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BONEQUINHA DE LUXO Cinemateca

Moon river, wider than a mile
I'm crossing you in style some day
Oh, dream maker, you heart breaker
Wherever you're going, I'm going your way

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“Você sempre pode dizer que tipo de pessoa um homem é, pelos brincos que ele lhe dá.”

No livro Breakfast at Tiffany's, de Truman Capote, Holly Golightly é uma prostituta bissexual, que fuma maconha e fala palavrão. No filme, ela é Audrey Hepburn! A adaptação da obra de Capote pode não ter sido a mais fiel possível, mas se tornou um imenso ícone. A imagem de Hepburn com seu coque, tiara, luvas pretas e cigarro na mão se tornou mítica. Ela atravessa gerações, culturas e é hoje um dos símbolos mais queridos do cinema. Nem precisamos assistir ao filme para conhecermos Holly. Ela existe por si só, ela estampa camisas, ela ilustra cartazes, canecas, sites de cinema. No entanto, é preciso ver o filme para amá-la de verdade. Bonequinha de Luxo (1961) é uma comédia romântica clássica, e “clássica” não quer dizer velha (raramente quer). O filme de Blake Edwards é clássico porque define o melhor do seu gênero.

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Paul: “Eu te amo”. Holly: “E daí?”

Bonequinha de Luxo poderia ter sido um filme completamente diferente. A princípio, ele seria estrelado por outro mito, Marilyn Monroe, e dirigido por John Frankenheimer. Monroe desistiu de estrelá-lo a conselho de Lee Strasberg e Frankenheimer foi tirado do projeto a pedido de Hepburn, já que ela nunca tinha ouvido falar no diretor. Capote era totalmente a favor da escalação de Marilyn para o papel e, ao que tudo indica, ele ficou bastante frustrado com a substituição. Reza a lenda que quando o escritor estava nos sets de filmagem, Hepburn se sentia bastante desconfortável e insegura. A atriz chegou a declarar posteriormente que foi mal escalada e que era inadequada para o papel. Paradoxalmente, Holly é a personagem mais célebre da atriz e um dos mais populares. Na época, Hepburn, que é belga de nascimento, foi a segunda atriz mais bem paga de Hollywood, só perdendo para Elizabeth Taylor.

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“Se eu pudesse encontrar algum lugar na vida real que me fizesse sentir como na Tyffany’s, então eu compraria alguns móveis e daria nome ao gato.”

Em Bonequinha de Luxo, Holly é uma jovem sonhadora, excêntrica e extrovertida. Fascinada pelo luxo e sem recursos, ela sonha em realizar um rico casamento. Na vida da moça, não falta badalação e festas, mas ela só encontra o amor quando Paul Varjac (George Peppard) se muda para o seu prédio. O bonitão, que é sustentado por sua amante, uma mulher mais velha (Patricia Neal), se fascina pela nova vizinha e pelo confuso estilo de vida da moça. Alguns dos aspectos menos palatáveis (para o público da época) da obra de Capote foram cortados na adaptação, como o fato de Holly ter realizado um aborto e também sua bissexualidade. Certamente, a personagem também foi moldada para atender à persona de Audrey Hepburn.

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“We're after that same rainbow's end, waiting, round the bend
My Huckleberry Friend, Moon River, and me.”

A comédia romântica foi um sucesso de público e de crítica, tendo sido indicada a cinco Oscars (incluindo Melhor Atriz) e levado dois (de Melhor Canção para Moon River e de Melhor Trilha Sonora). Um detalhe curioso do longa-metragem, no entanto, causou polêmica. Duras críticas e protestos foram feitos à bizarra escalação de Mickey Rooney para viver Mr. Yunioshi. O ator teve que usar uma maquiagem pesada para chegar a uma aproximação de um japonês. A representação esterotipada do personagem asiático, utilizado apenas para alívio cômico e vivido por um ator branco, não agradou em nada à comunidade asiática e incomodou muita gente. Os produtores Richard Shepherd e Blake Edwards chegaram a afirmar posteriormente que se arrependeram da escalação de Rooney. Felizmente, a presença do personagem em cena não é grande o suficiente para “estragar” o filme. 

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“Uma garota não pode ler uma coisa dessas sem batom!”

Uma das cenas mais lembradas de Bonequinha de Luxo é aquela em que Audrey Hepburn canta "Moon River" sentada na janela de seu apartamento. No entanto, essa cena quase foi cortada. Um dos executivos do estúdio Paramount teria pedido a supressão da música. Há rumores de que Hepburn teria dito: “Só por cima do meu cadáver!” A canção, de Henry Mancini e Johnny Mercer, foi criada especialmente para a atriz. Como ela não não tinha treinamento como cantora, a música, cantada em uma só oitava, foi criada para favorecer a atriz. Mesmo não sendo cantora profissional, Hepburn se sai muitíssimo bem. Henri Mancini, famoso por ser o criador do tema da Pantera Cor-de-Rosa, afirmou ter criado a melodia de "Moon River" em apenas meia hora. O compositor chegou a afirmar que, mesmo a canção tendo sido regravada por inúmeros grandes cantores, a versão de Hepburn é imbatível. No premiadíssimo musical Minha Bela Dama (1964), a atriz também canta, mas é dublada por Marni Nixon. 

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“Leva-se exatamente quatro segundos para ir daqui àquela porta. Te darei dois.”

Blake Edwards se consagrou fazendo comédias e é geralmente apontado como um dos grandes gênios do gênero. É dele a série da Pantera Cor-de-Rosa e filmes como Um Convidado Bem Trapalhão (1968) e Victor ou Victoria (1982). Edwards e o roteirista George Axelrod se apropriaram do drama nada palátável de Capote e o transformaram em dos filmes mais românticos da Hollywood clássica, cheio de humor e não isento de drama e pathos. Ainda que ajustada aos moldes de uma “bonequinha”, Holly continua sendo uma garota problemática e fascinante. Edwards e Axelrold transformaram a história de amor entre uma caçadora de fortunas desajustada e um gigolô em um conto de fadas ambientado em Manhattan.

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“Nós somos iguais, eu e o gato. Um casal de pobres coitados sem nome.”

Ainda que uma versão menos otimista e mais fiel ao livro de Capote seja bem-vinda, não se pode negar que o clássico de 1962 é encantador. Muito do charme do filme vem do carisma de Audrey Hepburn, que cria uma heróina vibrante e inesquecível. Dificilmente Bonequinha de Luxo será citado nas famigeradas listas dos melhores filmes de todos os tempos, mas ele continua entre os favoritos de muitos cinéfilos apaixonados, tendo fãs que atravessam gerações. Provavelmente, mesmo o mais cínico espectador não resistirá à cena em que o gatinho de Holly (vivido por nove “atores” diferentes) é colocado na chuva. E talvez esse mesmo espectador até suspire ao ver o antológico beijo final. 

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“Não quero colocá-la em uma jaula. Eu quero amá-la.”

Copyright Cinema em Cena 2012LEONARDO ALEXANDER é crítico de cinema, criador e mantenedor do blog Clube do Filme, estudioso de Literatura e Cinema na Université Paris Diderot (França) e apaixonado pelo cinema clássico hollywoodiano. Na coluna Cinemateca, ele analisa obras, diretores e gêneros, além de dar curiosidades e informações sobre os grandes clássicos do cinema mundial.

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