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O Que Terá Acontecido a Baby Jane? Cinemateca

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Inimigas na vida real, Bette Davis e Joan Crawford estrelam O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

Nesta edição da Cinemateca, falaremos sobre mais um clássico que, a exemplo de Sob o Domínio do Mal e O Milagre de Anne Sullivan, completa 50 anos em 2012. Trata-se de O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?, 1962), thriller psicológico com toques de terror cujo imenso sucesso contribuiu para a criação de um subgênero muito popular nos anos 60. O “psycho-biddy”, expressão pela qual tal subgênero do terror ficou conhecido, se caracterizava por retratar mulheres mais velhas atravessando surtos psicóticos ou em perigo iminente, sob a ameaça de algum mal. O fênomeno do “psycho-biddy” se deve bastante ao desejo e à necessidade de grandes atrizes de continuar a trabalhar após uma certa idade. Tais atrizes que brilharam no auge de suas carreiras como mocinhas não tinham a mesma facilidade de encontrar bons papéis depois dos 40, algo que ocorre ainda hoje. Grandes estrelas da Era de Ouro de Hollywood tiveram, em tais filmes de suspense/terror, seus derradeiros papéis de protagonistas. 

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Joan Crawford tinha 57 anos e Bette Davis 54 na época do lançamento do filme.

O Que Terá Acontecido a Baby Jane? lançou moda e fez escola. A ele se seguiram obras como Com a Maldade na Alma (1964), Almas Mortas (1964), A Dama Enjaulada (1964), Fanatismo Macabro (1965), Nas Garras Do Ódio (1965), Espetáculo de Sangue (1967), A Mansão dos Desaparecidos (1969) e Obsessão Sinistra (1971). A febre do “psycho-biddy” explica por que tais filmes de títulos sugestivos foram estrelados por grandes damas do cinema hollywoodiano, como Tallulah Bankhead, Olivia de Havilland, Shelley Winters, Bette Davis e Joan Crawford. As duas últimas, protagonistas de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, tiveram suas carreiras revitalizadas justamente após o clássico de 1962. O sucesso do filme renovou o interesse do público por ambas as atrizes que outrora foram as maiores estrelas de Hollywood. A partir de então, Davis e Crawford se tornaran rainhas do terror/suspense e apareceram em diversos filmes desse gênero.

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Bette Davis recebeu sua décima e última indicação ao Oscar por O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

Produzido e dirigido por Robert Aldrich e baseado no romance de mesmo nome de Henry Farrell, O Que Terá Acontecido a Baby Jane? tem como um de seus maiores trunfos o fato de conseguir realizar o que parecia inimaginável até então: reunir num mesmo set de filmagem duas inimigas mortais e assumidas, Bette Davis e Joan Crawford. A rivalidade entre as duas atrizes é a mais célebre do cinema clássico. O fato de representarem no longa-metragem personagens que se odeiam não poderia deixar de atrair ainda mais a atenção e a curiosidade do público e da mídia. O sucesso de crítica e de bilheteria do filme fez com que Aldrich propusesse a escalação das duas atrizes para um novo projeto. Davis e Crawford seriam primas em Com a Maldade na Alma (1964), filme também baseado numa obra de Henry Farrell. No entanto, o diretor não conseguiu repetir a proeza de 1962. A versão oficial diz que Joan Crawford teve que abandonar o projeto por conta de prolemas de saúde. Entretanto, existem boatos de que Davis teria conseguido o afastamento da rival, que foi posteriormente substituída por Olivia de Havilland, amiga de Davis. O filme de 1964 também foi um grande sucesso, tendo sido indicado a sete Oscars.

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A bela fotografia de Ernest Haller é um dos pontos fortes do clássico.

Competitivas, vaidosas, talentosas e temperamentais, Davis e Crawford provavelmente tinham muito mais em comum do que gostariam de admitir. Crawford, três anos mais velha que a colega, iniciou a carreira em 1925, ainda no cinema mudo. Davis estreou nas telonas seis anos mais tarde. No currículo, ambas têm diversos trabalhos consagrados. Crawford brilhou em Grande Hotel (1932), Almas em Suplício (1945), Precipícios D’Alma (1952) e Johnny Guitar (1954). Davis está soberba em Escravos do Desejo (1934), Jezebel (1938), Pérfida (1941) e A Malvada (1950), para citar apenas alguns títulos. Davis foi indicada dez vezes ao Oscar, tendo levado a estatueta em duas ocasiões. Crawford foi indicada três vezes, tendo sido premiada uma vez. As vidas pessoal e profissional das duas atrizes foram marcadas por sucessos, tropeços e escândalos. Uma coincidência impressiona: as filhas das duas escreveram livros nada lisongeiros sobre suas respectivas mães, retratando a crueldade das mesmas e as dificuldades de relacionamento em casa. O livro de Christina Crawford, Mamãezinha Querida, foi transposto para o cinema em 1981, com Faye Dunaway no papel de Crawford.

