Em ocasião do relançamento de Star Wars: Episódio I nos cinemas, agora em uma versão convertida para 3D, o Cinema em Cena preparou um material especial sobre a saga. Durante toda a semana, teremos conteúdos temáticos de Star Wars, especialmente em nossas já tradicionais colunas. Começamos com este Clube dos Cinco especial, mostrando o "lado negro" dos filmes - para vocês verem que não somos puxa-sacos do George Lucas.
As alterações que George Lucas insiste em fazer a cada relançamento, por Heitor Valadão
Não sei dizer se a frase a seguir já foi dita por outros cineastas, mas, em uma entrevista, o diretor Bryan Singer (que fez fama com Os Suspeitos, X-Men 1 e 2 e Superman: O Retorno), disse algo como "um filme nunca fica pronto, simplesmente chega a hora de você parar de mexer nele e exibi-lo". Aparentemente, George Lucas não pensa assim. Ao contrário de Steven Spielberg (que também já se deixou levar pela mania do amigo e lançou uma edição adulterada de E.T.. em 2002, onde o boneco de verdade é substituído por um boneco digital), Lucas aparentemente não entende que um filme é também um produto de sua época.
Resultado: desde a invenção dos efeitos digitais, coisa que começou na Pixar enquanto esta ainda fazia parte da Industrial Light & Magic, o criador de Star Wars não se dá por satisfeito e frequentemente "atualiza" toda a saga. Já fizemos uma longa listagem de todas as alterações feitas por Lucas, que você pode conferir no nosso especial Star Wars: As Mudanças Através dos Tempos. Já aqui no Clube dos Cinco, vamos esclarecer uma coisa: o que essas alterações significam?
Podemos ficar horas debatendo sobre como a insistência de Lucas em adulterar os episódios IV, V e VI de Star Wars é um desrespeito não apenas aos fãs, mas à própria obra. Mas o real significado dessas mudanças é que Lucas não confia em seu próprio taco. O diretor não consegue reconhecer a grandiosidade de sua trilogia original e acha que o único método de manter o filme "vivo" é sempre reapresentá-lo de forma atualizada para novas gerações de cinéfilos. Uma tolice, especialmente porque essas novas gerações estão acostumadas com aspectos bem diferentes dos simples efeitos visuais, como a montagem. Além disso, os efeitos em CGI inseridos na trilogia original destoam do resto da fotografia, figurinos e maquiagem que já estavam lá. E como nosso crítico Pablo Villaça colocou muito bem, quem dentro da LucasFilm pode entrar na sala de George e dizer: "Isso é um grande erro! Na verdade, você devia remasterizar para Blu-ray a trilogia original, sem as alterações", e não correr o risco de ser demitido?
Grow up, George!
Criaturas digitais desnecessárias, por Renato Silveira
Além das já mencionadas alterações que tiram os fãs de Star Wars do sério, em 1997, no relançamento da trilogia original em suas famigeradas edições especiais, George Lucas testou a nossa paciência um pouco mais com a inclusão de criaturas feitas em computação gráfica nos cenários dos filmes. Em Uma Nova Esperança e O Império Contra-Ataca, até dá para relevar, pois os bichos servem mais como composição de cena. Já em O Retorno de Jedi... É de lascar. O número musical no palácio de Jabba fala por si só:
Na versão original do filme, os músicos eram apenas três atores maquiados e fantasiados. Já para a edição especial, Lucas aparentemente resolveu mostrar que Jabba tinha dinheiro para ter uma banda completa. E aí usou a desculpa do “antes eu não podia usar CGI” e inseriu dois personagens totalmente feitos em computação gráfica e ampliou a macacada musical toda (que na versão original já não era grandes coisas). Constrangedor.
Ainda em O Retorno de Jedi, podemos reparar em um pequeno alienígena no canto da tela, logo após o resgate de Han Solo, que é usado para uma piada de gases. Ao que parece, Eddie Murphy, Adam Sandler, Rob Schneider e os irmãos Wayans ficaram tão entusiasmados com a ideia que foram contratados secretamente por Lucas para escrever a cena de A Ameaça Fantasma em que Jar Jar Binks é "presenteado" com um flato de um Eopie (aquele animal parecido com um dromedário), pouco antes da corrida de pods começar. Dureza, hein, Lucas?
