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Grandes transformações Clube dos Cinco

Nesta edição do Clube dos Cinco, separamos algumas transformações que marcaram a história do cinema, tanto relacionadas à forma de fazer cinema quanto relacionadas a pessoas que fazem cinema. É claro que há transformações bem mais profundas que poderiam ser lembradas, como a transição do cinema mudo para o falado, a introdução do cinemascope e o próprio cinema 3D. Mas tentamos pegar exemplos que não são tão lembrados quanto os anteriormente citados. Confira!

Um Lobisomem Americano em Londres

No fim dos anos 60, durante uma viagem para a Iugoslávia enquanto filmava uma pequena participação em Os Guerreiros Pilantras, o diretor John Landis passava por uma longa estrada quando testemunhou ciganos enterrando um morto em um buraco profundo onde o corpo ela colocado em pé, para que não conseguisse sair. Foi aí que ele teve a ideia: e se ele conseguisse sair?

Para Landis, aquilo não era apenas surreal e engraçado, mas também assustador. Nos anos seguintes, Landis ficou conhecido exclusivamente por comédias como Os Irmãos Cara de Pau e Clube dos Pilantras, e, em 1981, causou confusão nas pessoas que não achavam que um filme de terror poderia também ser engraçado. Ou uma comédia pudesse ser assustadora. Até hoje é difícil definir em qual gênero se encaixa, mas de acordo com o diretor, Um Lobisomem Americano em Londres é mesmo um filme de terror contemporâneo sobre um monstro clássico... Contado com muito bom humor. Especialmente pelo personagem do fantasma de Jack, interpretado por Griffin Dunne, que volta dos mortos, após ser atacado por um lobisomem, para conversar com seu amigo David (David Naughton), que sobrevive ao ataque e está fadado a também se tornar um lobo na próxima Lua Cheia.

Estamos falando, então, da transformação de Landis, de diretor de comédias para diretor de horror? Não exatamente. Landis e o maquiador Rick Baker foram pioneiros na transformação passada por David, até hoje imbatível, mesmo com a evolução da tecnologia digital usada em grandes metamorfoses em filmes como Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban ou O Lobisomem. Não é apenas a maquiagem e os efeitos físicos, mas a direção de Landis mostrando cada gota de suor e a atuação de Naughton como se nunca alguém tivesse passado por dor parecida em toda a história da humanidade.

Não é por mera coincidência que, exatamente em 1982, foi criada a categoria de melhor maquiagem, justamente para premiar o trabalho de Baker. Sim, houve outra indicação para outro mago da área, Stan Winston, para a esquecida comédia Heartbeeps. Mas todos sabiam que esse era um jogo de cartas marcadas. E com razão!

Andy Serkis e Doug Jones

Você talvez não reconheça os nomes acima, mas não se engane: ambos estão em filmes que você certamente viu. Só que eles se transformam de tal maneira, que você nunca os reconhecerá em cena.

Andy Serkis se transformou digitalmente na criatura Gollum, na trilogia O Senhor dos Anéis. A técnica já tinha sido usada antes, mas não de forma tão revolucionária e eficaz, chegando até mesmo a ser cogitada uma indicação ao Oscar para o ator. Infelizmente, não aconteceu, mas a empresa de efeitos visuais Weta não só ganhou a indicação na categoria como também levou o prêmio.

Serkis também deu vida ao King Kong, novamente sob a tutela do diretor e amigo Peter Jackson. Em 2012, ele voltará às telas novamente como Gollum, em O Hobbit, e, no começo do ano que vem, poderemos vê-lo em telas brasileiras como o Capitão Haddock, companheiro inseparável de Tintin na adaptação dos quadrinhos dirigida por Steven Spielberg. Diz o burburinho que ele pode ganhar finalmente sua primeira indicação aos prêmios da Academia por sua atuação como o macaco César em Planeta dos Macacos: A Origem. Será? Não importa. Serkis é um grande ator consegue dar o sopro da vida a personagens que só existem digitalmente.

