É bastante comum um ator promissor fazer algumas escolhas erradas e acabar caindo no ostracismo. Mas um ator estabelecido, que trabalhou com grandes diretores como Spike Lee, Ron Shelton, Abel Ferrara, Mike Figgis e Guillermo del Toro, e ainda chegou a ser premiado no Festival de Veneza, simplesmente perder os holofotes? Parece estranho, não? Mas foi o que aconteceu com Wesley Snipes - e por uma assustadora razão.
Nascido Wesley Trent Snipes em 31 de julho de 1962, em Orlando, no estado norte-americano da Florida, o ator foi criado no bairro do Bronx, na cidade de Nova York. Desde cedo, ele tomou gosto pelo teatro e atuação, especialmente ao estudar na famosa High School for the Performing Arts, mas viu seu sonho ser interrompido quando sua mãe decidiu voltar para sua cidade natal. Pouco depois de terminar o colegial, Snipes conseguiu um agente que lhe rendeu um papel em um filme esquecido, Uma Gatinha Boa de Bola, que tinha Goldie Hawn como a treinadora de um time colegial de futebol americano. O filme teve boa bilheteria, especialmente considerando os baixos custos de produção.
Depois de algumas outras produções menores e participações em séries de TV como Miami Vice, sua grande oportunidade veio no sucesso surpresa Um Time Muito Louco, onde interpretou o lançador Willie Mays Hays. Na continuação, Snipes foi substituído por Omar Epps. Já teria sido por causa de seu gênio difícil? Ou simples problemas de agenda? De qualquer forma, o ator então passou a trabalhar com boa parte dos grandes diretores já mencionados. Sempre interessado por boxe e artes marciais, acabou tornando-se herói de filmes de ação com Passageiro 57 e alternando personagens sérios como o de Por Uma Noite Apenas com uma sequência de papéis que exploravam o lado físico, como em O Demolidor, Zona Mortal, Assalto Sobre Trilhos, Estranha Obsessão, Crime na Casa Branca e U.S. Marshals.
Mas sua grande impulsão rumo ao estrelato veio com seu papel mais marcante. Com o sucesso de Homens de Preto, a New Line seguiu o exemplo da Columbia Pictures e apostou em um esquecido personagem das histórias em quadrinhos para criar uma franquia onde não teria que se preocupar com a reclamação dos fãs: Blade - O Caçador de Vampiros. O filme fez sucesso e agradou ao público, além de dar a oportunidade a Snipes de trabalhar com o roteirista David S. Goyer em sua estreia na direção com Conduta Ilegal. Os dois também trabalharam juntos em Blade 2 sob a direção de Guillermo del Toro. Foi com Blade: Trinity que as coisas começaram a desandar. Snipes, que já era conhecido por ter um temperamento explosivo, não aprovava Goyer como diretor do terceiro filme do "daywalker". Os dois se desentenderam diversas vezes durante as filmagens e boatos rolam que a própria equipe teve que interferir para que não houvesse agressões físicas. O ator inclusive processou a New Line, já que pelo seu contrato ele tinha direito de aprovar ou vetar um diretor, o que não foi cumprido.
Blade: Trinity foi um fracasso, encerrando a franquia e também as chances de um filme spin-off com os Nightstalkers, os personagens vividos por Ryan Reynolds e Jessica Biel. Inclusive, seria este um dos motivos das brigas entre Goyer e Snipes, que reclamava que seus coadjuvantes estavam ganhando atenção demais e que o próprio Blade estava sendo desmerecido. Após tais incidentes, o ator se envolveu em diversos projetos de baixo orçamento e produções diretamente para o home video e TV. Especialmente porque, dois anos mais tarde, ele receberia o maior golpe de sua carreira.
Em 2006, Wesley Snipes foi indiciado pelo governo americano por sonegação e impostos (e ao contrário do Brasil, lá isso é levado muito a sério). O ator foi condenado a pagar US$ 20 milhões em impostos devidos. No dia em que foi dada a sentença, ele pagou US$ 5 milhões e aguardou em liberdade o recurso dos advogados. Mas não teve jeito. A resposta para a pergunta "E aí, Wesley Snipes, Cadê Você?" é simples: na prisão.
Em 2010, Snipes começou a cumprir uma sentença de três anos na McKean Federal Correctional Institucion, uma prisão de segurança mínima que, comparada às prisões brasileiras e às penitenciárias de segurança máxima americanas, é um verdadeiro clube de campo. De acordo com o site Popeater, nesta prisão que não possui muros, os "300 prisioneiros não violentos vivem em barracões com quartos para duas pessoas, banhos diários e sessões duplas de filme de sexta a domingo, apesar de não serem permitidos filmes classificados acima de R (menores de 17 anos podem ver apenas acompanhados dos pais), o que exclui a maior parte do repertório de Snipes". Tarefas incluem ajudar na cozinha, lavanderia e outros serviços. Atividades físicas incluem voleibol, basquete e alguns equipamentos de musculação.
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