ele declarou que À Deriva é um filme que ele não teria a oportunidade de fazer na França, por conta do tema.
Curiosamente, Dhalia recentemente finalizou o thriller 12 Horas, estrelado por Amanda Seyfried (Mamma Mia!). Foi a sua primeira experiência como diretor nos Estados Unidos.
Kevin Spacey em Inseparable (por Renato Silveira)
Kevin Spacey pode não ter desaparecido por completo das telas, mas temos que concordar que seu último papel de destaque foi Lex Luthor em Superman – O Retorno, de 2006. De lá para cá, Spacey participou de alguns filmes interessantes, como Os Homens que Encaravam Cabras (2009), Lunar (2009, dublando o computador GERTY) e Margin Call – O Dia Antes do Fim (2011), mas temos que encerrar a lista aqui. Afinal, acreditamos que você, como nós, quer esquecer Quero Matar Meu Chefe.
Mas Spacey decidiu fazer algo realmente inusitado no ano passado: ele foi para a China participar da comédia Inseparable (ainda inédita no Brasil). Também atuando como produtor-executivo do longa, Spacey interpreta um excêntrico americano expatriado que se torna amigo de seu vizinho, um homem com problemas em casa e no trabalho (Daniel Wu, de Inimigos do Império). E essa amizade os leva a se tornarem... super-heróis. Ei, Spacey, tudo isso ainda é inveja do Superman?
Spacey não é o único imigrante em Inseparable: o ator sueco Peter Stormare (Fargo, Constantine, Plano de Fuga) também está no elenco. O longa é o primeiro na história da China a ter um protagonista americano. Logo na cola, foi feito Flores do Oriente, com Christian Bale.
Sônia Braga em Rebelião em Milagro (por Renato Silveira)
Hoje em dia, ator brasileiro ser chamado para fazer filme no exterior não é algo incomum. Rodrigo Santoro, Alice Braga, Lázaro Ramos, Murilo Benício, Seu Jorge, Wagner Moura... A lista é extensa. Mas para não ficarmos sem falar neles, selecionamos Sônia Braga como representante dos nossos compatriotas.
A carreira de Sônia (que é tia de Alice Braga) começou em 1968, com uma participação no clássico O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla. Ela estrelou na sequência diversos sucessos nacionais, como Dona Flor e Seus Dois Maridos, A Dama do Lotação, Eu Te Amo e Gabriela, Cravo e Canela.
Em 1985, veio a primeira oportunidade de estar em uma coprodução internacional: ela coestrelou com William Hurt e Raul Julia O Beijo da Mulher Aranha, dirigido por Hector Babenco. No entanto, o filme foi rodado no Brasil, então, não conta para o nosso clube. Já em 1988, Sônia foi chamada por Robert Redford para atuar em Rebelião em Milagro, ao lado de Rubén Blades, Julie Carmen, Melanie Griffith e Christopher Walken. Esse, sim, foi rodado nos EUA e, a partir daí, Sônia não parou mais de fazer filmes estrangeiros: emendou, ainda em 1988, Luar Sobre Parador, de Paul Mazursky, com Richard Dreyfuss e novamente Raul Julia (este também teve cenas rodadas no Brasil); Rookie - Um Profissional do Perigo (1990), com Clint Eastwood, Charlie Sheen e adivinha... Raul Julia; Amazônia em Chamas (1994), de John Frankenheimer, e de novo com Raul Julia ao lado dela, entre vários outros.
O currículo de Sônia, que passou a morar nos EUA e só regressou ao Brasil em 2006, ainda inclui algumas curiosidades, como uma participação em um episódio da série de horror Tales from the Crypt, em 1992, além da continuação Um Drink No Inferno 3: A Filha do Carrasco, feita direta para homevideo em 1999, sem falar, claro, da série Sex and the City, em 2001.
Vista por último no cinema em Lope (2010), do brasileiro Andrucha Waddington, e em Matemática do Amor (2010), com Jessica Alba, Chris Messina e J.K. Simmons, Sônia tem dois filmes estrangeiros, ambos produções independentes, prestes a serem lançados este ano: The Wine of Summer, com Marcia Gay Harden, e Emoticon ;) (assim mesmo, com o smiley piscando no título).
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