Já o alto, esguio e esquisito Doug Jones atualmente é o "go to guy" de Guillermo del Toro quando o diretor precisa de alguém para se transformar nos mais diversos monstros por baixo de, literalmente, quilos de maquiagem. Se como um dos Morlocks de A Máquina do Tempo ou um dos cangurus mutantes de Tank Girl o ator não passou muito tempo na tela, ele ganhou destaque ao incorporar Abe Sapien em Hellboy. Mas, infelizmente para ele, acabou dublado pelo ator David Hyde Pierce. Sua redenção veio quando lhe foi permitido dublar seu personagem nos desenhos animados de Hellboy, feitos para o mercado de DVD. Satisfeito com o trabalho, o diretor permitiu então que Jones usasse sua própria voz na continuação. Bom para ele, que estava chateado por ter sido dublado por Laurence Fishburne em Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, onde interpretou o arauto de Galactus.


Doug Jones (centro) já transformado em Abe Sapien no set de Hellboy II.

Robert De Niro e Christian Bale

Em Taxi Driver, de 1976, Robert De Niro era um daqueles magrelos definidos. Ganhou um pouquinho de massa muscular para estrelar O Franco Atirador, dois anos depois. Mas a sua grande transformação só aconteceu em 1980, quando repetiu a parceria com o diretor Martin Scorsese em Touro Indomável. De Niro trabalhou duro e conseguiu ganhar cerca de 27 quilos para interpretar o boxeador Jake LaMotta. O esforçou rendeu-lhe o Oscar de Melhor Ator, e em 1983 ele já estava atuando com o corpo em forma em O Rei da Comédia, também de Scorsese. Ainda temos que incluir o estilo trincado que o ator exibiu para interpretar o psicopata Max Cady, em Cabo do Medo, de 1991, em mais uma das oito parcerias que teve com Scorsese.

De Niro em Touro Indomável. Inesquecível.

Já Christian Bale é um daqueles atores que buscam desafios o tempo inteiro, além de sempre buscar referências no trabalho de outros grandes atores do cinema. Depois de exibir a boa forma ao estrelar Psicopata Americano (2000) e Reino de Fogo (2002), o ator aceitou o desafio de fazer o caminho inverso de Robert De Niro e perder mais de 30 quilos para protagonizar O Operário. Superando os esforços de Tom Hanks, em Náufrago, Bale conseguiu explicitar o medo e os delírios que consumiam o seu personagem por dentro. É realmente assustador.

Porém, o mais curioso é que um ano após o lançamento de O Operário, Bale já estava com o corpo ainda mais tonificado do que em Psicopata Americano. O esforço foi necessário para que Christopher Nolan pudesse contar com o ator no reboot da franquia Batman, com o lançamento de Batman Begins, em 2005. Mais impressionante é que em 2006, um ano depois do lançamento do primeiro filme da trilogia do Homem-Morcego, Bale já estava trabalhando com Werner Herzog em O Sobrevivente, onde mais uma vez perdeu muito peso para viver o personagem principal.

Trailer de O Operário.

As transformações de Bale pareciam ter chegado ao fim, mas em 2010, talvez para compensar a injustiça de ser excluído da disputa do Oscar por Melhor Ator por O Operário, o ator foi indicado pela primeira vez ao prêmio por sua performance em O Vencedor - e saiu da cerimônia com a estatueta. Pela terceira vez na carreira, Bale teve que perder peso (bem menos, é verdade) e interpretou um ex-lutador viciado em drogas. Sem dúvida, um reconhecimento merecido.

Lana Wachowksi

Em 1999, uma dupla de diretores chamou a atenção dos cinéfilos do mundo inteiro e causou uma certa revolução visual no cinema com a técnica fotográfica bullet time, que até então era usada quase que exclusivamente em videoclipes. Com Matrix, os irmãos Larry e Andy Wachowski ganharam respeito e o status de gênios do cinema moderno. Mas havia algo que ainda parecia fora do lugar.

Avesso a entrevistas desde a época do lançamento de Matrix, Larry Wachowski sempre foi uma incógnita. Suas constantes recusas em aparecer em público ou dar entrevistas começaram a render comentários maldosos a seu respeito, até que quase dez anos depois a história começou a caminhar para um final feliz.

