O que acontece quando um ator ganha um papel que promete marcá-lo para toda a vida? Alguns tornam-se lendas como Harrison Ford, dono de não apenas um, mas quatro ícones do cinema: Indiana Jones, Han Solo, Rick Deckard e Jack Ryan (Ford não foi o único a interpretar Ryan, mas foi o único a fazê-lo em mais de um filme). Já Christopher Reeve nunca conseguiu se desvencilhar do manto de Superman. E, infelizmente, este também parece ser o destino de Peter Weller, que será eternamente o RoboCop de Paul Verhoeven.
Peter Frederick Weller nasceu em Stevens Point, no estado de Wisconsin. Como seu pai era militar, antes mesmo da adolescência ele já havia morado em diversas cidades mundo afora. Um amante de jazz convicto, Weller ingressou na University of North Texas na esperança de que tocaria trompete em uma das bandas da universidade. Ao se formar como bacharel em Teatro e conseguir uma bolsa para a American Academy of Dramatic Arts, o ator mudou-se para Nova York onde dedicou-se especialmente aos palcos.
Sua estreia no cinema foi em Butch and Sundance: The Early Days, que mostrava os cowboys imortalizados por Paul Newman e Robert Redford quando eram ainda mais jovens, dessa vez interpretados por William Katt, famoso pela série O Super-Herói Americano, e Tom Berenger, que tornou-se astro nos anos 80 com participações em O Reencontro, Platoon, Perigo na Noite, Atirando para Matar, e que merecia espaço nesta coluna até aparecer em A Origem, do diretor Christopher Nolan.
Após trabalhar com grandes diretores como Sidney Lumet e Alan Parker, Weller finalmente encontrou o papel que o tornaria reconhecido entre os cinéfilos. Não, ainda não estamos falando do policial do futuro, mas de Buckaroo Banzai, a comédia de fição científica de W. D. Richter que foi um grande fracasso em seu lançamento nos cinemas, mas que conquistou os corações de uma nova geração de fãs.
Após algumas produções menores, aí sim, Weller ganhou o papel de RoboCop após vencer atores como Arnold Schwarzenegger, Michael Ironside e Tom Berenger. Quando os produtores temiam que colocar um homem forte e imponente dentro de uma armadura o deixaria grande demais e se tornaria ridículo, o magro ator, dono de uma voz quase robótica e penetrantes olhos azuis, ficou com o papel. Mas esse era apenas o início de seus problemas. A roupa, construída pelo mago de efeitos especiais Rob Bottin, era pesada e extremamente quente, além de limitar demais os movimentos do ator que teve que recomeçar do zero os movimentos do RoboCop com a ajuda de Moni Yakim. Após muitas reclamações durante os primeiros dias de filmagem e quase ser substituído por Lance Henriksen (que só recusou o papel por problemas de agenda), foi instalado um sistema de ventilação na roupa para que Weller ficasse mais confortável.
Talvez a difícil experiência tenha afastado o ator de grandes produções, e ele fez pequenos (e pouco rentáveis) filmes como Leviathan antes de voltar ao papel de Alex Murphy em RoboCop 2, dessa vez sob o comando de Irvin Kershner, diretor de Star Wars - Episódio V: O Império Contra Ataca. O filme também foi um grande sucesso, mesmo debaixo de duras críticas de que o longa perdera a alma e o tom politizado do diretor Paul Verhoeven, e se tornara apenas um action movie of the week.
Weller começou a ser mais respeitado e a fazer papéis menores com diretores de prestígio. Mesmo contrariado, o ator disse que teria voltado para reprisar o papel que o tornou famoso em RoboCop 3, mas que as filmagens entrariam em conflito com as de Mistérios e Paixões, de David Cronenberg. O papel acabou ficando com Robert Burke e o filme, com roteiro de Frank Miller (que também escreveu RoboCop 2), acabou sendo um grande fracasso e enterrou a franquia (pelo menos nos cinemas, já que ela ainda rendeu uma série de TV e desenhos animados; somente agora, 25 anos depois, o reboot cinematográfico acontece, com direção do brasileiro José Padilha, de Tropa de Elite).
Sempre em produções menores como "clássicos" do cinema de baixo orçamento como Screamers - Assassinos Cibernéticos ou em pequenos papéis em filmes de diretores de prestígio como Woody Allen, Weller continuou trabalhando intensamente durante os últimos anos. Chegou inclusive a encabeçar a divertida série Odissey 5, que foi exibida na TV a cabo brasileira, mas o cancelamento veio logo na primeira temporada, que termina em um cliffhanger do qual, aparententemente, os fãs nunca verão a resolução. Weller também participou das séries 24 Horas, Dexter e House.
Hoje, o ator se dedica a filmes menores como Luta pela Liberdade e Caçados, mas terá uma participação em Star Trek 2, que chegará às salas de cinema no ano que vem. Vale lembrar que Weller fez participações na série Jornada nas Estrelas: Enterprise. Estaria ele reprisando seu papel de John Frederick Paxton? Além disso, ele será a voz de Bruce Wayne na versão animada de Batman: O Cavaleiro das Trevas, atualmente em produção.
Fora das telas, já há alguns anos, Peter Weller é um dedicado professor de Literatura e Artes na prestigiada universidade de Syracuse.
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