Para finalizar este tópico, vale lembrar ainda dos gritos irritantes que Lucas fez questão de inserir em praticamente todos os dróides da nova trilogia, especialmente em A Vingança dos Sith. Não só os dróides da Federação do Comércio se tornam mais “comunicativos”, mas R2-D2 parece estar sob efeito de drogas, visto o tanto que ele grita e esperneia neste filme. Ben Burt deve ter arrancado os cabelos.
"Roger, Roger", Tio Lucas!
Jake Lloyd e Hayden Christensen, por Larissa Padron
Você pode criticar ou amar milhões de características em George Lucas, mas tem uma que é difícil negar: Lucas possui um dedo meio torto para escolher seus atores.
Um dos anúncios mais aguardados da última trilogia era o nome do ator que interpretaria Anakin Skywalker, o brilhante Jedi que se tornou um dos vilões mais temidos da galáxia. Era esperado um excelente ator, já que o papel era complexo. Até que em A Ameaça Fantasma nos deparamos com um mini Anakin. Tudo bem o personagem ser apresentado quando criança... desde que esta não fosse uma criança chata. O ator escolhido foi Jake Lloyd, o garotinho de Um Herói de Brinquedo. E graças a ele conhecemos um Anakin inexpressivo e que grita “Iupiiii!” por tudo. Mas vamos dar algum crédito para o menino, já que o filme tem um personagem muito pior (claro que estamos falando de Jar Jar Binks, mas daqui a pouco entramos neste assunto).
A escolha de Lloyd decepcionou, mas o que realmente demonstrou que Lucas escolhe mau seus atores foi o Anakin adulto: o péssimo Hayden Christensen. Um ator tão ruim que faz você querer fechar os olhos em alguns momentos dos ótimos Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith. Um exemplo é a cena em que ele revela a Padmé ter matado todos que estavam no acampamento do Povo da Areia onde sua mãe foi torturada. Uma cena importantíssima, já que demonstra o primeiro traço forte de Darth Vader em Anakin (com direito à introdução da Marcha Imperial). Mas o que vemos é uma atuação típica da novela Malhação que termina com uma célebre fala adolescente: “Eu odeio todos eles!” Não é óbvio, já que ele matou todo mundo?
O romance de Anakin e Padmé, por Renato Silveira
Já que tocamos no assunto, os momentos Malhação de Hayden Christensen também estão no romance que Anakin vive com Padmé a partir de Ataque dos Clones. Tudo já começa mal na chegada de Anakin a Coruscant, onde Christensen tenta demonstrar nervosismo no primeiro encontro com Padmé em anos. Não há química entre ele e Natalie Portman neste primeiro contato, o que é compreensível dada a natureza da cena. Mas em todo o restante do filme, e em A Vingança dos Sith, não vemos como aqueles dois podem ter se apaixonado. Culpa de Christensen e de Portman, que parece fazer força para atuar mal? Em parte, sim. Mas devemos atribuir a responsabilidade a ele, claro: George Lucas.
Cenas como a do piquenique em Naboo, a conversa à luz da lareira ou a declaração de amor piegas de Padmé na entrada da arena de combate, em Episódio II, já seriam suficientes para malharmos o casal. Mas Lucas ainda teve a capacidade de escrever uma cena ainda mais ridícula como a do apartamento em A Vingança dos Sith, em que temos o seguinte diálogo:
Anakin: Você está tão... bonita.
Padmé: É só porque eu estou apaixonada.
Anakin: Não, é porque eu estou apaixonado por você.
Padmé: Então o amor te cegou?
Anakin (rindo): Não é exatamente isso que eu quis dizer!
Padmé: Mas provavelmente é verdade!
Sério: que tipo de romance é esse? E pensar que no mesmo filme temos diversos outros diálogos bacanas, como a conversa entre Palpatine e Anakin na ópera, um dos melhores momentos da nova trilogia.
Jar Jar Binks e os Ewoks, por Tullio Dias
Não sei o que falar do Jar Jar Binks. Ele é chato, mas nunca me incomodou tanto quanto incomoda a maioria dos fãs. Posso tentar falar sobre a implicância geral das pessoas e colocar a minha ira concentrada nos Ewoks. Eles me irritam muito mais que o Jar Jar Pateta. Na verdade, acho que eu odeio tanto o Jar Jar que aprendi a ignorar a sua voz, a sua presença, as suas escamas, o seu humor (?) e até mesmo o fato dele ter sido um dos responsáveis diretos pelas Guerras Clônicas. É por isso que ele não me incomoda mais.