Larry estava casado e se apaixonou por uma dominatrix que ele havia conhecido após todo o sucesso de Matrix. A paixão acabou transformando a vida do diretor, que revelou não ser satisfeito com a sua identidade sexual atual. O mais velho dos irmãos Wachowski decidiu, então, investir numa operação de mudança de sexo e se transformou em Lana Wachowski. O assunto nunca foi discutido publicamente, mas desde que essa mudança signifique alegria na vida pessoal, refletindo bons trabalhos no cinema, essa é a menor das preocupações que as pessoas deveriam ter a respeito de Lana.

Larry Wachowski (à esquerda) ao lado do irmão Andy, ainda no auge de Matrix.


Larry (à direita) em sua primeira aparição pública já totalmente tranformado em Lana Wachowski.

Atualmente, Lana e Andy estão filmando Cloud Atlas, uma ambiciosa produção sci-fi que terá Tom Hanks, Hugo Weaving, Susan Sarandon, Hugh Grant e Jim Sturgess no elenco.

Cinema da Retomada

Existiu uma época, até meados da década de 80, em que o público realmente gostava de assistir a filmes nacionais e não falava: "Eu não gosto de filme nacional!", como já ouvimos muito, e como se filme nacional fosse um gênero sem diversidade. Alguns relatórios da ANCINE demonstram que, de 1971 a 1981, ao menos 18 filmes alcançaram a marca dos 500 mil espectadores, em todos os anos da década, número que nunca recuperamos.

O que aconteceu foi que a lenta abertura democrática do país, na década de 80, após anos de ditadura, fez com que a produção cinematográfica no Brasil perdesse suas forças, chegando à total decadência na época do governo Collor (1990 a 1992), quando o então presidente decidiu extinguir as leis de incentivo à cultura vigentes e orgãos públicos, como a Embracine e a Concine. Não é necessário dizer que a falta do investimento público fez a produção nacional despencar, rendendo menos de 30 filmes de 1990 a 1995.

Com a renúncia do presidente, seu substituto, Itamar Franco, promulgou a Lei do Audiovisual, e seus sucessores continuaram com as políticas de fomento à indústria audiovisual. Mas é durante o período de governo FHC que teve início o chamado Cinema da Retomada, que tem esse nome por motivos óbvios.

Carlota Joaquina, de Carla Camurati, lançado em 1995, é tido como ponto de partida da Retomada - apesar de o filme não ter sido beneficiado por nenhum tipo de lei de incentivo - e no mesmo ano foi lançado O Quatrilho, de Fábio Barreto, que nos rendeu uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, após o Brasil passar uma década desaparecido da cerimônia (a última vez havia sido com O Beijo da Mulher-Aranha, que foi co-produção). Carlota e O Quatrilho levaram mais de 1 milhão de pessoas ao cinema naquele ano.

Desde então, os números do cinema nacional continuam crescendo - embora ainda tímidos, comparados à década de 70. De 1995 a 2001, foram produzidos mais de 160 filmes, e em 2010, sozinho, foram mais de 120, com 75 deles chegando a ser exibidos em salas de cinema comerciais. Começamos a bater recordes novamente, com 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira, sendo o filme mais assistido do ano no Brasil, em 2005. Esse feito foi alcançado novamente em 2010 por Tropa de Elite 2, de José Padilha, filme que alcançou um recorde ainda maior: o filme nacional mais assistido de todos os tempos, levando 11 milhões de pessoas aos cinemas.

Na próxima edição da coluna Que Cinema é Esse?, discutiremos um pouco mais o processo histórico do Cinema da Retomada e seus desdobramentos. Não percam, em breve! Afinal, não podemos negar que a Retomada causou uma transformação e tanto na história do cinema nacional. Você pode reclamar do conteúdo, reclamar que ainda levamos muito menos pessoas ao cinema para assistir a filme nacional do que norte-americano... Mas não se esqueça que a frase: "Eu não gosto de filme nacional!" é cada vez menos ouvida, e que os filmes nacionais estão cada vez mais ocupando mais salas. E para essa transformação continuar revolucionando o cinema, também depende de você.

Sobre o autor:

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