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Blanche (Joan Crawford) descobrindo o prato especial preparado por Jane (Davis).

Em O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, Bette Davis é Baby Jane Hudson, antiga estrela mirim de vaudeville que, ao crescer, tem que lidar com o declínio de sua carreira e o consequente ostracismo. Joan Crawford, por sua vez, dá vida a Blanche Hudson. Blanche, ao contrário da irmã Jane, era um patinho feio quando criança e sofria com o menosprezo da mãe e da irmã famosa. Depois de crescida, a moça deu a volta por cima e se tornou uma estrela de Hollywood. Após um misterioso acidente de carro, Blanche fica paralítica e se afasta do show business, permanecendo sob os “cuidados” de Jane, cada vez mais desequilibrada. Normalmente apontado como o melhor “psycho-biddy” já realizado, O Que Terá Acontecido a Baby Jane? contém um série de momentos memoráveis e, por vezes, grotescos e assustadores, como a cena em que Jane serve um prato “pra lá de especial” para a irmã inválida, outra em que Blanche sai da cadeira de rodas para tentar pedir socorro e mesmo o impactante final à beira-mar. Por fim, o que dizer da inesquecível e bizarra cena em que Bette Davis canta I've Written a Letter to Daddy”? (assista ao vídeo)

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As duas versões de Baby Jane, interpretadas por Julie Allred e Bette Davis.

Várias histórias giram em torno dos bastidores do filme. Dizem, por exemplo, que Bette Davis pediu para que fosse instalada uma máquina de Coca-Cola no set, para provocar Crawford que fazia, na época, parte do conselho de diretores da concorrente Pepsi. Outra anedota, talvez um pouco fantasiosa, diz que durante uma das cenas de violência, Davis chuta Crawford na cabeça, o que  resultou em um ferimento que necessitou de pontos. Em retaliação, Crawford teria colocado pesos em seus bolsos para dificultar a vida de Davis na cena que esta fosse arrastá-la pelo chão.

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Bette Davis canta e dança em O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

Bette Davis foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo seu trabalho em O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, enquanto Joan Crawford foi esnobada pela premiação. Obviamente, Crawford não ficou nada feliz com isso, ainda mais porque Davis tinha a chance de se tornar a atriz mais premiada da história do Oscar naquele ano. Crawford, então, contatou as outras indicadas na categoria, se oferecendo para receber a estueta caso elas não pudessem comparecer à cerimônia. Efetivamente, Anne Bancroft não pôde estar presente na premiação e acabou se sagrando vitoriosa por O Milagre de Anne Sullivan. Como combinado, Crawford foi receber o Oscar no lugar de Bancroft e reza a lenda que ela fez questão de passar por Davis e dizer: “Com licença, eu tenho um Oscar para receber.”

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A maquiagem extremamente carregada é uma das marcas da caracterização de Davis.

Apesar de não figurar no panteão dos grandes diretores, pelo menos para o grande público, Robert Aldrich teve uma carreira bastante interessante, tendo se revelado particularmente habilidoso e versátil no cinema de gênero. Em seu currículo, encontramos o western, com Vera Cruz (1954); o filme noir, com A Morte num Beijo (Kiss Me Deadly, 1955); o filme de guerra, com Os Doze Condenados (1967); a comédia de ação, com Golpe Baixo (1974); e o filme policial com Crime e Paixão (Hustle, 1975). O Que Terá Acontecido a Baby Jane? é um dos filmes mais conhecidos da filmografia de Aldrich. Nele, o cineasta combina o assustador, o grotesco, o humor negro, o melodrama e o suspense de forma magistral, realçando o pathos e a violência presentes na relação tortuosa de duas irmãs, alimentada pela inveja, pela dependência e pela mágoa. 

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A cena final é uma das mais emocionantes do filme.

O Que Terá Acontecido a Baby Jane? é um espetáculo inusitado, onde brilham Bette Davis com sua performance deliciosamente caricatural e Joan Crawford surpreendentemente comedida e sensível. O clássico de 1962 é considerado o último grande trabalho de Joan Crawford, que veio a falecer em 1977. Os últimos anos de sua carreira foram marcadas por bombas. Bette Davis viveu bem mais tempo e realizou pelo menos mais um belo filme, As Baleias de Agosto (1987). O Que Terá Acontecido a Baby Jane? nos oferece a oportunidade de assistir a dois dos maiores ícones do cinema clássico se degladiando em cena. Mas o filme não se resume a isso, sendo capaz de causar impacto e estranhamento ainda hoje. O filme foi indicado a cinco Oscars (Melhor Atriz – Bette Davis, Melhor Ator Coadjuvante – Victor Buono, Melhor Fotografia e Melhor Som), tendo levado o prêmio de Melhor Figurino (Preto e Branco).

LEIA TAMBÉM: O QUE ACONTECEU COM BABY JANE? será refilmado

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