Reza a lenda que a cobiçada estatueta de ouro da Academia carrega uma maldição capaz de destruir as carreiras daqueles que não fizerem por merecê-la. OK, é um exagero. Mas nesta edição do Clube dos Cinco, nós selecionamos cinco vencedores do Oscar que experimentaram o sabor amargo da decepção após viverem um momento de glória na mais visada premiação do cinema.
Halle Berry, por Larissa Padron
Halle Berry estava em uma boa fase até o início da década de 2000: um filme de Warren Beatty (Politicamente Incorreto) na bagagem, o papel de Tempestade no elogiado primeiro episódio da franquia X-Men e uma excelente atuação em A Última Ceia, de Marc Forster, que acabou lhe rendendo o Oscar de Melhor Atriz e colocando-a na história como a primeira atriz negra a receber o prêmio.
Logo após o Oscar, outra honra para a atriz: ela também seria a primeira negra a ser uma Bond Girl, em 007 – Um Novo Dia Para Morrer... que acabou se tornando um dos piores e mais horrorosos filmes da franquia James Bond. E desde então, a maldição do Oscar começou a reinar sob as escolhas de Berry: os péssimos suspenses Na Companhia do Medo e A Estranha Perfeita; os fracos A Senha: Swodfish e Frank & Alice; e o pavorosamente ruim Mulher-Gato, que rendeu à atriz o Framboesa de Ouro de Pior Atriz em 2005 (ao menos, ela teve espírito esportivo e foi à cerimônia do Razzie receber o troféu).
Os trabalhos mais recentes de Berry também dão certa vergonha alheia: a comédia romântica Noite de Ano Novo e o ainda inédito Dark Tide (que é só olhar o cartaz e saber que é do diretor de Turistas para ficar com o pé atrás). Vamos torcer para que seu papel em Cloud Atlas, aguardado filme dos irmãos Wachowski (trilogia Matrix) e Tom Tykwer (Trama Internacional), reverta essa situação.
Marisa Tomei, por Tullio Dias
A talentosa Marisa Tomei literalmente tropeçou depois de vencer seu Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Meu Primo Vinny, de 1993, e ganhar a atenção de Hollywood. Após o prêmio pelo desempenho ao lado de Joe Pesci e Ralph Macchio (sim, o Daniel San, de Karatê Kid), a carreira da atriz começou a oscilar entre participações em produções de respeito e em comédias românticas descartáveis.
Com o Oscar na prateleira, Tomei tentou conciliar, da melhor forma possível, suas participações em filmes fracos (basta lembrar de O Guru do Sexo, de 2002) e outros mais interessantes, sendo o melhor exemplo, Entre Quatro Paredes, que lhe rendeu a segunda indicação ao Oscar e a colocou no eixo novamente. Já em 2008, depois de interpretar uma stripper e mostrar suas curvas em O Lutador (algo que ela nunca se recusou a fazer, vide Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto), Tomei recebeu sua terceira indicação ao Oscar e o reconhecimento de que é uma atriz que funciona tão bem no drama quanto na comédia (Amor a Toda Prova).
Kevin Costner, por Heitor Valadão
Ah, Kevin Costner! Se alguém sofreu com a maldição do Oscar, este alguém foi você. Não que ela tenha sido imediata. Afinal, ao dirigir e ser premiado por Dança com Lobos, em 1991, você ainda teve grandes projetos de sucesso como Robin Hood: Príncipe dos Ladrões, JFK: A Pergunta que Não Quer Calar, O Guarda-Costas... e então veio Wyatt Earp. Um projeto pessoal, dirigido por outra pessoa. Um fracasso. Seguido por um ainda maior: Waterworld, onde tudo o que poderia dar errado, deu. Furacões, destruição dos sets, demissão de diretor (que acabou voltando ao trabalho). Mas já era tarde.
O Jogo da Paixão ainda era um filme bastante simpático, mas esperar que o público se apaixone por um filme que envolve golfe é pedir um pouco demais. Por melhor que ele seja! Mas quando é seguido por mais um projeto caro e complicado como O Mensageiro, dificulta ainda mais. Mesmo com bons filmes, o público aparentemente cansou de assisti-lo e se refere a Costner como um ator que "só faz filme ruim". Um péssimo estigma para um ator carismático e, muitas vezes, competente.
Quem sabe, Kevin Costner, salvar o resto de sua carreira não será um trabalho para o Superman? Por favor, impressione-nos novamente com seu charme e simpatia. Ganhe uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante e mostre que quem um dia trabalhou com feras como Brian De Palma, Clint Eastwood e Rob Reiner não perderá nunca o seu lugar no coração do público. Público este que deveria correr para a locadora e assistir o subestimadíssimo Pacto de Justiça.
Mira Sorvino, por Larissa Padron
Se você ouve rapidamente o nome Mira Sorvino você pode se perguntar: "Quem?" E você provavelmente tem motivos para não reconhecer o nome, mas ela faz parte do seleto time de atrizes que ganharam Oscar por filmes de Woody Allen – que inclui também Diane Keaton (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa), Dianne Wiest (Hannah e Suas Irmãs) e Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona).
Sorvino ainda era a desconhecida filha de Paul Sorvino (Os Bons Companheiros) e só fazia pequenas pontas em filmes, quando conseguiu o papel da prostituta Linda Ash em Poderosa Afrodite, o filme de Allen que lhe rendeu a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante (numa atuação de qualidade bem duvidosa, diga-se de passagem). E o prêmio da Academia poderia ter deslanchado sua carreira, não?
Não! Seus papéis mais famosos após o Oscar foram nas comédias Romy e Michelle e Brincando de Seduzir, na ficção–científica Mutação e no romancezinho À Primeira Vista, com Val Kilmer interpretando um cego. Conhece algum? Não será nenhuma surpresa se a resposta for "não".
No entanto, esconde-se um cérebro brilhante por trás da mediana atriz. Fluente em francês e mandarim, Sorvino se formou em Harvard com uma dissertação internacionalmente premiada sobre conflitos raciais na China. Bem que ela podia ter continuado a carreira acadêmica, não é mesmo?
Cuba Gooding Jr., por Tullio Dias
Cuba Gooding Jr. tinha uma carreira discreta antes de Cameron Crowe e Tom Cruise entrarem em sua vida e o convidarem para participar de Jerry Maguire – A Grande Virada, em 1996. Interpretando um jogador de futebol americano desiludido chamado Rod Tidwell, o ator ficou conhecido por desafiar o personagem de Cruise ao gritar: “Show me the money!”, em alto e bom tom.
A frase clássica e o Oscar que ele recebeu pelo papel não parece ter surtido efeito na carreira do ator, que após Jerry Maguire participou de filmes como Melhor é Impossível, ao lado de Helen Hunt e Jack Nicholson, e Amor Além da Vida, mas também entrou de cabeça no mundo dos filmes produzidos direto para a televisão e estrelou muitas produções obscuras. Vez ou outra, ele dava as caras em produções maiores, como Pearl Harbor ou O Gângster, mas nunca conseguiu consolidar a sua carreira, nem mesmo após protagonizar a divertida comédia O Cruzeiro das Loucas.
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